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Aníbal, o Cortador de Cana

por Fernando Zocca, em 29.10.10
            Aníbal depois que chegava a casa, vindo da roça, onde passava a maior parte do dia cortando cana, tomava banho e arreava o burrão, atrelando nele a charrete, usada para comparecer ao bar do Maçarico.
 

            Isso era o que comumente acontecia. Pois foi naquela tarde de terça-feira que Aníbal, cansado da lida no eito, chegou à choupana habitada por ele, a mulher, e os dois filhos.

 

            O homem vinha nervoso, exausto, fedido, mal humorado e ansioso pra beber, junto com os companheiros, o primeiro gole de pinga num dos botecos da cidade.

 

            - Cadê a canequinha pra tomar o banho? - gritou ele, cheio de ódio, à Murtinha. A mulher temerosa com os espancamentos habituais olhou para a porta do barraco; queria-a desimpedida, para no caso de algum influxo de piti virulento, acometer o marido, pudesse ela safar-se com sucesso.

  

            -   Não sei. Deve estar perto do poço. - respondeu ela parada defronte ao fogão à lenha, onde enxugava as mãos no avental  amarrado na cintura.

 

            - O Nelsinho brincava com a caneca lá perto da fossa. Será que não está lá? - completou Murtinha cheia de boa vontade.

 

            - Na fossa? Mas esse moleque quer mesmo levar uma surra! Será que não aprende? - Aníbal já estava sem camisa, sem as botinas e de calção, queria lavar-se.

 

            Depois que ele vestiu os chinelos, saiu em direção ao local por eles chamado  banheiro. Na verdade o chuveiro não passava de uma lata cheia d´água fria, antes retirada do poço, mantida suspensa num poste e, inclinada ao ser puxada por uma cordinha, deixava cair o líquido sobre o banhista. Uma bacia posta sob os pés do usuário, reservava a água que depois era reutilizada para o enxágue com a caneca.

 

            Aníbal lavou-se apressadamente, enxugou-se e de volta pra casa, vestiu-se aproveitando a privacidade relativa do quarto. A casa não tinha forro e as paredes chegando até certa altura, não vedavam completamente o cômodo. Permanecia um espaço grande do limite superior das paredes até o madeiramento que sustentava as telhas.

 

            Não eram raros os momentos de amor entre Aníbal e Murtinha, cujos gemidos eram ouvidos pelos filhos, deitados no aposento contíguo.

 

            Mas naquela terça-feira, com uma vontade incontrolável de beber a sua pinga necessária Aníbal, já vestido mandou laçar o burro que pastava na redondeza. Ele então preparando os arreios e a charrete, atrelou-os no animal que ruminava.

 

            O lavrador pegou aquele seu rádio enorme e ligando a fiação numa bateria de automóvel mantida no assoalho da viatura, acionou-o podendo ouvir, naquele momento, a história do menino da porteira, cantada  pelos violeiros famosos.

 

            Ajeitando o chapéu de caubói no alto da cabeça, por sobre os cabelos que embranqueciam, e espancando o burro com um açoite, pôs-se o Aníbal a caminho da sua mais nova e esperada aventura etílica.

 

            Momentos antes de sair da propriedade, de passar por seus limites, antes mesmo de chegar ao portão, ele parou e voltando-se pra trás gritou:

 

            - Mulher! Ô mulher: não esquece de dar painço pros periquitos! Você ouviu criatura?

 

            Murtinha apareceu à porta da cozinha e acenando pro marido, propiciou a ele a despreocupação que precisava, para beber sem atropelos.

 

            Ao chegar ao bar do Maçarico Aníbal encontrou Van Grogue que sentado numa mesa de canto, lia a seção de esportes do jornal tupinambiquense.

 

            - Ué, mas não houve coleta de lixo hoje por aqui? - perguntou o cortador de cana pro Maçarico, depois de apontar com o queixo o bêbado leitor.

