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Esmeralda? Que Esmeralda?

por Fernando Zocca, em 20.10.09

 

           Quem seria a Esmeralda sempre aludida por Jô Soares no encerramento dos seus programas?
 
            No fechamento da última edição, levada ao ar na madrugada deste 20 de outubro, o apresentador disse ter “adorado a sua bermuda” e que seria ela “transparente”.
 
            Além de Estância no Estado de Minas Gerais, esmeralda é uma pedra semi-preciosa, que teve importância relevante durante os primeiros anos do desbravamento do Brasil. Os Bandeirantes Domingos Jorge Velho, Fernão Dias Paes, Manuel Borba Gato e Jerônimo Leitão vasculhavam o interior do atual Estado de São Paulo, justamente atrás desse tipo de riqueza.
 
            Algumas crônicas da época citariam o fato deles reunirem-se, com seus liderados, na cozinha das habitações em que se preparavam para as longas expedições de busca dos tesouros a serem descobertos?
 
            Quais penas daquele tempo narrariam que durante os preparativos das Bandeiras, eles se alimentariam com pães adormecidos, postos a secar no forno, depois comidos com o café forte, feito na hora?
 
            Além dessas relevâncias todas o que diriam os nossos Bandeirantes Antonio Pedroso, Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera ou "Diabo Velho", sobre o escritor português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura, que garantiu numa entrevista publicada em 18/10/09 no jornal lisboeta Público,  ser a Bíblia “um manual de maus costumes”?
 
            Teria mais do que a ira quem sempre fez a mira, principalmente nas crianças?  E os atuais provectos seresteiros, hábeis também na execução das chamadas “modas de viola”, chorinhos e rock and roll, interpretados nos cenários com barcos verdes ou periquitos estridulantes, mandados judiciais, além das antigas alusões às canções da Carmem Miranda, feitas nas calçadas, quem diriam ser a Esmeralda do Jô Soares?
 
            E o dito pintor afamado, conhecedor do Vincent Willem van Gogh, seria mesmo tão adamado?
 
 
           
           
           
           
           
              

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publicado às 14:22

O gole generoso

por Fernando Zocca, em 09.10.09

 

           Mariel Ardeu Demorais na tarde de quinta-feira, entrou já bastante cansado, no bar do Bafão pra comprar o seu costumeiro maço de cigarros. Assim que o recebeu leu a tarja “CIGARRO PROVOCA IMPOTÊNCIA SEXUAL”. No mesmo instante devolveu-o perguntando:
          - Você não pode trocar este por aquele que PROVOCA SÓ CÂNCER?
         Bafão considerou as altas taxas de pinga contidas naquele corpo, evidenciadas pelo olhar zonzo, rosto afogueado e pés inchados, como as motivadoras dos disparates. Mas mesmo assim respondeu:
           - Já está mais do que na hora de você encomendar o espírito. O corpo já foi. É ou não é, Mariel?
           - Ah, deixa disso, mano! Trabalho o dia inteiro naquela oficina e quando vou refrescar a goela tenho que ouvir essas loucuras? Ora, faça-me o favor. Ocê sabe que se eu só fumasse corria o risco de ficar doente. Mas não. Ocê não vê que eu gosto de tomar muita cerveja? É isso que me livra a cara.
           - Hum... Tá bom. Vai querer pinga antes da cerveja? – no mesmo instante em que falava Bafão asseava o tampo do balcão com uma toalha branca.
           - Bota o de costume.
         Bafão percebeu que Mariel estava irritado. Talvez o serviço na oficina não estivesse muito agradável. As cobranças eram constantes e o esperado retorno financeiro não se mostrava à altura de produzir a satisfação plena.
         - Você não ficou sabendo o que aconteceu com o Van Grogue? – perguntou Bafão, ao servir o freguês com a pinga.
         - Faz tempo que não vejo o Grogue. Por onde anda aquela desgraça?
         Bafão tirou da geladeira uma garrafa geladíssima de cerveja, abriu-a a vista do consumidor e ao ajeitar um copo limpo ao lado da vasilha, continuou:
         - Van Grogue esteve trabalhando como colocador de carpetes. Foi por isso que não apareceu mais por estas bandas. Dizem que está ganhando muito dinheiro.
         - Ele esteve lá na oficina, no mês passado. Reclamou do barulho, mas depois foi embora. A turma diz que ele voltou a beber. Será verdade?
          Bafão respondeu:
         - Olha, que eu saiba, o Grogue nunca parou de beber. Foi o pessoal que deixou de ver ele encharcando a cara. Disseram que um dia ele estava tão louco, mas tão louco de vontade de fumar, que depois de ter colado o carpete na sala do Cidão Boyola, viu uma elevação que se destacava bem perto do meio. Ele achou que era o maço de cigarros que havia esquecido ali. Com preguiça de refazer o serviço, ele simplesmente pegou o martelo e amassou, à pancadas, o calombo. Bom, quando já se preparava pra ir embora, a mulher do Cidão Boyola apareceu trazendo o maço de cigarros dele, - do Grogue - esquecido em cima da mesa da cozinha. Depois que Van o guardou bolso, a mulher lhe perguntou se não tinha visto o filhote de gato que viera para a sala. Ocê acha que o Grogue teve a coragem de responder que tinha visto o filhote de gato?
         - Eu acho esse Van Grogue um tremendo chato. Dizem que ficou amigo do Jarbas. É verdade? – Mariel demonstrava, já com a voz embargada, interesse inusitado em saber algo a mais sobre o famoso pinguço de Tupinambicas das Linhas.
         Bafão emendou criticando:
         - Imagine que o Grogue fez amizade com o Jarbas! É mais fácil uma vaca voar! Depois que a seita maligna do pavão-louco, a serviço do prefeito caquético testudo, “sujou a água” dele na cidade, o Grogue tem medo até de ir à praça ao entardecer. Ocê sabe muito bem Mariel: gato escaldado tem medo de água fria.
         - Pois eu acho que fez muito bem esse prefeito! – enquanto falava Mariel Ardeu segurava o copo de cerveja suspenso diante dos olhos – Tinha mais é que dar uma sova nesse cara sujo.
         Aquietadas as emoções, depois da ingesta de mais um gole generoso da cerveja que já não estava tão fria assim, Mariel Ardeu Demorais pôde ver a beldade loura que entrava no recinto. Era Luisa Fernanda, a gerente que tentava “há séculos”, tocar de orelhada o hino do Corinthians naquele seu teclado vetusto.
         Rebolando aquela sua bundinha flácida Luisa disse categórica:
         - Seu Bafão, me embrulha, por favor, 360 gramas de mortadela da boa. Mas olha: é da boa, hein! Não quero enganação.
         - Sim, senhora. É pra já. – Respondeu Bafão solícito.
         Notando que o silêncio do ambiente o incomodava Mariel Ardeu estendeu a mão em direção à mulher dizendo:
         - Olá, como vai dona Luisa? E a greve já acabou?
         Luisa Fernanda afastando-se do homem, como alguém que se afasta de um cão fedorento, murmurou algo parecido com “o que é isso?”, mas disse em voz alta:
         - Não ponha a mão em mim!
         Sem impedir a vazão dos sentimentos horríveis que lhe bagunçaram a alma naquele momento, Mariel Ardeu de Morais disse às costas de Luisa Fernanda enquanto ela saia carregando o embrulho.
         - Vai ficar louca!
         Bafão anotando o débito na conta da freguesa, nem deu tanta importância ao fato. Sabia que aquilo era ainda o reflexo da quizumba antiga havida entre aqueles pobres “cachorros pequenos”.
 
