Tudo bem, você está numa praia, sente o vento na pele, o sol a lhe aquecer, a maciez da areia, o bate papo com os amigos, o prazer da saciedade que lhe dá a água de coco. Mas e se de repente não podemos voltar para casa?
Você percebe que o sol se põe, os pernilongos cercam-no zumbizando no seu ouvido, a temperatura começa a baixar e nada. Nada de paredes para desviar o vento, nada de banho com aqueles xampus cheirosos, sabonetes reidratantes, e a fome, muita fome. Sim porque ali não há o conforto de um fogão onde se possa fazer um Miojo confortador ou um café da hora.
Tudo bem, pode-se até comer alguns peixes, que ao darem bobeira na sua frente, sirvam para lhe aplacar o desprazer da escassez de alimentos. Mas será que o escovar os dentes ali naquela água, que não vem da torneira, tem o mesmo efeito, faz a mesma sensação?
Tudo é muito estranho, muito esquisito. Bom, mas você percebe que está cansado, tem sono, e sua cama não se encontra presente. Que dureza! E tem mais: antes de deitar sempre é bom faze xixi, higienizar-se de alguma forma. Mas onde está o “trono”, aquele papel esperto, o bidê purificador?
Sem esses apetrechos o homem volta a um estágio da civilização conhecido como idade da pedra, ou pra não exagerar muito, para um tempo em que ele dependia mais da força física do que da astúcia ou inteligência.
A sobrevivência própria, e da espécie humana, numa situação bastante adversa, hostil mesmo, foi possível graças a capacidade para diluir tudo o que impedia o curso normal da vida. Então, contornando o que causava desconforto, e aprendendo a controlar o prazeroso, viu-se o ser humano nesse atual estágio de desenvolvimento tecnológico.
Naquele tempo, quando as pessoas habitavam as praias a produção dos utensílios era manufaturada, isto é, feita por artesãos que se especializavam. Então havia quem fizesse panelas, armas, urnas mortuárias, canoas, ocas e demais objetos para uso próprio, pessoal, ou para familiares.
Neste século XXI chegamos a evolução tal que até mesmo um simples canudinho com o qual se sorve a água de coco redentora, tem um processo especial de produção industrial. Tudo é feito pela indústria, em grande escala, para milhões de pessoas.
É mas a fila anda, ou tudo passa, ou ainda tudo se move. Em outros termos dizem que até mesmo essa era da indústria, da produção industrial, está passando. Gasta-se menos horas hoje no trabalho que mantém o sustento, do que naquele tempo em que não havia nem mesmo um radiozinho a pilhas ou televisor.
As condições de higiene e alimentação, naquela época dos nossos antepassados, não proporcionavam a manutenção da saúde da alma e corpórea que se pode obter hoje. Por conseqüência a longevidade aumentou.
Se naquelas condições precárias das praias desertas havia a incidência de muitas doenças hoje estão todas elas, praticamente debeladas. Então se vive muito mais e melhor.
O existir em coletividade implica reconhecer as diferenças entre os que estão “lá em cima” e os que estão “aqui em baixo”. Numa sociedade ideal, mais justa, mais igualitária, não haveria espaço para a afirmação de que “aqui em baixo as leis são diferentes”.
Numa sociedade honesta, sem trambiques, todos seriam iguais perante a Constituição. E o direito ao trabalho, reservado a alguns privilegiados, seria estendido a todos os demais cidadãos desse pais.
Fernando Zocca.
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