 

            Maçarico sabia que os dois não se davam. Primeiro porque Van Grogue era muito mais novo que Aníbal, segundo porque este não era letrado o que dificultava a compreensão dos ditos pelo primeiro.

 

            Por ser incapaz de entender o que dizia Grogue, Aníbal considerava-o louco. Era o jeito que ele usava para manter a sua autoestima inalterada, geralmente abalada pelos discursos do homem,  sabedor de tudo o que publicavam os jornais.

 

            Maçarico abriu uma cerveja servindo o lavrador. E querendo ajudar disse:

 

            - Eu também não tive tempo de aprender a leitura. Precisei trabalhar cedo. Meu pai cortava cana. Minha sorte foi que minha tia veio de São Paulo e me levou pra casa dela onde aprendi o bê-á-bá.

 

            - E se não tivesse aprendido, hoje você seria babá de criança retardada, com certeza. - arrematou Aníbal para o espanto do Van Grogue que se desconectou da leitura.

 

            - Ora, ora, mas vejam quem está aqui. O famoso Aníbal, o homem que gosta de caçar e prender periquitos. Você ainda está viva criatura? O que sucede? - Grogue com a voz pastosa de quem já bebera a cota do dia, levantava-se para se achegar ao carroceiro.

 

            Aníbal evitando qualquer contato com aquela figura detestável, pediu ao Maçarico que lhe vendesse um garrafão de pinga. Depois de pagar a mamãe-sacode e a cerveja, que deixou por terminar, ele saiu dizendo:

 

            - Antes beber sozinho a baronesa quente do que a cerveja gelada, em má companhia.

 

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publicado às 23:56

Na China cães e gatos são alimento

por Fernando Zocca, em 04.03.10

 

                  Cada povo com a sua cultura. Nós aqui no Ocidente procuramos cuidar da melhor forma possível dos nossos cães e gatos. Outro dia vi na TV, se não me engano no Domingão do Faustão, uma atriz pedindo às pessoas que não comprassem os animaizinhos. O objetivo dela era o de lançar uma campanha restritiva do comércio dos bichinhos e da degradação que eles sofrem.
                   Entre nós existem até sociedades protetoras dos animais. Há leis que protegem a integridade física e a saúde desses nossos irmãozinhos.
                   Nas Universidades há cursos de Veterinária formadores de profissionais que cuidarão do bem estar dos amiguinhos. São Francisco de Assis considerava os animais criaturas de Deus devendo ser respeitados por nós, seres humanos.
                   Quem não se indigna quando vê alguém promovendo maus tratos contra eles? No Rio de Janeiro, há algum tempo, o vereador Cláudio Cavalcanti, propôs uma lei que tinha por objetivo liberar os animais de tração, dos suplícios e maus tratos feitos por seus proprietários.
                   Cláudio Cavalcanti foi ator da Rede Globo, tendo atuado em muitas novelas e filmes inesquecíveis.
                   Hoje uma indústria enorme floresce em torno do bem estar e saúde dos bichos. Há fábricas de ração, de xampus, sabonetes, medicamentos, roupas; há clínicas de psicologia especializadas, tratamentos que usam a homeopatia, e até peritos que aplicam passes nos debilitados.
                   Há ainda treinadores profissionais, que ganham a vida adestrando os bichos.
                   Isso tudo acontece aqui, no Brasil. Mas na China a coisa não é bem assim, não. Lá, minha amiga, os gatinhos e cachorrinhos, antes de virarem comida, são tratados com a maior crueldade.
                   Eles são amontoados e aprisionados nos engradados minúsculos para o transporte por caminhões. As gaiolas são empilhadas nas carrocerias e levadas  até os abatedouros. Existem locais que funcionam como entreposto, aonde os usuários vêm para comprar a preciosa mercadoria.
                   Veja no vídeo como funciona a matança de cães e gatos, na China.

 

Você comeria bifes de carne de cachorro ou de gato?

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publicado às 20:21


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