 
 
Fernando Zocca.
 
 
(texto revisado)  
               
        
        

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publicado às 21:00

O zênite e o nadir

por Fernando Zocca, em 07.08.09

 

                       - Então tá bom. Vai tomando conta do trecho. Mas não deixa de pagar o IPTU e os outros encargos. E olha, vê se para um pouco com o cigarro. Quando vier aquela bufunfa que todos esperamos, me avisa. Falou?
                        Van de Oliveira desligou o telefone, guardou-o no bolso da camisa, trocou da terceira para a quarta marcha, acentuando a pressão no acelerador, sem poder, entretanto reprimir as lembranças que  teimavam em lhe reaparecer.
                        A mulher tinha alguma dificuldade para manter qualquer conversação por quinze ou vinte minutos, sem que se deixasse levar pelas ondas dos pitis abrasadores lançados contra aqueles possíveis interlocutores desavisados.
                        O que era aquilo? O tal “pavio curto” não seria mesmo, talvez, algum conceito que supervalorizava o “eu próprio” e a desconsideração dos demais, entranhado lá no fundo d´alma?
                        Grogue não podia deixar de crer que os tormentos todos eram resultados de uma base narcisista muito espessa. Quem poderia negar?
                        Nem mesmo as samambaias, as plantas ornamentais, os vasos e o lidar com a terra, o xaxim, teriam minimizado um pouco aqueles procederes tão crispados? .
                        Não faltaria alguma humildade no agir daquela senhora, que lhe permitisse achegar-se com suavidade aos demais, usando com eles alguma delicadeza?
                        No trânsito em que se achava Van Grogue ouvia ainda o rádio do qual saia baixinho uma canção do Roberto. O devaneio fazia com que ele usasse menos força no acelerador.
                        - Sai da frente retardado! Tá dormindo vagabundo? – o motorista do Santana passara tão rápido por Grogue que ele só pôde ver a silhueta da mulher que, sentada no banco do carona, olhando para trás, fazia-lhe gestos mostrando-lhe o dedo médio da mão esquerda.
                        A manobra temerária daquele avoado motorista do Santana fez com que ele batesse na lateral traseira esquerda de um Scort azul que não trafegava com a mesma velocidade. Buzinas e impropérios aos gritos foram lançados pelas janelas.
                        - Parece que quanto mais se reza, mais o demônio aparece. – murmurou Van desligando o som.
                        A agitação do quotidiano, a insegurança com relação ao futuro e a educação frágil proporcionavam aquelas angústias todas e, aqueles sufocos que destrambelhavam quem estivesse na frente. Faltava um pouco de contenção.
                        Ao olhar para o retrovisor, aquela mecha antiga de cabelos crespos caiu-lhe nos olhos. Não adiantava fazê-la retornar sobre a orelha. Lá vinha ela de novo a encobrir-lhe a visão. Definitivamente chegara a hora de buscar o cabeleireiro.
                        Antes de estacionar defronte ao salão onde daria “um trato” no visual Grogue ligou o rádio novamente. O noticiário informava sobre as derrotas do Corinthians e do Flamengo.
                        “Era assim mesmo” – pensou Van. “A vida era tal e qual uma grande roda gigante. Uma roda viva, que ao girar levava seus diversos pontos aos extremos, tanto ao mais elevado quanto ao mais baixo. Eram o zênite e o nadir. O céu e o inferno. Sempre foi assim e sempre será”.
                         Ao entrar no salão Grogue murmurou:
                        - Não existe mesmo, nada de novo, debaixo do sol.
 
