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Não é muito aconselhável ir à praia no inverno. Mas se você for, saiba que encontrará situação bastante desconfortável.
A começar pelo céu cinzento, carregado de nuvens, que emoldura o local, até o frio da areia que lhe cobre os pés, o ambiente não se prestaria a outra coisa que não fosse o realce do desprazer.
Ao se aproximar você já sente o vento frio, constante, constritor, vindo das águas. Na sua presença parece que ele pede e você vai ingenuamente entregando logo tudo: primeiro tira o calçado, as meias, o jeans, soltando em seguida a blusa e a camiseta.
De bermudas você pode até, com o olhar, buscar mais alguém que tenha chegado ali, naquele ponto crítico, sofrido. Não estranhe se não houver nada além de alguns incautos e duas dúzias de pombos.
O inesperado, gélido feito o mármore das tumbas, prossegue então solicitando-lhe novos desafios: mas e a água gelada; a espuma das ondas? Sim... Mas e a areia que afunda sob as pisadas?
Apesar de tudo você perceberá que o vermelhão do seu rosto, o desalinho dos seus cabelos, o roxeado da sua pele - realíssimos - não são ficção nenhuma.
Se a sua coragem foi suficiente para fazê-lo avançar até molhar os pés verá que nas suas pernas algumas bolhas demoram pra escorrer.
O som da arrebentação e o movimento constante das ondas podem atordoá-lo. E se você não ultrapassou as bandeirolas informativas de que o local é impróprio para o banho ou natação, é melhor ir se atirando de corpo e alma.
Do contrário, meu amigo, saia de fininho, fingindo consternação. "Entregar o ouro" da saúde, assim, de mão beijada, pro frio bandido, não é nada inteligente.
Praia no inverno não é nada bom.
Na manhã de terça-feira Janaína sentiu a necessidade de caminhar um pouco a fim de arejar as ideias, e livrar-se do incomodo que lhe dava o tédio.
Ela então, resolvendo sair sozinha, embarcou no Sandero GT Line vermelho e, com muita atenção ao trânsito, dirigiu-se ao Shopping que sempre lhe garantia bons momentos de satisfação.
Sentindo que seu carro estaria bem protegido, no estacionamento imenso, daquele novo centro comercial, ela bem à vontade, pôs-se a caminhar sobre o piso reluzente, ornado com figuras de traços finos.
Janaína andava lentamente, desfrutando o prazer que sentia ao observar as vitrines das lojas, especialmente preparadas para atrair e satisfazer os consumidores.
No final de uma caminhada longa ela entrou numa loja e, com o senso estético bastante apurado, comprou três blusas e duas calças jeans.
Ao sair a jovem encontrou-se com a velha e querida amiga Marie de Lurdes a moça alta, loura, cabelos cacheados, que trajava, naquele momento, um vestido verde leve, com alças estreitas e decote generoso.
- Vi você na praia ontem. Eu te chamei, gritei seu nome, mas você não me ouviu. – Disse Marie beijando a amiga.
- E por que não foi falar comigo?
- Estava com pressa. Tinha hora marcada com o advogado. Você sabe não é? Eu me separei do Gaby.
- Eu não sabia. Não deu mesmo pra segurar a onda? – interessou-se Janaina ajeitando as sacolas que trazia na mão.
- Não. O cara ficava cada dia mais violento. As crianças não podiam nem brincar que ele agredia todo mundo. Estava cada vez mais louco. – Marie ao falar sentiu seu rosto avermelhar-se.
- É verdade mesmo que Gaby tem problemas neurológicos? – quis saber Janaina.
- Você sabe não é? O pai dele já não era flor que se cheirasse. Tinha uma genética ruim e ainda por cima não parava com o uísque. Eu pedia, a toda hora, que ele deixasse o maldito vício, mas não tinha jeito.
- Ele não combinava com o Marcelo, seu filho mais velho? – Indagou Janaina.
- Você sabe que o Marcelo é enteado do Gaby, não é? O pai do Marcelo é o Messias, aquele frouxo que não serve nem pra pagar a pensão alimentícia em dia.
- Eu sei. Sei também que eles nunca se deram bem. O Gaby odeia o Marcelo. Mas é verdade que agora estavam se espancando?
- Sim. É verdade. – confirmou Marie. – Não sabia mais o que fazer ou a quem recorrer até que me orientaram a procurar um advogado e foi o que fiz. O Gaby não queria a separação. Mas eu sai de casa e fui morar com a minha mãe. Enquanto isso o doutor fez um processo litigioso. Saímos da audiência lá do Fórum separados.
