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Carlinhos pode ser solto pela justiça

por Fernando Zocca, em 13.06.12

 

 

O desembargador Tourinho Neto do Tribunal Regional Federal da 1º Região julgou inservíveis as provas, colhidas pela Polícia Federal, que incriminariam o contraventor Carlinhos Cachoeira.


O blog laranjanews já previra essa posição com o texto "As Tais Escutas", publicado no dia 24 de maio.


Na ocasião dizia-se que "... esse esquemão da corrente de água que se despenha, foi trazido à lume por investigações  que se utilizaram de escutas clandestinas de telefones.


Se não estavam previamente autorizadas por quem de direito, diz a lei, elas, as tais escutas, são nulas. E se nulas, todos os atos investigativos subsequentes também o seriam."


Veja que o julgamento pelo Poder Judiciário é diverso das apurações e conclusões obtidas pela CPI, que também investiga a violação do decoro parlamentar, pelo senador Demóstenes Torres, por seu suposto envolvimento com o contraventor Carlinhos Cachoeira.


As provas contra o bicheiro são claríssimas, inegáveis. Ocorre que foram colhidas de um jeito não autorizado pela lei.


Se fossem aceitas pelos julgadores, estariam eles, em tese,  negando os preceitos constitucionais que determinam as formas de como elas devem ser coletadas.


Apesar de não serem admitidas pelos juízes, as escutas demonstram que o senador tinha mesmo transações com o contraventor Carlinhos, e que por isso, teria infringido as normas do decoro parlamentar.


A CPI mista pode cassar o mandato do senador Demóstenes Torres, diante das evidências inegáveis dos tais negócios com o bicheiro.


O julgamento político ocorreria antes, e não estaria adstrito às formalidades semelhantes ao do judiciário, que se não observadas, ensejariam nulidades.


Para a decisão final do Tribunal Regional Federal ainda faltam os votos dos demais desembargadores.

A decisão estaria ainda sujeita à avaliação do Supremo Tribunal Federal.

 


 

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publicado às 13:36

O Mundo é Pequeno, Piracicaba Menor Ainda

por Fernando Zocca, em 06.07.11


 

                   Em 1969 o Bar Noiva da Colina, que fica na esquina das Ruas 13 de Maio com a Alferes José Caetano (foto) pertencia à família Casale.

                    Eles tinham acabado de chegar do bairro Dois Córregos e eram pessoas bem simples. Os pais da Neile, Genésio, João José e Rosalina já tinham idade avançada, portanto quase não participavam das atividades comerciais dos filhos.

                    Genésio e Neile, na parte superior do sobrado, recebiam apostas do jogo do bicho, enquanto que João José e Rosalina mais atendiam à freguesia do boteco.

                    No carnaval de 1971 ou 72 João José e eu nos dispusemos a viajar de carona para o Rio de Janeiro. Saimos daqui com algumas coisas somente e de caminhão, que pegamos perto da ESALQ, chegamos até a Dutra. Antes eu havia vendido um rádio portátil ao Genésio a fim de que com a importância recebida, pudesse ao menos pagar alguns maços de cigarros.

                    Não nos demos muito bem na excursão ao Rio. Quase sem dinheiro nenhum, passamos a primeira noite na praia de Copacabana, onde com um cobertor improvisamos uma barraca tosca.  

                    No dia seguinte seguimos para ver o Cristo Redentor e com muito esforço, chegamos lá no topo, com praticamente todas as forças exauridas.

                    João José, por ter a personalidade um tanto quanto que incongruente, achava que podia queimar toras e toras da canabis sativa Linus sem se alimentar e por isso e também por outras, acabamos nos desentendendo.

                    Ainda lá em cima do morro conversei com um grupo de travestis, que num fusca branco, desceria para o asfalto. Chegado da descida parti imediatamente para a estação rodoviária, onde tomei um ônibus para São Paulo.

                    João José teve problemas e do Rio telefonou para a irmã Neile que, se não me engano, pagou um táxi para buscá-lo.

                    Bom, eu sei que daqueles momentos em diante não mais nos vimos e o fim de João José não foi dos melhores. Por causa da toxicomania esteve internado por várias e várias vezes em hospitais psiquiátricos.

                    Anos depois soube que ele se envolveu num latrocínio, praticado contra um motorista de táxi em Santa Maria da Serra, tendo sido condenado a muitos anos de prisão.

                    Mas voltando ao Bar Noiva da Colina, ele ficava vizinho de uma agência dos correios, onde hoje funciona, se não me engano um restaurante.

                    Naquela pequena agência de esquina trabalhava, na função de carteiro, um senhor que se chamava Hermínio Harder, pai do falecido Carlos Augusto Bottene Harder.

                    E foi esse senhor, Carlos Augusto Bottene Harder, que residia à Rua Napoleão Laureano 164, que no dia 27 de Dezembro de 2007, tentou nos matar a tijoladas, na esquina das Ruas Fernando Febeliano da Costa e Napoleão Laureano.

                    Hoje em dia é o moço Gabriel Donizete Bottene Harder, (filho do finado Carlão), residente no mesmo endereço do pai, recebedor de auxílio material e proteção dos parentes funcionários públicos, que tem a função de nos infernizar a vida.  

