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Ronco não é sororoca

por Fernando Zocca, em 30.05.15

 

É certo que o empoderamento das pessoas mais humildes seja necessário para o progresso de um bairro, de uma cidade, do estado e do país.
Entretanto é preciso saber se o tal empoderado se comportará de forma construtiva com os benefícios que lhe foram acrescentados.
Por exemplo: a comunidade pode tirar da rua uma catadora de lixo, favorecendo-lhe o estabelecer-se como prestadora de serviços.
Então, para quem puxava carroça, a nova atividade de manicure e pedicure significa substancial mudança, tanto funcional, quanto financeira na vida da empoderada.
Contudo faz-se necessário observar se nesse seu novo emprego ela age corretamente, conforme os usos, costumes e as regras norteadoras da profissão.
Como as pessoas são conhecidas pelo que fazem e falam, logo todos da comunidade saberão se a promovida tem ou não suficiente treinamento para continuar a fazer o que faz.
Se a manicure - por exemplo - atropela a regra de esterilizar o equipamento usado no ofício, provocando com isso, danos físicos àqueles do seu entorno, então o puxar carroça pelas ruas da cidade pode ser menos doloroso e muito mais útil.
A pessoa precisa, no mínimo, ter a noção do que o que faz é certo ou errado. Se a tal, além de infeccionar os dedos das clientes, achar que a culpa é delas mesmo - das tomadoras dos serviços - então, meu amigo, é preciso seríssima revisão no script da personalidade da figura.
A comunidade empodera alguém para receber de volta algo mais positivo. De que vale empregar tanto tempo e dinheiro num projeto que se mostra inócuo para a sociedade?
Você elege um vereador, mas durante a gestão inteira dele, percebe que o camarada não disse uma única palavra nas sessões; o sujeito não fez discurso nenhum, não participou dos debates, não requereu apartes, não manifestou-se nas questões polêmicas e muito menos esteve presente quando necessário.
De que vale esse mandato? O que ganhou a cidade com as ações do eleito?
Ou seja, a sociedade é mais útil para ele, do que ele, para a sociedade.
Considero o sistema educacional mais eficiente aquele em que, quando um aluno não se dava bem nas provas, deveria refazer o estudo das matérias que não aprendeu.
A reprovação nos exames indicava que o discente não estava apto a seguir adiante. Para exercer qualquer profissão é preciso saber pra que serve isso ou aquilo, distinguir uma coisa de outra, entre ronco e sororoca, por exemplo.

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publicado às 12:44

Com o devido respeito

por Fernando Zocca, em 28.03.14

 

É interessante esse fenômeno de você mesmo aumentar os seus próprios salários para alguém pagar. 

Imagine o meu querido leitor, uma empresa com 30 funcionários que decidam majorar os seus ganhos mensais pagos pelos donos da empresa. 

Se não houver a concordância dos dirigentes do empreendimento, dificilmente a pretensão se realiza.

No caso do aumento dos próprios vencimentos, efetivado pelos senhores vereadores de Piracicaba, a anuência certamente positivou-se, em decorrência da existência de fundos.

Não há dúvida de que o numerário, vindo anualmente lá do executivo e que, por não ter uso é comumente devolvido, nos finais dos anos legislativos, reforçará os ganhos mensais dos nobres senhores representantes dos seus eleitores. 

A sobra do numerário que poderia financiar o transporte público gratuito para a população, ao invés disso, servirá para o engrandecimento pessoal dos eleitos. 

Esse aumento dos próprios salários causou estranheza, em parte do eleitorado, durante a sessão que votou o tal benefício.

Houve protestos veementes vindos da plateia que acompanhava a reunião. No plenário somente um vereador votou contra a proposta de enriquecimento. 

Pessoas mais exaltadas, talvez com maior instabilidade emocional, puseram-se em bate-bocas homéricos, que nenhum proveito trouxeram para o decoro da casa.

Vai longe o tempo em que o cidadão se candidatava por ideal. Ou seja, o sujeito se apresentava para o exercício da legislatura em troca do que não era salário.

