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O Bicho de Sete Cabeças

por Fernando Zocca, em 22.11.16

 

 

 

Touro.jpg

 

O enunciado é bíblico: a paz vem da justiça. Certamente a turbulência pela qual passa o Brasil decorre dos grandes desníveis sociais causados, antes de tudo, por situações de corrupção.

Não gera certa indignação, revolta, quando se sabe que, por exemplo, engraxates da câmara de vereadores de São Paulo ganham até 10 mil reais mensais, enquanto que muita gente estudada, formada nas mais supimpas universidades brasileiras, come o pão que o diabo amassou?

A situação está tão feia que até mesmo a criatividade precisa ser muito bem pesada, medida e meditada.

Num desses dias de muita atividade física, no Parque do Piracicamirim, conheci um cidadão, que pretendendo fazer um filme, pensou logo no script que continha, na trama, a história dum gato que tinha sete vidas.

- São sete vidas, sete histórias interligadas – dizia ele entusiasmado, enquanto caminhava ao meu lado, no parque.

- Se são sete vidas, sete gatos, certamente serão sete cabeças – ponderava eu.

- Sim. O tema não é inédito, mas imagine se essa história vira livro de sucesso, peça de teatro, filme... Saio logo da pindaíba, compro apartamento e até carro novo – contava ele, olhando pro chão, tentando desviar dos buracos do calçamento.

- É... Você poderia ficar mais famoso que o Rodrigo Santoro naquele filme “Bicho de Sete Cabeças” dirigido por Laís Bodanzky.

- É isso mesmo, cara! – concluiu o atleta de fim de semana. Já pensou na fama, no tanto de dinheiro, que isso tudo pode dar?

- Ah, sim, com certeza – confirmei. – Imagina depois disso tudo, a ventura, a felicidade, no romance, no amor, como o vivido com a Luana Piovani. Você não ficaria famoso só em Piracicaba. Mas no mundo inteiro também.

- A gente poderia incrementar a história colocando uma arena, touros bravos, capas vermelhas, toureiro barrigudo, muita cena de sangue, suor e cerveja... – continuava a divagar aquele esboço de diretor de cinema.

- Hãhã – concordava eu pensando no quanto os problemas provocados pelo arruinamento das relações familiares influiriam negativamente no imaginário e no comportamento das pessoas.

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publicado às 17:38

É restituindo que se ganha

por Fernando Zocca, em 11.12.09

 

            O governador do distrito federal José Roberto Arruda dentre outros políticos brasileiros, foram filmados recebendo dinheiro desviado da administração pública. As cenas do desaforo foram divulgadas para o Brasil e o mundo todo. Como é praxe, nas democracias, o indigitado tem amplo espaço e tempo para se defender.
            Até agora, no entanto, esse homem que aparece recebendo um fardo de reais, não conseguiu justificar a insolência. Ameaçado de expulsão do DEM o partido que o agasalhava, ele se desfiliou antes, preparando-se para uma nova aventura política em 2014.
            Os pedidos de impeachment do flagrado, elaborados por seus adversários, dirigidos à assembléia legislativa do distrito federal teriam, em tese, poucas chances de prosperar em virtude de ser a atual gestão composta por seus correligionários favorecidos.
            Das 11 proposituras de destituição oito já foram arquivadas, tendo o astuto político afirmado que deseja chegar ao fim do mandato. Quando nega a veracidade dos fatos filmados, o recebedor garante também que a sociedade brasileira não viu nada daquilo que foi exibido, e que as cenas não passariam de montagens feitas por opositores.
            A Polícia Federal, no entanto, demonstra que as imagens são diretas e não passaram por cortes ou montagens. Tomado de muito bom senso e com aquele espírito de que “quem não deve não teme” o senhor José Roberto Arruda poderia renunciar ao cargo de governador e devolver o dinheiro, provando com isso as injustiças que cometem contra ele.
            Só a devolução daquele pacote juntamente com um pedido de desculpa seria o suficiente, para quem sabe, provar a boa fé do grande e honorável José Roberto Arruda.  Ninguém falou nada sobre outros embrulhos supostamente agarrados durante todos esses anos de vida política.
            Veja como pode ser ilibada a conduta do filmado recebendo a hipotética propina: ele se propõe, inclusive a mudar algumas regras, usos e costumes relacionados ao exercício da política. Mas não é impressionante?
            E olha que o renunciante atribuiu todas aquelas motivações, que levaram à feitura das películas, aos interesses contrariados, das pessoas que teriam sido demitidas durante o seu governo.
            Pelo raciocínio do acusado não existe o dinheiro que ele também não teria recebido. Sem tecer qualquer consideração de que a verba pública enrustida, em última instância, se destinaria aos benefícios da população pobre e, que o mexer nos valores dos carentes dá um azar do inferno, conviria crer que a restituição equivaleria a ganhar na mega-sena.
 
 
 
Fernando Zocca.    
           
           

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publicado às 12:25


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