- Desejo boa sorte pra você Marie. Tomara que agora você encontre alguém que te faça feliz. – disse Janaina afetuosamente beijando a amiga.
- Tudo de bom pra você também, amiga. Acho que agora teremos paz. – Marie sentiu um aperto esquisito no peito e lágrimas escorreram-lhe pela face.
Segurando com firmeza suas sacolas Janaina caminhou durante alguns minutos entrando na área do estacionamento; ao aproximar-se do seu carro notou que a roda traseira direita fora furtada.
Muito Indignada ela ligou para o marido, contando o acontecido.
- Não saia dai. Estou chegando daqui a pouco. – Vociferou Perez ao telefone.
Perez chegou depois de uma hora encontrou-se com a esposa, e foram conduzidos, por um dos seguranças do estacionamento, á presença do gerente que se negava a reconhecer a responsabilidade pelo furto bem como a obrigação de indenizar o cliente.
Enquanto discutiam Janaina esperava ansiosa e cansada.
- Sinto muito seu Perez, mas não podemos pagar por uma coisa que não fizemos. Temos avisos por toda a área do estacionamento informando que não nos responsabilizamos por furtos ou danos que possam ocorrer nos carros.
- Bastante estressado Perez resolveu discutir o problema no judiciário. Chamando Janaina eles iniciaram a caminhada até onde parara seu carro.
- Vou chamar o guincho pra levar o seu, Janaina. – disse Perez acionando o celular.
Satisfeito por se ver livre momentaneamente do problema, o gerente horrorizou-se ao perceber que um odor fortíssimo de gás emanava das aberturas e frestas do chão do corredor todo, onde se localizava a gerência.
Enquanto corria desesperadamente pelos corredores do shopping, agitando os braços acima da cabeça, o gerente esgoelava:
- Seu Perez, dona Janaina, pelo amor de Deus. Vamos resolver logo esse assunto. Ligo agora mesmo para a concessionária mandando vir a roda que sumiu.
Você já imaginou que, com esse calor, há momentos em que nada mais causaria tanto prazer, do que o de beber aquela água de coco, numa praia bela?
A gente sabe que pra frequentar praias, entrar no mar e ver-se com as ondas, para quem não está acostumado, pode ser muito, mas muito perigoso mesmo.
Quantas pessoas, bastante jovens ainda, não tiveram a boa sorte ao tentar enfrentar o desconhecido, a força das águas, e sucumbiram num fim trágico?
Pois todo cuidado é pouco. A gente sai alegre, por exemplo, numa excursão, viaja tranquilo, na esperança de se divertir e depois, voltar revigorado, mas o imprevisto pode acontecer.
E não adianta tentar culpar esse ou aquele. Que tristeza maior ferroaria tanto o coração materno, do que a de saber que seu filho querido, não sobreviveu à força de uma corrente marítima?
Mas, apesar de toda a angústia, de toda aflição e melancolia, a vida segue dando a certeza da imortalidade do espírito, da alma.
A dor da mãe que perde um filho querido pode ser comparada à de Maria, ao ver seu filho crucificado no lugar da caveira.
16/02/12
- A impressão que a gente tem é que a maioria dos políticos possui muita habilidade em resolver só seus problemas pessoais. Nada mais que isso. – disse Wilson Regente depois de se sentar ao lado de Janaina na praia deserta.
A moça, trinta anos mais jovem do que ele, acomodada sobre a canga colorida, alisava os cabelos úmidos. Ela chegara mais cedo ao local do encontro, combinado na noite anterior.
- E você acha que eles deveriam resolver os problemas de quem mais? – inquiriu ela passando, lentamente, protetor solar nos braços.
Regente notou que o céu estava nublado e nem o mormaço era suficiente para avermelhar a pele.
- O vento está bem chato. – concluiu o músico, cofiando a barba longa, depois de ajeitar os cabelos que lhe cobriam os ombros.
- Já fazem muita coisa se conseguem resolver os próprios problemas. – Janaina percebeu o desconforto dos lábios ressecados, umedecendo-os com a língua.
- A conciliação, às vezes, fica difícil. A gente envelhece e não consegue demonstrar simpatia, arrependimento ou dar qualquer outro sinal de que não deseja tanta guerra.
- Sabe o que eu acho? As pessoas próximas de quem litiga assim, por tanto tempo, não são tão hábeis nessas questões de apaziguamento. – reforçou ela.
- Eu estou bem arrependido de ter socado a mesa do cara. Você sabe: achei que era muita exploração. A gente se dedica tanto nas composições e depois vem esse desprezo do produtor. É foda! Você viu, não é? Investi o valor de um carro importado no CD e o que a gente tem de volta?
