Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Informação e entretenimento. Colabore com a manutenção do Blog doando para a conta 0014675-0 Agência 3008. Caixa Econômica Federal.
Ontem (22/06) precisei ir ao centro da cidade para tratar de um assunto que exigia providências inadiáveis.
Terminada a tarefa passei defronte ao local onde o pessoal da Turma do Sereno costuma se reunir e lá estava sentado, solitário, um conhecido que há muito tempo não via.
Quando me aproximei ele sacou do bolso uma fotografia mostrando-me e perguntando, logo em seguida, se eu sabia quem era.
A foto era um recorte de jornal e eu logo reconheci a pessoa retratada: era a sogra dele.
Então ele começou a falar: “Você se lembra dela? Essa é que era mulher de verdade. Trabalhou que nem uma égua velha aposentando-se em seguida após muito sofrimento.
Depois de deixar o serviço público ela passou a cuidar só da casa, mas os médicos recomendaram que ela se mexesse mais. Ficar sentada a maior parte do dia, mesmo que olhando o movimento da rua, não ajudaria na manutenção da saúde.
Seguindo os conselhos dos doutores ela passou então a frequentar bailes onde dançava por horas, durante dois ou três dias da semana.
Numa ocasião – se não me engano, num sábado – eu e minha mulher, resolvemos dormir na sua casa. Ela tinha ido ao baile e só chegou pela manhã.
Eu acordei logo que a velha entrou e testemunhei quando a sogrinha, se “desmontava”. Primeiro ela tirou a peruca, depois os óculos, os cílios, as lentes de contato, a dentadura, as unhas postiças, os aparelhinhos da surdez e, em seguida, a maquiagem.
Minha mulher já tinha preparado o café da manhã e quando a mãe sentou-se à mesa estava irreconhecível. Era uma outra pessoa, outra personagem.
Eu não me espantei quando ela segredou que depois de ter tirado a vesícula biliar, os ovários, a tireoide, e o rim direito, se preparava para uma lipoaspiração.
– É meu filho, depois dos 100 anos a gente vai tirando um pouquinho aqui, um pouquinho ali e vai vivendo, não é? – disse a sogra sorvendo o café quente de uma xícara grande.
Sem tecer considerações sobre a justeza da aposentadoria da mãe da minha mulher, que por ser funcionária, durante todo o tempo em que estivera na ativa, não tivera nenhum centavo descontado dos seus vencimentos, achei melhor abocanhar a bolacha que se me apresentava assim, na boa, sem muitas complicações”.
Imagina se eu me esqueceria de pessoa tão bondosa como a sogra deste meu conhecido. Isso seria mais absurdo do que não reconhecer, pelas cores, tato e sabor uma bela e grandiosa melancia.
Já lhes falei, noutra ocasião, sobre os dias que se sucedem rapidamente e que quando nos apercebemos pronto, já era: o tempo passou assim, num instante. Em um piscar de olhos nos observamos com as mesmas características dos vovôs, que encantaram a nossa infância.
Pois o que me inspirou a lhes falar sobre isso foi um passeio que fiz, outro dia, aos locais onde vivi a meninice. Não posso lhes garantir tivesse sido eu um cara assim tão feliz.
Mas também não afirmo que fui um sujeito obtentor só de maus êxitos. Não, minha infância não foi diversa da de muita gente, que nasceu e que ainda vive no interior.
O que resta, muita vez, é o arrependimento pelo tempo perdido nos auês, nas quizumbas e nas incompreensões. Elas poderiam ter sido trocadas por períodos de maior alegria e conforto.
Mas enfim, o importante mesmo é que chegamos, graças a Deus, a momentos em que, ao observarmos de longe, as atitudes belicosas, nos damos conta do quanto um dia se arrependerão, os beligerantes.
“Paz e amor” pediam todos os desejosos de mundos melhores, de vizinhanças amistosas. “Faça amor, não faça a guerra”, preconizava outro refrão apaziguador.
Sim, meu amigo, mas nem tudo é possível. Enquanto os milagres esboçam-se nas proximidades, não deixamos de relembrar os velhos tempos que não voltam mais.
Feliz de quem teve infância, que pôde correr pelas ruas, brincar de “pega-ladrão”, jogar bola, nadar no rio Piracicaba, pular do trampolim que havia por lá, e nadar às escondidas na piscina do colégio Piracicabano.
Foram felizes os caras da turma que, nos cruzamentos em que paravam os caminhões, carregados com cana de açúcar, puderam apoderar-se de muitas delas degustando-as em seguida.
Você já viu alguém descascando cana nos dentes? Pois nós fazíamos isso. Hoje em dia a história é bem diversa.
Foi muito feliz quem teve infância, quem pôde brincar.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.