O glamour do cargo, o destaque oferecido por ele na sociedade, motivava o cidadão comum a candidatar-se. Nos dias atuais, torna-se cada vez mais torpe a prática do tal papel. 

Parece-nos que a função hoje se tornou muito mal vista, porém suficientemente remunerada. 

Mas, mal vista ou não, gratuita ou remunerada, a atribuição do vereador é a de servir ao povo. E este servir, além das moções e sessões de prestigiamento, é feito de elaborar normas que, em tese, facilitariam a vida do cidadão pagador de impostos.

Bem diferente do que produz - por exemplo - um operário da fábrica de televisores, que num ano é o corresponsável por cinco ou 10 mil aparelhos, ganhando em troca, no máximo R$ 5 mil mensais, um vereador poderá elaborar dois ou três projetos denominadores de bairros ou ruas e receber por isso salários que passam dos R$ 10 mil por mês. 

E perceba meu querido leitor, que a fonte deste dinheiro é o cidadão que paga o IPTU, as taxas de poder de polícia, de iluminação e de ISSQN.

Bom, eu não sei onde está a sensatez popular de aceitar o aumento das suas próprias obrigações em troca de, com o devido respeito, coisa nenhuma.   

 

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publicado às 19:47

Projetos

por Fernando Zocca, em 04.03.14

 

O vereador Ely Chir, também conhecido como "boquinha de chupar ovo", alçou o dedinho indicador da mão direita acima da cabeça e disse com voz aguda, naquela noite de segunda-feira, no plenário da câmara municipal:

- Pela ordem, senhor presidente!

Fuinho Bigodudo, que presidia a sessão, levantou os olhos da maçaroca de papeis que manuseava e, olhando por cima do aro dos óculos, consentiu:

- Pois não vereador boquinha... Digo, doutor Ely Chir. Vossa excelência tem a palavra.

- Senhor presidente... Nobres pares componentes desta honrada casa de leis: gostaria de consignar os meus protestos contra a rejeição do meu projeto de lei que revogava essa tal da gravidade. Todos sabemos que a nossa cidade carece, há muito, das modernidades. Nós já adentramos ao século XXI e, segundo tenho ouvido, pelos lugares por mim frequentados, que a nossa querida urbe não passa mesmo de uma simples e mera província. Em decorrência deste gravame venho propondo a modificação das leis, pois sei que é uma forma de mudarmos a ordem das coisas e com isso trazer, se possível, o progresso para nossa cidade e nossa gente. 

- Um aparte, nobre vereador! - interrompeu Zé Cíliodemorais o mais antigo proprietário do Diário de Tupinambicas das Linhas, também promovido, pelo voto popular, a vereador.

- Pois não, vereador. Tem o aparte - respondeu Ely Chir ajeitando os microfones da sua tribuna.

- Particularmente sou testemunha do seu empenho em trazer a modernidade para a nossa terra. Tenho visto a sua luta incansável em prol dos cachorros e cadelas abandonados nas ruas da nossa cidade. Soubemos que Vossa Excelência cuida também dos gatos e isso nos honra muito. Entretanto considero essa questão da revogação da lei tão antiga como um equívoco. Não sei se isso seria possível. Talvez não seja da nossa competência...

- Questão de ordem senhor presidente! - manifestou-se a vereadora Dina Mitt Pacheco - Senhor presidente, temos informações do nosso departamento jurídico que essa matéria só pode ser legislada pela assembleia estadual. Nós enquanto município, não dispomos da legitimidade para ordenar esse tipo de matéria. 

- Perfeitamente... - concordou o presidente Fuinho Bigodudo - Mas queira prosseguir com a sua manifestação o nobre vereador Ely Chir.

- Muito obrigado, senhor presidente.  Mas como dizia eu... Realmente, creio que essas leis antigas e já ultrapassadas deveriam ser revogadas e erigidas outras em substituição. Com isso, é inegável, que a nossa cidade e o nosso querido povo se inseririam no mundo moderno. 

- Um aparte, nobre vereador! - pediu Billy Rubina erguendo o braço direito.