- Cara! Não é nada disso. Você está buscando simpatia, reconhecimento, algo de fora, de outro alguém. Não é por aí. – indignou-se Janaina.
- Na verdade estou me doando, me entregando, aderindo ao seu progresso, sucesso, insuflando a sua vela e não espero nada de volta. É assim que deve ser? – perguntou o amigo com alguma tristeza no semblante.
- Eu penso que seja assim. Haveria, por acaso, outra maneira de não vivenciar tantos tormentos?
Wilson aproximou-se dela enlaçando-a com os braços. O beijo ardente só foi interrompido pelo vendedor ambulante que oferecia biscoitos e água fresca.
09/04/2011.
Jorge sentia-se estranho naquela cidade. Ele viera para uma festa de aniversário da prima Helen que a recebera muito bem na manhã do dia anterior.
O rapaz caminhava só pela calçada ruminando os bons momentos da festa que tivera muita gente, flash e animação.
Ele não dormira bem à noite por causa do excesso de bebida, mas, mesmo assim ao acordar, naquela manhã de terça-feira, resolveu andar pelo calçadão da orla. O sol aquecia bastante, despontado no céu límpido.
- Por que a Helen não fez a festa no final de semana? – perguntava Jorge num solilóquio discreto, enquanto observava, através das lentes dos seus óculos de sol, algumas pessoas que se divertiam nas ondas verdes.
O turista andava distraído e surpreendeu-se quando alguém ao se aproximar por trás disse:
- Ei Jorge, já cedo assim acordado? Não passou bem durante a madrugada? – Era o empresário Cristiano que também participara das comemorações do décimo nono aniversário da Helen. Ele vinha no mesmo sentido caminhando mais rápido.
- Ah, oi, como vai? – respondeu Jorge ao voltar-se – Eu bebi muito. A ressaca é enorme. Não passei bem o resto da noite, mas logo melhoro – concluiu.
- Achei esquisito a Helen desperdiçar o sábado e o domingo pra fazer a festa. Ela escolheu justamente a noite de segunda-feira. Não é estranho? – indagou Cristiano ajustando a velocidade dos seus passos a dos de Jorge.
- É, gente rica tem suas manias - explicou o turista. – E depois, levantando a pala do boné vermelho: - Mas como tem gente bonita nesta praia hein? Veja como as mulheres caminham harmoniosamente. Parece que desfilam naquelas passarelas.
- Sim, tem muita gente sarada e bela por aqui – resumiu Cristiano percebendo o suor que lhe empapava a camiseta - Vamos caminhar mais rápido?
Os dois homens seguiram céleres pelo calçadão quando avistaram um gorducho que, de short amarelo, camiseta preta, boné verde e chinelos brancos, arrastava uma mala preta enorme ao atravessar a avenida em direção à praia.
- Veja só aquela figura! – assustou-se Cristiano chamando a atenção do companheiro – não é o Leonel?
- Não conheço nenhum Leonel – respondeu Jorge desviando-se de um esqueitista, que saíra sem querer, da ciclovia.
- Você não imagina o que esse cara aprontou num baile de carnaval no ano passado. Meu amigo, que vergonha! Que vexame – enfatizou Cristiano.
- Nossa! Foi tão grave assim? – quis saber o amigo.
- O sujeito chegou cedo ao salão, bebeu todas e mais algumas, depois no meio daquele povo todo, começou a passar a mão na busanfa da mulherada.
- E ai? Deram-lhe um cacete? – indagou Jorge.
- Botaram o cara pra fora do baile. Ficou deitado na calçada de tão bêbado que estava. Mas pode uma coisa dessas?
- Pô, mano, que papelão! – concordou o turista.
- E, olha, não foi aquela a primeira e a única vez, não. Houve outra, no mesmo esquema. No baile dos periquitos, ele mandou ver a mão boba nas coxas do mulherio. Parece que o sujeito não pode beber.
- O pessoal instiga e ele entra de gaiato. Na verdade é um panaca, um palhaço – arriscou Jorge com a sua análise.
O calor aumentava por volta das onze horas. Eles haviam chegado defronte ao prédio da Helen.
- Quando você volta pra casa? – indagou Cristiano.
- Talvez amanhã à noite – respondeu Jorge num tom de despedida.
- Tem ainda muitas compras pra fazer? – brincou Cristiano afastando-se.
- É, meu amigo, a vida tem dessas dificuldades também – concluiu Jorge com ironia, entrando no edifício.
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