Os Evangelhos afirmam que são bem aventurados, dentre outros, os pobres de espírito, pois deles será o reino dos céus.
Quero entender aqui, como pobres de espírito, os analfabetos, que já no tempo de Jesus, medravam aos milhares.
Imagine as ondas sucessivas de indignação, vindas das vísceras populares, ante os ensinamentos daquela criança, que no meio dos experimentados da lei, falava sobre os antigos profetas.
- Mas como é que pode isso, quem deu autoridade, de onde vem esse conhecimento, dessas coisas? – perguntavam os embasbacados senhores dos templos, daquele tempo.
Jesus queria ser profeta, sacerdote e rei, mas não contava com o apoio dos sacerdotes e nem dos políticos. E foi dessas áreas que vieram as tramas que o levaram à crucificação.
Ainda hoje os pobres de espírito podem ter o reino dos céus. Mas se esse reino depender da lei dos homens, alguns analfabetos não poderão entrar.
É o caso do palhaço Tiririca. Eleito com mais de um milhão e trezentos mil votos, identificáveis consigo, esse personagem da história brasileira, pode não usufruir das benesses do cargo, se a lei for seguida a risca.
Veja você o que está na balança: de um lado as intenções de mais de um milhão de pessoas. Do outro as determinações feitas por políticos também alçados aos cargos eletivos, pela vontade popular.
Na minha opinião o próprio interessado deveria resolver esse conflito entre o coração e a razão, entre as normas morais e legais dizendo, numa defesa por escrito, que é bem alfabetizado, tem interesse em ocupar o cargo e como poderia, com seus dotes circenses, auxiliar o progresso da nação brasileira.
O governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, na primeira reunião com seus liderados, na terça-feira (5/1), na sede do governo, defendeu-se das reações provocadas pelas publicações dos vídeos, em que aparece recebendo propina, do secretário Durval Barbosa. Com ironia Arruda diz ser “culpado até da Mega-Sena’.
Esse mais novo episódio da corrupção, observada entre políticos brasileiros, foi trazido à luz, no dia 27 de novembro, pela operação Caixa de Pandora da Polícia Federal, e foi batizado de Mensalão do DEM.
No inquérito policial, José Roberto Arruda é indicado como o mentor de um esquema de corrupção e distribuição de dinheiro público, entre os deputados distritais e aliados.
O encontro com o secretariado, em que não foi permitido fazer perguntas, serviu para informar que as contas do governo estão em dia e que nenhuma obra pública estaria parada. A assembléia legislativa do distrito federal, a quem cabe julgar os pedidos de impeachment, feitos contra os atos ilícitos, flagrados pelas câmeras de Durval Barbosa, é composta por deputados aliados ao governador.
Notícias publicadas no jornal O Estado de S. Paulo reportam que na cidade de Águas Claras, próxima de Brasília, a sogra, a mulher e os filhos de José Roberto Arruda, no período de três anos, adquiriram aproximadamente R$ 1,3 milhões em imóveis.
Ainda conforme O Estado de S.Paulo, a sogra teria comprado um apartamento de 93m2 e uma quitinete avaliada em R$ 140 mil, no mesmo prédio onde a mulher do governador também obteve um apartamento.
Mas não é mesmo muito importante ter amigos, vários deles, com os quais pode-se reunir com frequência, usufruindo os bons churrascos e aquelas cervejas geladas? Isso pode ser indispensável, mas para tanto precisa-se de um certo suporte de, digamos, caixa.
Ora, se você é daqueles que não ganhou na mega-sena da virada e não tem como prever o aporte de capital, como então amealhar a grana para as festinhas?
Se você tivesse um amigo rico tipo José Roberto Arruda ou Leonardo Prudente poderia lhes pedir algum emprestado. Com certeza não negariam. Ainda mais agora, nessa época de festas, férias e tempo de diversão.
Além de terem muito dinheiro, eles ainda possuem os cargos públicos que lhes rende os salários no final do mês. Então quem sabe, você que deseja pagar as contas que fez, ao adquirir os panetones, os pernis, as cerveja, e as outras iguarias, poderia se candidatar a provável beneficiário da bondade desse pessoal importante.
É claro que eles ainda não gastaram toda a bufunfa. Podem estar usando-a para fortalecer a permanência nos cargos, ameaçada pela divulgação, há muito tempo, das imagens deles, recebendo muita propina do senhor Durval Barbosa.
Além dos pacotes e mais pacotes de dinheiro vivo, que estão em seu poder, os tais homens públicos possuem, com certeza, um rol inumerável de propriedades tanto móveis quanto imóveis.
Ora, pra quem tem tanto, o que custaria atender às solicitações dessa gente que não tem como pagar as despesas das festas de Natal e fim de ano? Mesmo que as filas, que, por ventura, pudessem se formar diante das casas desses homens, a certeza de que poderiam atender a todos, os deixaria bem calmos e sob controle.
Eles poderiam fazer como faz o Papai Noel. Só que com alguma diferença: o Papai Noel visita, de casa em casa, as crianças que pedem presentes. Aqui, os carentes poderiam visitar o benfeitor, que lhes satisfaria parte das carências materiais.
Sugere-se que a formação das filas de espera, não ocorra durante o horário do expediente dos senhores políticos no palácio do governo e nem na câmara do distrito federal. Quem é que desejaria ver as personalidades tão indispensáveis, faltando do trabalho pra fazer caridade, não é mesmo?
Para minorar a imagem ruim que esses senhores conseguiram pra eles mesmos, os futuros recebedores de auxílio financeiro poderiam publicar, nos jornais de grande circulação de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, que receberam presentes de José Roberto Arruda e Leonardo Prudente, que são pessoas boníssimas.
Mas, poderá perguntar meu querido e nobre leitor, quem poderia precisar de algum tostão concedido pelo governador do distrito federal e pelo presidente da assembléia legislativa distrital?
Podemos garantir que existem milhares de entidades filantrópicas com os cofres vazios, mas que nem por isso eximidas de prestar o socorro solidário. Afinal, pra quem recebeu tanto, sem quase trabalho nenhum, o que custaria repartir um pouco, não é verdade?