- Pois não, nobre colega.

- Não creio que seja sensato esse projeto de revogar a lei da gravidade. Entretanto, se é para o bem de nossa cidade e para a melhoria do nosso povo, apesar de o nosso jurídico informar que a competência não seja nossa, vossa excelência tem o meu apoio. 

- Muito obrigado, nobre edil. São com essas atitudes que a nossa casa de leis se engrandece. Mas, conforme eu dizia a rejeição, deste meu projeto, com certeza, resultará na manutenção do atraso da nossa querida terra. Mesmo assim gostaria de agradecer a todos os que nos deram o seu apoio. Muito obrigado senhor presidente.

- Pois não. Passemos agora à discussão do projeto de lei número 01081767 de autoria também do vereador doutor Ely Chir que trata da substituição de todas as subidas da cidade, e da manutenção somente das descidas. Projeto em discussão.

- Pela ordem senhor presidente - levantou-se Charles Brochon o funileiro marreta de ouro, mais importante da cidade.

- Pois não vereador. Com a palavra o professor Charles Brochon - sentenciou o Fuinho, pensando já nos momentos de chateação.

- Senhor presidente, nobres vereadores, vereadoras, senhores eleitores aqui presentes e também os que nos acompanham pela rádio e televisão Tupinambiquense: em que pese a relevante importância deste projeto inusitado do nobre colega Ely Chir temos para conosco que seria de grande desfavor para a nossa cidade a supressão de todas as subidas das ruas da nossa terra. Vejam que se mantivermos somente as descidas, como nossos velhinhos e velhinhas praticarão seus exercícios físicos eficientes tendo como opção somente a moleza das decidas? Percebam que a aprovação deste projeto porá em risco, inclusive, os planos terapêuticos dos nossos ilustres cardiologistas e seus consultórios especializados.

- Questão de ordem, senhor presidente - manifestou-se a vereadora Dina Mitt Pacheco - Não vejo porque a supressão das subidas da cidade comprometeria a terapêutica dos nossos cardiologistas, uma vez que há aparelhos que simulam essa condição geográfica. Entretanto seria bastante equivocada a aprovação deste projeto uma vez que sem subida não haveria também as descidas. Ora, como o nosso executivo manteria somente as descidas se suprimidas forem todas as subidas? Elas são inerentes. Sem uma não há a outra. Não sei se fui bem compreendida. 

- Perfeitamente, nobre vereadora - completou o Fuinho Bigodudo - Como ficariam as nossas enxurradas, não é verdade?  Mas prossiga nobre vereador Charles Brochon.

- Sim, meus queridos pares. Há também a questão dos carrinhos de rolimã. Já imaginaram as nossas crianças sem a possibilidade de praticarem as corridas com os carrinhos de rolimã? Encerro por aqui a minha manifestação. Muito obrigado.

- Com a palavra o autor do projeto, o doutor Ely Chir - disse o Fuinho.

- Senhor presidente, senhoras vereadoras e vereadores aqui presentes, povo que nos acompanha pela rádio e TV desta nossa querida cidade: só tenho a dizer que me sinto insuficiente para, por meio das leis, trazer o progresso a nossa urbe. Procuro formas de proporcionar a inserção da nossa gente no mundo civilizado, mas por mais que eu faça vejo que não consigo. Sem a aprovação percebo que meus esforços tornam-se inúteis para a condução do nosso povo a um mundo melhor. Tenho feito isso tudo, mais em resposta a todos aqueles que dizem que nós vereadores recebemos fortunas mensais para não fazer praticamente nada durante todo o tempo da nossa gestão. Vejo que a rejeição destes meus projetos confirma a tese de que nós fomos eleitos para não fazermos nada. Devemos permanecer silentes e imóveis. Nada do que possamos fazer mudará a situação do nosso povo. Por isso peço que em votação rejeitem esse nosso projeto 01081767. 

- Em votação o projeto de autoria do vereador Ely Chir que suprime todas as subidas da cidade. Sentados rejeitam. Em pé aprovam. Rejeitado o projeto.

