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Fugindo do dentista

por Fernando Zocca, em 01.10.09

 

- Sabe seu Zé, essa negadinha fica falando que eu sou um cara relaxado, que não ligo pra cuidar dos meus dentes e piriri-pororó. Eles não sabem que sem os dentes minha boca fica maior, cabendo mais comida. E depois tem mais, viu seu Zé: quem agüenta tanta dor pra tratar os canais? Veja bem: quando eu era ainda menino, meu pai me mandava ir pro dentista por qualquer motivo. E lá no consultório aquele homem alto, chato e feio, me mantinha com a boca aberta, contando os casos que ele tinha com as namoradas. Quando o cara percebia que eu estava ficando excitado, empurrava com força aquelas suas brocas terríveis nas minhas covas inflamadas. Sabe, quem é que agüenta tanta maldade e judiação? Assim a gente não resiste. E vai deixando de lado essa história de tratar os dentes. E depois tem mais viu seu Zé: o cara não se preocupava se aquele amálgama que ele preparava continente de mercúrio me intoxicaria ou não. Os resíduos das obturações não eram retirados imediatamente, permanecendo, às vezes, durante o tempo todo da estadia no consultório, debaixo da língua. Sabe seu Zé a gente não somos  paranóicos, mas sofremos muito nas mãos dessa turma de malvados. E por falar nisso, eu me lembrei de uma visita rotineira que fazia ao oculista, o cara depois de algum tempo, olhou-me bem de perto, tendo aproximado seu rosto do meu, quase o tocando. Eu acho que ele intencionava observar os capilares da retina. E depois que lhe respondi uma pergunta que fizera, sabe o que ele afirmou? Ele disse: - Você é louco. Tudo bem, mas precisava ser assim tão direto, convincente, declarado, e verídico? “Ora direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso”, lembrei-me eu do que aprendera na escola. Mas voltando ao assunto você não acha que se eu for agora ao dentista não perderei um tempo importantíssimo, em troca de uma “perereca” fajuta que vai mais me importunar do que proporcionar satisfação? Ora, ora. E depois tem mais, viu seu Zé: pra que preciso de dentes se no meu serviço eu não os uso? Meu trabalho é endireitar, com marteladas, as latas que se encontram tortas e amassadas. Veja que dos 32 nem mesmo tenho os 28. Quem é que dorme com um barulho desses?

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publicado às 16:39

Apagando as marcas da sua passagem

por Fernando Zocca, em 26.09.09

 

            Você que é blogueiro e adora o que faz, tendo vivido momentos deliciosos com essa atividade, acumulado páginas e mais páginas da mais legítima expressão própria, já imaginou o que seria se de um dia pro outro visse que todo aquele seu trabalho foi simplesmente deletado?
 
            Pois é amigo! Isso pode acontecer. Se você tem muita gente importante perturbada pelo que é escrito, saiba que esse pessoal possui o maior interesse em detonar suas manifestações.
 
            Os detentores da sua senha conseguida por programas conhecidíssimos, assim de um momento pro outro, podem decidir que você não deve mesmo deixar rastro na internet.
 
            E desejando que sua passagem pela existência virtual seja semelhante às marcas deixadas pelas nuvens no céu, pelos traços feitos pelas quilhas das embarcações nas águas do mar, eles não desistiriam enquanto não o vissem completamente zerado.
 
            Quando eu era menino e morava à Rua Benjamim Constant, 1528 havia numa casa vizinha, que tinha pedriscos verdes incrustados na parede externa, um casal formado por dois irmãos já bem idosos. O homem era calvo, alto, branquelo e chamava-se Salvador. Ele tinha uma irmã com problemas mentais. Seu nome era Angelina e ela era impedida de sair às ruas. Ela babava e não se expressava de forma usual.
 
            Angelina andava descalça pela casa e descabelada, com aqueles vestidos esvoaçantes, emitia grunhidos enquanto se agitava na habitação.
 
            Se não me engano corria o ano de 1959 quando o Salvador, na garagem contígua da sua casa, fez uma loja onde vendia aqueles produtos de armarinho. Ele passou a negociar linhas, agulhas, cortes de tecido, elásticos, e todo aquele aparato que se encontra nos locais assemelhados.
 
            Lembro-me que o Salvador quis que eu trabalhasse pra ele e eu realmente permaneci por algumas horas, de um dia qualquer, atrás do balcão aguardando os possíveis fregueses. Mas eu não gostava mesmo de ficar parado. E por isso, depois da primeira experiência nunca mais voltei.
 
            Sei que as meninas vizinhas Regina, Marlene e Marina passaram pela loja do Salvador onde aprenderam o trato com o público. Esse aprendizado foi-lhes útil quando se empregaram nas lojas maiores da Rua Morais Barros e Governador.
 
            Logo depois que Salvador e Angelina mudaram-se dali, a casa foi ocupada por uma senhora que tinha duas filhas, se não me engano. Elas – mãe e filhas - trabalhavam no mercado municipal, onde obtiveram a concessão de uma banca em que vendiam pastéis.
 
