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Um pouco mais de sensatez

por Fernando Zocca, em 25.09.11

 

 

                            É bom que não haja escândalos numa comunidade, numa cidade; mas ai daqueles que os causarem.

             Hoje em dia, pode haver escândalo maior do que fartar-se com os bens adquiridos com o dinheiro que se furtou dos cofres da administração?

             Quando o homem eleito pelo povo trai a sua confiança, subtraindo para si a riqueza comum, edifica uma carência de recursos que farão falta no suprimento das necessidades da população.

             Ou seja, sem o dinheiro, que foi para a conta particular do senhor prefeito, do senhor vereador, do senhor deputado, do senhor governador, não haverá meios para pagar as despesas que as instituições públicas teriam ao garantir a saúde, a educação e a segurança dos cidadãos.

             Então se conclui que quanto mais enriquecido se torna o tal político, mais miserável, mais analfabeta, mais doente, desdentada e mais insegura, ficará a população que o elegeu.

             Isso ainda acontece, nos dias atuais, em decorrência da conhecida crença de que “todo mundo rouba” impunemente. A ostentação, a mudança de vida, propiciada pelo enriquecimento ilícito, incentiva a todos a praticarem os mesmos delitos.

             Você pode perceber quando um partido político prioriza mais as coisas do que as pessoas ao notar a construção de pontes desnecessárias, o asfaltamento das ruas já calçadas e outras obras suntuosas, em prejuízo também dos salários dos servidores municipais.

             A construção de presídios e de fábricas de automóveis tem o seu preço. Quase todos sabem qual é. O que se pede é um pouco mais de equilíbrio, de justiça, de sensatez.


25/09/11

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publicado às 10:13

Aníbal, o Cortador de Cana

por Fernando Zocca, em 29.10.10
            Aníbal depois que chegava a casa, vindo da roça, onde passava a maior parte do dia cortando cana, tomava banho e arreava o burrão, atrelando nele a charrete, usada para comparecer ao bar do Maçarico.
 

            Isso era o que comumente acontecia. Pois foi naquela tarde de terça-feira que Aníbal, cansado da lida no eito, chegou à choupana habitada por ele, a mulher, e os dois filhos.

 

            O homem vinha nervoso, exausto, fedido, mal humorado e ansioso pra beber, junto com os companheiros, o primeiro gole de pinga num dos botecos da cidade.

 

            - Cadê a canequinha pra tomar o banho? - gritou ele, cheio de ódio, à Murtinha. A mulher temerosa com os espancamentos habituais olhou para a porta do barraco; queria-a desimpedida, para no caso de algum influxo de piti virulento, acometer o marido, pudesse ela safar-se com sucesso.

  

            -   Não sei. Deve estar perto do poço. - respondeu ela parada defronte ao fogão à lenha, onde enxugava as mãos no avental  amarrado na cintura.

 

            - O Nelsinho brincava com a caneca lá perto da fossa. Será que não está lá? - completou Murtinha cheia de boa vontade.

 

            - Na fossa? Mas esse moleque quer mesmo levar uma surra! Será que não aprende? - Aníbal já estava sem camisa, sem as botinas e de calção, queria lavar-se.

 

            Depois que ele vestiu os chinelos, saiu em direção ao local por eles chamado  banheiro. Na verdade o chuveiro não passava de uma lata cheia d´água fria, antes retirada do poço, mantida suspensa num poste e, inclinada ao ser puxada por uma cordinha, deixava cair o líquido sobre o banhista. Uma bacia posta sob os pés do usuário, reservava a água que depois era reutilizada para o enxágue com a caneca.

 

            Aníbal lavou-se apressadamente, enxugou-se e de volta pra casa, vestiu-se aproveitando a privacidade relativa do quarto. A casa não tinha forro e as paredes chegando até certa altura, não vedavam completamente o cômodo. Permanecia um espaço grande do limite superior das paredes até o madeiramento que sustentava as telhas.

 

            Não eram raros os momentos de amor entre Aníbal e Murtinha, cujos gemidos eram ouvidos pelos filhos, deitados no aposento contíguo.

 

            Mas naquela terça-feira, com uma vontade incontrolável de beber a sua pinga necessária Aníbal, já vestido mandou laçar o burro que pastava na redondeza. Ele então preparando os arreios e a charrete, atrelou-os no animal que ruminava.

 

            O lavrador pegou aquele seu rádio enorme e ligando a fiação numa bateria de automóvel mantida no assoalho da viatura, acionou-o podendo ouvir, naquele momento, a história do menino da porteira, cantada  pelos violeiros famosos.

 

            Ajeitando o chapéu de caubói no alto da cabeça, por sobre os cabelos que embranqueciam, e espancando o burro com um açoite, pôs-se o Aníbal a caminho da sua mais nova e esperada aventura etílica.