Encerrada a sessão, no saguão da câmara municipal, com o semblante cansado, mas feliz, Ely Chir comentava os acontecimentos com Van Grogue que aparecera para cumprimentá-lo:

- A gente fazemos o que podemos, não é verdade?

- É sim, meu amigo. Quem faz o que pode, a mais não é obrigado. Vamos tomar uma gelada no bar do Bafão? - perguntou serenamente Van de Oliveira Grogue. 

 

 

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publicado às 09:35

Um Punhado de Votos

por Fernando Zocca, em 03.01.13

 

 

E prossegue a mesma lenga-lenga politica cansativa na velha cidadezinha interiorana.


O senhor João Manoel dos Santos foi reconduzido à presidência do legislativo, como das outras vezes, demonstrando assim a mentalidade mediana ávara, imperante neste pequeno trecho do globo.


Sem considerar a possibilidade da existência de fraudes nas eleições, pode-se dizer que a população aceita esse tipo de politica medíocre, de grupo primário, que agindo mais por impulso do que pela razão, manda prender a quem ousa discordar das suas determinações.


Para exercer cargos públicos, em que o candidato lida com direitos, deveres e o patrimônio dos cidadãos, é necessário estudar muito desde o grupo primário, passando pelo ginásio, e depois concluindo o curso superior.


Se assim não for, os “foras” vergonhosos, que podem danificar os bens ou até mesmo a moral de terceiros, serão a regra do agir e não a exceção.


Contudo, para exercer as funções de vereador basta ter um punhado de votos autorizadores e lá está o tal semianalfabeto a ditar regras. Ele pode inclusive, mandar prender e arrebentar a todos os que ousam não dizer-lhe amém.


O episódio em que o presidente do legislativo mandou retirar do plenário, à força, o eleitor que recusou a levantar-se diante da leitura da Bíblia é bem característico.


Esse ato de ignorante poderia lesar o patrimônio público em alguns milhares de reais se o ofendido buscasse a reparação dos danos morais no judiciário.


Infelizmente é assim que funciona. Não espere graça alguma aquele que estudou e se preparou muito. O máximo que pode conseguir é, talvez, livrar-se das armadilhas preparadas por esses orelhudos.

 

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publicado às 10:32

O Macaco Silvestre

por Fernando Zocca, em 26.12.11

 

No mafuá da usura, preso em candura, 
estiolado no cipreste, estava o macaco silvestre. 

Mas o que fizeste, pobre mico do agreste? 
Só por tua beleza e negrura, se vê sem soltura? Não te amargura o mal que te investe? 

Pobre macaco silvestre! 
O orgulho negociante que o poder tem nas mãos 
não se compadece. O quê fizeste? 
Malfadado macaco silvestre? 

A luta pelo dinheiro, poder e sexo, desmerece. 
Desanca e não enaltece. Prende e arrebenta até envilece. Pobre de ti macaco silvestre. 

Esqueceste da selva de onde vieste! 
Mas na prisão, em que tudo fenece, pior é a vida e não te apetece. 
Não desejavas contigo macacas silvestres? 

Usura liberta o macaco. Usura apieda-te e não investe. Usura: liberta o macaco silvestre!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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publicado às 11:15

Moraes agride repórter a tapa

por Fernando Zocca, em 29.06.10

O vereador Lourivaldo Rodrigues de Moraes (DEM), conhecido como "Kirrarinha", na manhã de ontem (28/06), nas dependências do Centro Integrado de Segurança e Cidadania,  agrediu a tapa a repórter Márcia Pache.

 

Márcia Pache trabalha na TV Cento Oeste, filiada ao SBT, na cidade de Pontes e Lacerda, situada a 450 quilômetros de Cuiabá, na região Oeste do Estado.

 

A violência aconteceu quando Márcia foi entrevistar Moraes depois dele ter prestado depoimento nos dois inquéritos policiais instaurados contra ele.

 

Num dos inquéritos o vereador é suspeito  de ter obtido uma procuração para receber a aposentadoria de uma idosa analfabeta, de 74 anos, e de não ter devolvido todo o dinheiro.

