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Não se pode negar que o fortalecimento das ações criminosas, principalmente no complexo do Alemão e Vila Cruzeiro, tiveram a “contribuição” de alguns políticos omissos.
Então quando você, na sua cidade natal, percebe as falcatruas relacionadas com licitações, ambulâncias e superfaturamento de obras, cometidas pelos distintos ocupantes do poder, e não faz nada contra, certamente estará incentivando o surgimento de “governos paralelos” como esses desbaratados ontem no Rio de Janeiro.
O sucateamento das instalações hospitalares públicas, a deterioração dos salários dos professores, os abusos cometidos nos pedágios, o enriquecimento ilícito, o controle da imprensa, em cidades vulneráveis aos corruptos, são o resultado da completa omissão e alheamento da participação popular.
O que seu deputado federal tem feito para melhorar o conforto, o bem estar e a paz na sua cidade? Ele só se dedica a financiar programas culturais e jornalísticos objetivando acicatar adversários políticos?
Você pode imaginar qual é o salário do deputado federal que acabou de reeleger? Você consegue ter a noção de quanto tempo teria de trabalhar, recebendo um salário mínimo, para conseguir o que um só deputado federal recebe, entre verbas diversas e salários, num mês?
E aquele vereador analfabeto, que quando se candidatou, afrontou a constituição da república apresentando documentos falsos? Hoje ele comemora vinte, trinta anos de ocupação no cargo. Você teria a “cara de pau” para fazer isso?
São essas mazelas que induzem, de uma forma ou de outra, o surgimento do tal poder paralelo, que acabamos de ver derrotado no Rio de Janeiro.
Só para relembrar: seria difícil entender que a sensação de injustiça provocada pela vitória de uma única empreiteira, durante o mandato de um prefeito, conduziria a consequências tão graves, como o desencadeamento de ações criminosas e organizações semelhantes às que acabamos de ver pela TV?
Você consegue imaginar a dimensão dos danos morais que o médico Roger Abdelmassih causou nas suas 39 vítimas?
Proprietário de uma das clínicas mais famosas e caras de São Paulo, especializada em fertilização, Roger se aproveitava da inconsciência das pacientes, para praticar estupros e abusos sexuais.
As consultas caríssimas, só permitiam o acesso à clínica, de mulheres com grande poder aquisitivo. Pacientes ricas e lindas mais a suposta inconsciência foram fatores estimulantes, despertadores da sanha criminosa no doutor.
As queixas contra o comportamento doentio do médico não foram feitas por uma única paciente. As vítimas desse crime talvez tenham sido muito mais numerosas do consta na denúncia do Ministério Público paulista.
Mas somente 39 delas conseguiram ser ouvidas tanto na delegacia de polícia, quanto no juízo da 16ª Vara Criminal de São Paulo.
Consta dos autos que o tarado, aproveitando-se da sonolência das pacientes, induzida por hipnóticos e anestésicos, praticava atos e cometia outros abusos de ordem sexual.
As vítimas, no momento da perpetração dos delitos, usavam somente camisolas hospitalares e, na posição deitada, para a aspiração de óvulos, sofriam as consequências do comportamento psicótico.
A juíza Kenarik Boujikian Felippe da 16ª Vara Criminal ouviu mais de 200 testemunhas num processo que chegou a 10.000 páginas.
Na sentença, prolatada ontem (23/11), baseado em tudo o mais que dos autos constava o veredito: 278 anos de prisão.
De acordo com as normas, que regem o processo penal, o réu pode pedir um novo julgamento, que aguardará em liberdade.
Pitirim Zorror acordou, naquela manhã de segunda-feira, com uma dor de cabeça horrível. Seu companheiro de quarto, ali no famoso Spa Naka, roncara a noite inteira. Apesar do adiantado da hora, aquele gogó ainda estrondeava.