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publicado às 14:15

O bar

por Fernando Zocca, em 19.10.09

 

- E aí pantera, tudo bem?
 
Ele entrara duma forma tão silenciosa que quando o vi estava já ao meu lado quase fungando no meu cangote. Assustada, achei que poderia ser mais um aproveitador. Não respondi. Continuei lavando meus copos. Era um moreno jambo, alto pra caramba, cara de safado, cabelos divididos à esquerda, igual ao John F. Kennedy, e tinha um bafo de cigarro dos infernos.
 
Ele pediu uma cerveja. Sentou-se à mesa do meio. Foi o primeiro cliente do inicio da noite daquela quinta-feira triste. Com um movimento rápido, feito felino, capturou com a mão direita, o jornal que dormia sobre o balcão. Ao sentar-se buscou o maço dos cigarros, no bolso esquerdo da camisa de mangas curtas.
 
Ajeitei meus cabelos encaracolados, curtos e louros. Eu achava que deveria tingi-los de cobre, já que o amarelo-palha dava um destaque muito bem feio pros meus olhos azuis. E depois tinha mais: aquela minha pele alva era terrível. Não podia tomar um minutinho só de sol que tudo ficava ardendo feito um não sei quê.
 
Eu via unicamente momentos de tristeza. Meus pais acabavam de separar-se. Ouvia eu, às escondidas, as conversas, e disfarçava, assim como quem não entendia nada. Mas pude perceber que minha mãe traíra meu pai. Ele fora motorista de caminhão e enquanto estava fora ela aproveitava, enfeitando a fronte dele com os galhos ostensivos e exuberantes.
 
Imaginava que mamãe fizera aquilo como vingança eis que ele a enchia de sopapos e pancadas, todos os dias, quando chegava da rua, torto com tanta cana.
 
O silêncio incomodava-me. Liguei o rádio. Estava quase na hora do resultado do bicho. Minha tia, lá no andar de cima, daquele sobrado antigo, junto com outro tio, seu irmão, tramava algo que eu cismava ser a captação de apostas. O telefone funcionava incessante e o radio a pilhas informava o necessário pro deslinde da banca.
 
Um outro meu tio, xarope nato, a verdadeira ovelha negra da família, deveria substituir-me, já naquela altura do campeonato. Eu estava exausta. Fizera, na máquina primeva, os sorvetes de massa que seriam vendidos, no dia seguinte, aos escolares da escola velha e chata, plantada defronte ao bar. Mas o louco, que lembrava Adolf Hitler, estava fechado no banheiro, quem sabe fumando mais um baseado enorme feito com a erva maldita.
 
Não poderia dizer, o que aquele matuto tinha em comum com a besta apocalíptica. Talvez fosse o parentesco em satã, evidenciado nas estripulias que aprontava pelas madrugadas, movido à maconha e mamãe-de-luanda, quando a cidade ainda ronronava.
 
Aquele tio, como já disse, era análogo ao demônio. Um dia, chamou-me ao banheiro, onde simulava fazer xixi, e mostrou-me aquela coisa cabeçuda, vermelha e que parecia crescer quando cheguei perto. Senti meu rosto afoguear-se. Meu coração pulava. Ele mandou-me segurar na pontinha. Virei o rosto enojada, e corri. Imagine! O que era aquilo, minha amiga?
 
Nos dias subseqüentes, quando percebia que eu estava encerrada no banheiro, batia de leve na porta, pedindo-me com voz sussurrante, que a abrisse. Se relutasse, ele colocava logo pelo vão, uma nota de cinco mangos. Aquela agonia, que me dava, não impedia de recebê-lo e fazer o que mandava sua loucura.
 
Contei a história pra minha tia-dona-da-banca e ela achou que deveria rogar uma praga bem forte nele. O arrenegado seria perseguido por onde quer que fosse. Até ao Rio de Janeiro, por caronas, o danado seria conduzido; e se fosse possível, deixado lá com os malvados que dariam um fim naquela sua vida fodida e nefasta.
 
Se o cancro fizesse cursinho, seria perseguido. As opiniões que se formariam ali junto aos professores, funcionários e alunos seriam das piores com relação a ele.
 
Se o porco entrasse na faculdade, todos menos ele saberiam, que era uma besta e que deveria ser deixado de lado, no ostracismo. Ele não teria consciência que a maioria saberia sobre seu passado tenebroso e maligno.
 
Aquele destino estava traçado: sanatório, cadeia e cemitério.
 
- Outra cerveja, meu bem!
 
O moreno, de pé, quase ao meu lado, fazendo cara de tarado e, soltando os bagos com espalhafato, olhava-me em meu devaneio. Aquela olhadela eriçou-me os pêlos do meu braço esquerdo. Será que meu destino seria pecar? Sempre soube que vida de marafona era dose.
 
Que Deus me livrasse dos maus desígnios. Afinal, apesar de estar um tanto quanto gorda, ainda assim, com algum treino, tinha absoluta certeza, poderia fazer bonito em qualquer maratona.

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publicado às 16:17


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