 

O outro inquérito foi aberto por ter Lourivaldo Moraes incitado a invasão de imóvel em um conjunto habitacional construído com recursos públicos. Segundo consta no inquérito, até as chaves da casa invadida foram encomendadas pelo vereador.

 

As imagens de toda a agressão contra a repórter foram transmitidas pelas duas emissoras de TV daquela cidade.

 

Márcia trabalha há 15 anos com jornalismo no interior de Mato Grosso. Antes de ser contratada pela TV Centro Oeste, atuava em Cáceres, onde se destacou na TV Descalvados.

 

Ela fará, nesta terça-feira, exame de corpo delito. Márcia anunciou que processará o vereador dos Democratas.

 

 

 

Sem acordo, DEM e PSDB tentam definir vice de Serra nesta terça

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publicado às 18:52

O Apagão

por Fernando Zocca, em 12.11.09

 

Daquela reunião com o vereador, no final da tarde, ali no gabinete, resultou o consenso de que Rosalva fundaria uma associação cujos objetivos seriam os de promover a pessoa humana, prestar serviços sociais, filantrópicos e educacionais.
 
Ela então metódica, diligente e atenciosa, sabendo de antemão que poderia contratar outras interessadas, mobilizou sua comunidade e na semana seguinte “abaixou” com mais vinte mulheres na espremida Câmara.
 
O edil assustou-se e não acreditou que Rosalva pudesse ter levado a sério aquela que fora uma simples brincadeira, no final do expediente de uma sexta-feira, de uma semana que tinha sido estressante.

Algumas mulheres, instruídas com antecedência haviam comprado roupas pelo crediário, comprometendo o minguado dinheirinho, e outras chegaram a trancafiar seus filhos menores em casa, a fim de que pudessem exercer a nova função.
 
O representante do povo, naquele momento, sentindo-se premido pela situação encontrou uma saída: todas teriam consolidadas suas perspectivas, desde que se filiassem ao partido e conseguissem, no mínimo, mais cento e dez ou cento e vinte fichas de novos correligionários.
 
Elas todas nervosas, não aceitaram a proposta, e lideradas por Rosalva juraram vingança. Delatariam tais atos canhestros para a sociedade, pelos meios competentes.
 
Agoniado, o edil sofreu um surto de rinite vasomotora. Espirrava seguidamente. Seu narigão escorria e coçava. A obstrução nasal punha-o mais tenso ainda.
 
Jurou aos céus que marcaria uma consulta com o especialista ainda naquela semana.
Rosalva com o rosto túmido, vestindo uma blusa verde, parada na porta, continha com os braços aquela turba afoita, que pedia linchamento.
 
A cor verde evocou nele a figura do pai. Ele fizera parte do movimento Integralista na década de trinta. As mulheres usavam blusas verdes e os homens camisas da mesma cor.
 
 Um turbilhão invadiu-lhe a mente. O calhamaço do projeto de lei que obstruía, com o aumento das exigências legais, o exercício da profissão de taxista, caiu-lhe na cabeça, derrubado pelo vento que invadia o gabinete.
 
Embasbacado, com o queixo caído e babento, foi atingido pelo vórtice que esparramava os papéis na sala.
 
“É o Saci-Pererê”, gritava uma aflita. Na confusão o projeto que concedia aumento para as passagens de ônibus rodopiou e foi parar na calçada.
 
As componentes do grupo, frustradas, dirigiram-se em passeata à rádio local, e depois de longo diálogo com o locutor, acertaram que uma comissão participaria do programa fazendo a denúncia e cobrando providências das autoridades competentes.
 
Convocados pelo telefone, o vereador e seus assessores, preparavam-se para o combate mortal que transcorreria no ar.
 
Mas trêmulos e suando frio, respiraram aliviados, quando no exato momento do início do programa, caiu sobre a cidade o famigerado apagão. A galera vibrou e em estrepitosa gritaria soltou rojões de comemoração.
 
O poder das trevas havia vencido o primeiro round.

Fernando Zocca.

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publicado às 16:19


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