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Tenho escrito aqui, desde há muito tempo, que fazer o mal para os outros não é nada salutar. Não é saudável principalmente para os que agem assim movidos pela vingança.
É sabido que pagar o mal, que se recebe, com o próprio mal, seja característica bem humana. Pagar o bem com maldade é típica ação demoníaca; mas pagar a maldade recebida, com ações benéficas é divino.
A frustração pode fazer ebulir tanto ódio numa pessoa que ela simplesmente, perdendo o controle, esquecendo os bons ensinamentos, desandaria a tentar destruir as supostas fontes dos seus sofrimentos, usando meios bastante desumanos.
Perceba que as personalidades formadas com mimos excessivos teriam o limiar da frustração bem baixo, limitadíssimo, (pavio curtíssimo), que proporcionaria reações descabidas, violentas e muito danosas.
Não nos esqueçamos de que tudo o que fazemos aos outros será também feito a nós mesmos. Inclusive aquela maldade financiada em resposta ao suposto mal que nos teriam causado.
Você pode notar meu querido leitor, que ao agir desejando destruir os supostos autores dos seus supostos males, a pessoa estará entrando numa "corrente" negativíssima onde se devolve o mal com maldades piores.
Essas ações podem não ter um fim efêmero, mas perdurar por várias e várias gerações.
Então seria bastante insensato nos mantermos nesta postura destrutiva, ao percebermos que a roda maligna da vingança, poderá estar girando, até mesmo depois de termos partido desta vida.
Para algumas pessoas torna-se dificílimo deixar de sentir a ira quando algo as faz recordar as supostas injustiças recebidas.
De fato, não é nada fácil suportar o que pode ser considerado provocação, sem ter aqueles ímpetos de vingar-se.
Penso que seriam nesses exatos momentos que as ideações devolutivas das maldades, deveriam converter-se em atitudes positivas, abrangentes dos supostos autores das tais façanhas maldosas.
Já disse e repito: não é nada fácil agir assim. Mas sabedores de que Deus nos abre várias outras portas, quando uma nos é fechada, seria bastante propício o momento para, aproveitando a crise, desenvolver novos e lucrativos talentos.
- Tia trouxe para a senhora este corte de flanela. Acho que dá pra fazer uma blusa grande.
Edileuza colocou o pacote, embrulhado com papel cor de rosa, sobre a mesa da copa, sob o olhar da mulher obesa, que vinha da cozinha, enxugando as mãos no avental.
A mulher arrebentou o barbante fino que embalava o embrulho e uma fazenda extensa, de flanela xadrez, vermelha e preta, foi desdobrada entre os braços abertos, presa também contra o corpo, pelo queixo.
Enquanto a velha tia tagarelava, tocada pela novidade, Edileuza recordava as aulas de álgebra do curso de matemática que concluía na capital.
A palavra Al-jabr da qual álgebra foi derivada significa "reunião", "conexão", "complementação" ou ainda a reunião das partes quebradas.
Os mouros levaram a palavra Al-jabr (algebrista) para a Espanha com o significado de restaurador, ou alguém que conserta ossos quebrados.
Os registros das partidas de xadrez eram feitas também com as chamadas anotações algébricas.
- Olha tia, esse é um presente de aniversário que eu trago pro Zezinho, meu primo mais querido. - Justificou Edileuza, completando logo em seguida, com um sorriso irônico:
- Não é lindo?
Alguns dias depois a mãe do Zezinho, querendo presenteá-lo pelos onze anos, que completava naquele três de setembro, fez um casaco longo com seis botões, cujo desenho (sugerido pela Edileuza), lembrava os jalecos usados por professores e médicos.
Caminhando pelas ruas da cidade provinciana, com aquele traje inusitado, Zezinho atraia muitos olhares, e não eram poucos os comentários depreciativos. O ar frio causava-lhe uma dorzinha chata na omoplata do ombro direito. Eram os resquícios da fratura, que o imobilizara por longo tempo, quando ainda era nenê com poucos meses de idade.
Na classe, durante as aulas, ou em casa, quando recebia as notícias de que o primo era caçoado na escola, nos cinemas, ruas e praça em que se apresentava com o tal casaco, Edileuza se lembrava da figura do Satanás, postada atrás da porta do banheiro da mercearia, à qual o seu velho e rancoroso pai, marceneiro na fábrica de botes, acendia velas.
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