 

            Momentos antes de sair da propriedade, de passar por seus limites, antes mesmo de chegar ao portão, ele parou e voltando-se pra trás gritou:

 

            - Mulher! Ô mulher: não esquece de dar painço pros periquitos! Você ouviu criatura?

 

            Murtinha apareceu à porta da cozinha e acenando pro marido, propiciou a ele a despreocupação que precisava, para beber sem atropelos.

 

            Ao chegar ao bar do Maçarico Aníbal encontrou Van Grogue que sentado numa mesa de canto, lia a seção de esportes do jornal tupinambiquense.

 

            - Ué, mas não houve coleta de lixo hoje por aqui? - perguntou o cortador de cana pro Maçarico, depois de apontar com o queixo o bêbado leitor.

 

            Maçarico sabia que os dois não se davam. Primeiro porque Van Grogue era muito mais novo que Aníbal, segundo porque este não era letrado o que dificultava a compreensão dos ditos pelo primeiro.

 

            Por ser incapaz de entender o que dizia Grogue, Aníbal considerava-o louco. Era o jeito que ele usava para manter a sua autoestima inalterada, geralmente abalada pelos discursos do homem,  sabedor de tudo o que publicavam os jornais.

 

            Maçarico abriu uma cerveja servindo o lavrador. E querendo ajudar disse:

 

            - Eu também não tive tempo de aprender a leitura. Precisei trabalhar cedo. Meu pai cortava cana. Minha sorte foi que minha tia veio de São Paulo e me levou pra casa dela onde aprendi o bê-á-bá.

 

            - E se não tivesse aprendido, hoje você seria babá de criança retardada, com certeza. - arrematou Aníbal para o espanto do Van Grogue que se desconectou da leitura.

 

            - Ora, ora, mas vejam quem está aqui. O famoso Aníbal, o homem que gosta de caçar e prender periquitos. Você ainda está viva criatura? O que sucede? - Grogue com a voz pastosa de quem já bebera a cota do dia, levantava-se para se achegar ao carroceiro.

 

            Aníbal evitando qualquer contato com aquela figura detestável, pediu ao Maçarico que lhe vendesse um garrafão de pinga. Depois de pagar a mamãe-sacode e a cerveja, que deixou por terminar, ele saiu dizendo:

 

            - Antes beber sozinho a baronesa quente do que a cerveja gelada, em má companhia.

 

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publicado às 23:56

Criando escândalos

por Fernando Zocca, em 20.04.10

                              Há crianças  previamente instruídas de forma direta ou indireta, pelos pais vivenciadores de situações de miséria, que podem seduzir adultos, criando  uma ocorrência transformadora  da sorte de todos os envolvidos.  

                               São armadilhas condutoras do adulto a imaginar que, por ter sido instigado pelo menor, não será por ele denunciado.  

                               O adulto vulnerável pode ser convidado a exibir seu órgão genital, com o qual o provocador comparará ao seu. Depois disso a pessoa que se deixou levar estará à mercê do menor e das pessoas que o instruíram.

                               Essa estratégia não é nova e serve para vexar, expor ao clamor público, a vítima do grupamento ofensor.

                               Na verdade o convide do pré-adolescente ou mesmo da criança ao adulto poderia servir de justificativa para o crime. Não existe desculpa. A pessoa madura que se deixa seduzir por menores de idade, responderá criminalmente por seus atos.

                               O que mais acontecia, depois da consumação do delito, era a manutenção do segredo com o qual as “vitimas” e até mesmo coronéis ou partidos políticos, obtinham proveitos perenes.

                               A criação do escândalo passa por diversas fases. A primeira delas é o ambiente tenso, pobre, subdesenvolvido e sujo habitado pelas pessoas. A segunda seria a certeza de que não teriam futuro nenhum se não fizessem alguma coisa que comovesse os outros. A terceira etapa consistiria em aproveitar o surgimento da sexualidade nas crianças destinadas à indução do erro, provocando nelas, de forma direta ou mesmo indireta, o interesse pelo sujeito a ser atingido.

                               Na quarta fase o menor se aproximando da vítima exporia seus desejos fazendo crer que por ter sido dele a iniciativa, não haveria nenhuma conseqüência penal.

                               Hoje em dia, para o bom proveito midiático, os adversários produzem a ampla divulgação do resultado das armadilhas adrede preparadas.

                               As consequencias da divulgação dos fatos podem influir na carreira, na saúde, e na fortuna do adulto vitimado. Não se poderia afirmar terem sido os adultos acusados, vítimas de falsas acusações se se deixaram levar pela lascívia do provocador.

                               Uma das motivações para a elaboração de planos dessa ordem seria a econômica. Da mesma forma que há mudança na sorte material da mulher que aciona o pai do seu filho na justiça, exigindo a pensão alimentícia, haveria também transformações financeiras na vida dos denunciadores dos escândalos sexuais

                               O exercício do poder num determinado lugar pode muito bem ser outro motivador da elaboração desse tipo de ardil.

  

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publicado às 17:54


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