 
 
 
Fernando Zocca
 
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publicado às 02:38

A Fita Métrica

por Fernando Zocca, em 24.07.09

 

Van Grogue, naquela manhã de quinta-feira, sob a marquise do Banco da Colônia, na praça central de Tupinambicas das Linhas, chegou arfante. Trazia um cigarro, semi-consumido, entre o indicador e o médio da mão direita. Seus olhos arregalados procuravam um lugar vazio num dos três bancos ocupados pela galera folgada.
 
O pessoal, que matraqueava despreocupado, assustou quando Grogue chegou. O silêncio pairante, no local, eliciou a expressão emitida por Van, que mandou assim, na bucha, numa chuva de perdigotos:
 
- Vocês estão pensando que arma de destruição de massa, é um gordinho comedor de pizzas?
 
Em qualquer outra localidade do terceiro mundo, aquilo poderia ser interpretado como ato hostil de alguém maltratando um grupo inofensivo e brincalhão. Mas estávamos em Tupinambicas das Linhas, um trecho do universo conhecido por concentrar a maior quantidade de pirados jamais vista, durante toda a história da humanidade, sobre a face da terra. Por isso, e também por ser a figura conhecida, ninguém deu muita bola.
 
Mas Van Grogue era daqueles que confundia nas novelas a personagem com o ator. Misturava também, o infeliz, na literatura, as estações pensando sempre que os escritores escreviam sobre ele nos jornais ou falavam mal da sua terra, nos programas radiofônicos. Ora, os menos burros sabiam que aquilo era manifestação duma das facetas da paranóia. Mas os espertos e safados, procuravam botar lenha na fogueira, quando o provocavam, dizendo que esse ou aquele fulano falou ou escreveu algo sobre ele de forma disfarçada.
 
Um dos presentes, notando o rosto afogueado do Grogue, perguntou-lhe:
 
- Tá nervoso Van? Vai pescar!
 
 Van Grogue jogou a bituca para trás, sobre o ombro direito, não se importando, se poderia atingir alguém ou não, e então respondeu:
 
- Só se for pescar bosta! Esse riacho tá tão poluído que dá até vergonha, só de falar.
 
Alguém, lá na ponta direita da turma, lançou outro assunto na roda:
 
 - Tupinambicas das Linhas cresceu demais! Acho que a cidade já tem uns três mil habitantes! Está insuportável agüentar esse movimento!
 
- Realmente! É muito esquisita essa terra. Vocês não souberam que a professora da escolinha, foi pega fazendo bobagem com um moleque de 12 anos? Minha nossa! Deu o maior sururu!
 
Chuma, que estava de orelha em pé, arrematou:
 
- A tarada é casada com o Banja. Ocês não se lembram dele? Foi ele quem trouxe um museu de cera, montado num ônibus enorme, e exposto aqui na praça, já faz algum tempo. Então... Havia até uma figura de toureiro. O volume da calça dele dava a idéia de que tinha um documento forçudo. Essa tal de professora quis ver e, pensando que estava sozinha, no ambiente, abaixou a calça do boneco. Ela queria, porque queria, ver o tal do pipi de cera. Rapaz! Deu um cu-de-boi dos infernos. Se o Banja a deixar, pode até haver casamento entre ela o moleque.
 
Clique Douglas, que se mantinha alheio à prosa, resolveu dar seu palpite:
 
- Tudo degenerado! Isso é uma vergonha pra nação brasileira! Essa mulher, com 45 anos... mas será o impossível?"
 
Nesse momento, todos falavam ao mesmo tempo, quando uma magricela, baixinha, parecida com uma lagartixa doida, passou pelo grupo. As canelas finas denotavam que o design fora projetado pra locomoção sentada, na poltrona dos automóveis.
 
A encardida bateu a cinza do cigarro, na direção ao aglomerado, num gesto de desprezo, como se dissesse: “Bando de carniça! Gente ruim! Pancadas!"
 
Nesse momento um carro forte, trazendo a bufunfa abastecedora dos cofres do banco, estacionou perto da turma. O motorista não desligou o motor. A fumaça produzida irritou a galera, que se afastando, criticava, malhando o péssimo sistema econômico nacional.
 
 
Fernando Zocca.
O Beijo do Gordo
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