            Ao que me recordo a mãe das moças, vendedoras dos pastéis no mercado municipal, fora abandonada pelo marido. E ela conseguira a concessão, segundo os comentários dos teclados peçonhentos,  por meio da benesse política ofertada por um ocupante da Câmara de Vereadores.
 
            Naquele tempo ainda não existia a figura do divórcio. A separação legal chamava-se desquite sendo que toda a reprovação social recaia na pessoa da mulher desquitada. Porém esse fenômeno não impedia a ocorrência dos distanciamentos. Havia muita gente que se separava.
 
            Lembro-me que no ginásio, algumas colegas tinham pais separados. Não me sai da memória o dia em que, ao chegar à casa de uma delas, pra fazer um trabalho escolar, presenciei a mãe chorando na cozinha. A explicação que me deram foi a de que ela se lembrava do marido que fora morar com outra mulher.
 
            Na verdade, aqueles olhos vermelhos, túmidos, o lenço branco e as assopradas raivosas de nariz, lembravam alguém num velório a chorar por um conhecido morto. É claro que a dor seja maior quando o abandonador, por ocupar um cargo público eletivo, tendo muito prestígio, popularidade, fama e dinheiro, esteja sempre presente nas recordações da prejudicada.
 
            Pois veja que aqueles que pretendem apagar da face da terra os vestígios da sua existência, sejam motivados pelo desejo de não se lembrar mais de você ou das coisas que tenha feito, falado ou escrito.
 
            Pode ser que você lhes provoque o sentimento de culpa com o qual sofrem muito. E enquanto eles não aprenderem algo sobre a remissão dos pecados, talvez você realmente, corra algum perigo.
 
 
 
Fernando Zocca.
 
 
 
                                    
 
 
 
 
                                       

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publicado às 14:18

Absolvendo culpados, condenando inocentes

por Fernando Zocca, em 16.07.09

 

Você já percebeu a existência de pessoas que se sentem as donas da cidade? O sujeito pode achar-se o “dono do pedaço” quando por obra da corrupção vê-se reeleito cinco ou mais vezes para o exercício do mandato parlamentar.
                        O “proprietário” da cidade age como se realmente estivesse agindo dentro da sua própria casa ou da sua fazenda. Os contumazes ocupadores dos cargos eletivos atribuem o seu sucesso, mais ao “carinho” que podem ter do eleitorado, do que às manobras corrompedoras da vontade do eleitor.
                        “Mas, espera um pouco ai...” - pode tentar contestar nosso arguto leitor - “De que forma corromperiam os tais homens a vontade do cidadão?”.
                        Algumas pessoas sabem que o nobilíssimo presidente do legislativo piracicabano, numa audiência pública, havida há algum tempo em Piracicaba, discursou defendendo a tese de que se o candidato não ofertar mimos aos seus simpatizantes, certamente não se elegerá.
                        Dizia naquela ocasião, o preclaro homem político interiorano, que se o postulante não pagasse as contas de água, luz, oferecesse dentaduras, cestas básicas e conseguisse vagas hospitalares aos necessitados, ele não teria chance de ser alçado ao cargo pretendido.
                        Então o que vemos ai não deixa mesmo de ser a realidade anunciada pelo presidente da casa de leis piracicabana. O político tem que praticar bastante o seu lado “assistente social”.
                        Se o meu leitor esperto fizer uma conta bem simples, notará que os benefícios que os ocupantes dos cargos eletivos causam aos mais pobres são muito inferiores ao que lucram no final de doze meses de salários.
                        A perpetuação no poder vicia as instituições que passam a funcionar como se fossem propriedade do seu tutor, benfeitor, em detrimento do caráter impessoal que deve ter toda e qualquer instituição pública.
                        Então, especialmente numa cidade pequena, qual funcionário de repartição se negaria a conceder favores ao político que ocupa a vaga há quinze ou vinte anos? Ai está a base, o cerne, do tráfico de influencia.
                        E o que pode a lei ante o tráfico de influência? Você pode ter todos os argumentos, razões, provas e formas de expressão de um litígio do qual faça parte. Mas numa cidade onde as instituições estão cancerosas e disfuncionais de que lhe valeria o direito?
                        Não é difícil você mesmo constatar que o “jeitinho” brasileiro nada mais é do que a utilização da amizade pessoal e da opinião pública, para a solução injusta de problemas.
                        Com esse tipo de filosofia, com muita facilidade, absolve-se com freqüência o culpado e condena-se o inocente. Que maldita justiça é essa?
                        E sabe o que acontece depois? Os corruptos tentam enfiar-lhe goela abaixo outra solução “semelhante”. Os poderosos agem assim igual ao farmacêutico criminoso que não tendo o remédio que a receita lhe pede, procura empurrar-lhe outro similar.
                        Assim vamos indo. Eles lá saciados, satisfeitos, irônicos,  enfadados, com os cofres e contas bancárias transbordantes e nós, da mundiça catinguenta, aqui a observar sem poder fazer nada.
                        Falta muito para que o MST comece a praticar a ordem unida?
 
Fernando Zocca.
 
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publicado às 14:48


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