A minha casa é minha casa, agora, minha vida pode muito bem ser vivida em outro lugar. A existência não dependerá somente do ter uma casa. Quanta gente não perdeu o que tinha e mesmo assim continuou vivendo?
Seria mesmo a manifestação da falta de bom senso dizer que estaria a vida acabada só pelo fato de ter a casa ruída, ou tomada pela lama. Pra tudo se dá um jeito nessa vida. E olha: considero muito crítico esperar tudo do governo federal.
Tudo bem que o Brasil tenha uma história peculiar, diversa da maioria dos seus vizinhos, mas aguardar do “paizão” a casa, a bolsa disso, a bolsa daquilo é mesmo passar um recibo de incompetência homérica.
Imagine você uma família com numerosos filhos, todos reclamando por causa da escassez. O pai muito bravo resolve proíbir as reclamações. Ele então “baixa” uma ordem impedindo os queixumes.
É claro, meu amigo, minha amiga e senhoras donas de casa, que o silêncio daquele povo todo, não modificará a situação lamentável. A diferença é que as demais pessoas da vizinhança não terão tanta certeza do que realmente se passa naquele lar tão oprimido.
O homem poderá desfilar então pela vizinhança, assim como Fidel Castro desfilava na União Soviética, passando aquela impressão de que estava tudo muito bom, tudo muito bem. Ora, veja.
O autoritarismo resiste até onde chega o seu líder totalitário. Acabou-se a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e logo em seguida Cuba deixou de ter o seu parceiro comercial.
Agora, na Venezuela surge Hugo Chaves, o homem que deseja acabar com a inflação usando o poderio militar. Será que Fernando Collor de Mello, não conseguiu tal façanha, com semelhante estratégia, por ter somente “uma bala na agulha”?
Lula segue os caminhos do Chaves, que por sua vez anda por onde andou Fidel. Não será surpresa nenhuma, se daqui uns 50 anos, as gerações futuras vejam o pais do Chaves vivendo situaçôes semelhantes as de Cuba do Castro.
É preciso diálogo. Saber ouvir também faz parte da interação. O ditar lá de cima, durante horas, sem ouvir depois as impressões dos ouvintes, pode mais complicar do que ajudar na manutenção do todo.
O mal do ditador é que ele não suporta opiniões contrárias às suas. Isso seria um desrespeito tamanho que implicaria até em perda de prestígio. Imagine o Lula querendo fazer a transposição do rio São Francisco, e a sociedade toda, por meio dos seus veículos de comunicação social, dizendo que não concorda por não ser certo.
Então o ditador fechando rádios, televisões, jornais, revistas e blogs, poderia fazer o que quisesse sem ter que ouvir os queixumes impertinentes. Saddam Hussein era assim. Hitler também foi.
O calar a boca de alguém não compete às pessoas civilizadas.
Onde você estava e o que fazia em 1964? Eu particularmente vivia em Piracicaba, estava com 13 anos de idade e como quase todo moleque rueiro do interior, pouco me importava com as críticas dos adultos que se preocupavam com o nosso futuro.
Não tínhamos televisão em casa e o rádio era usado por mim, mais para ouvir as radionovelas do que curtir as canções da época. Eu achava que Lupicínio Rodrigues, Maysa, Dalva de Oliveira, Nelson Gonçalves e os bambas do samba daquele tempo, tocavam músicas digamos, tristes para o nosso gosto.
Então além das aulas ginasiais no Jerônimo Gallo, da piscina no Clube de Regatas, dos passeios de catraia pelo rio Piracicaba, dos filmes nos cines Broadway, Palácio, Politeama e Colonial, das visitas aos colegas da vizinhança, nós curtíamos também as caminhadas a pé e as praças onde se podia descançar.
Numa ocasião um moleque vizinho, filho de um comerciante de armarinhos da Rua Governador Pedro de Toledo, na praça que fizeram defronte ao grupo escolar Barão do Rio Branco, trouxe um disco de um “conjunto” novo que fazia sucesso.
Na eletrola portátil, que minha mãe comprara pra ouvir os discos do Roberto Carlos, da Wanderléia, do Erasmo Carlos e toda aquela turma da Jovem Guarda, ouvimos aqueles caras que provocavam muito frisson entre as meninas.
Eram os Beatles.
Nós não entendíamos nada de política, renúncia do Jânio Quadros, de golpe de estado, militares tomando o poder, perseguição e morte de terroristas, muito menos compreendíamos o inglês. Mas o ritmo, a sonoridade e a alegria que se percebia no som daqueles caras, nos contagiou de imediato. Não é preciso dizer que ouvímos o LP mais de uma vez naquela tarde.
Os Beatles marcaram um momento de mudança nos costumes daquele tempo. Antes deles era todo mundo muito comportado, cabelos curtos, roupas discretas, os tabus eram tabus mesmo e um simples relar de braços ou dedos no braço ou dedos da irmã do nosso colega, quando sentados no sofá da sala, podia significar intenção de compromissos eternos.
Foram tempos muito bons e que não voltam mais. Pra você que viveu aqueles momentos lindos, relembre-os ouvindo a sonoridade que os carinhas aí do vídeo transmitem.
Os Beatles marcaram a transição dos costumes de muitos países na década de
1960