Ambos internaram-se na clínica objetivando perder peso e livrar-se dos incômodos da intoxicação causada pelo uso diário do álcool. Pitirim arrancou o travesseiro debaixo da cabeça pesada e lançou-o contra a fonte insuportável de ruídos.
Ernesto Mail assustou-se com o impacto. Atordoado, ele pode ouvir o trinado dos pássaros, àquela hora da manhã. Nervoso ele exclamou:
- Que saco! Não se pode mais, nem ao menos, dormir direito nesse lugar.
Um odor de café coado naquele momento evolava no ambiente, aguçando a fome nos demais residentes.
Pitirim percebeu suas mãos trêmulas. Ele sabia que só as teria firmes, depois duma talagada generosa. E. Mail começou a falar:
- Eu notava que os vizinhos da minha casa conversavam, sobre mim, com os vizinhos daquele boteco, lá no centro. Eu tenho certeza que eles todos comentavam sobre minha... minha... nobre... pessoa, com os vizinhos da construtora onde eu aparecia todas as manhãs, para trabalhar.
Pitirim levantou-se e foi dizendo:
- Já está delirando a essa hora! Você não é oceano, mas tá cheio de ondas hein, ô da psicose! Vai se levantando rápido. Aquele enfermeiro maluco vem chegando aí. Você sabe que ele não vai com a tua cara.
Pitirim sentiu que fora um tanto quanto seco e rude com o parceiro. No fundo sabia que Ernesto Mail tinha razão e estava certo com as suas percepções. O pessoal da seita maligna do pavão-louco não era flor que se cheirasse. Aquela gente era de morte.
E. Mail, tossindo, botou os pés no chão. Seus cabelos estavam desgrenhados; o rosto mal barbeado e vermelho. Em tom de cochicho ele perguntou:
- E a mais lindinha? Acabou?
Pitirim, percebendo que aquela concorrência, poria em perigo o prazer da embriaguez do dia, asseverou:
- Acho melhor você se cuidar. Aquela turma do pavão-louco está todinha atrás de você. Eles estão com ódio e desejam ver-te mais seco do que roçado nordestino.
Ambos se preparavam para descer e tomar o café matinal. Vestiam-se vagarosamente. De repente, as palmas estaladas à porta, assustaram os internos. A enfermeira Lucila Mao Mé, magra à semelhança dum frango morto, depenado e dependurado, mostrando muita irritação, esbravejava:
- Vamos logo, se não vocês perderão a hora do desjejum. Parece que não sei... Parece que bebem...
E. Mail sussurrou:
- Ih rapaz! É aquela louca que confunde colega com Corega. Tamos ferrados!
Pitirim emendou:
- Essa capivara não tem carrapato com maculosa, mas pode te esquentar a cabeça. Vamos logo, ô praga de usineiro, sai da frente!
No refeitório, sentados um defronte ao outro, eles conversavam, entre goles compassados de café com leite. Ernesto Mail disse:
- Piti hoje tenho consulta com o endocrinologista. Ele pediu que eu escrevesse alguma coisa relacionada com o meu peso. Bolei essa cartinha. O que você acha?
Pitirim pegou o papel e mordendo um pedaço de torrada, passou a ler. O texto dizia assim:
"Quando era criança e já bastante gordinho, a molecada do bairro zoava-me muito durante as corridas pelo quarteirão. Eu sempre chegava por último. A gozação era geral: todos subiam na jabuticabeira e eu não podia nem ao menos passar pela segunda forquilha. Confesso a você que até mesmo as escadas conseguia descer. Eu próprio sentia compaixão por minha pessoa. Vá vendo... Mas do rio não é bom falar. Todos chegavam correndo às margens e, aos saltos, entravam n´ água. Saíam nadando, enquanto eu afundava igual a martelo."
"Diante desses fatos fui ficando assim meio caseiro, inferiorizado. Aquele senso de dessemelhança que se apossa do fofinho que vive num grupo de magros, obrigou-me a desenvolver a inteligência agressiva e a astúcia exuberante. Eles não contariam com a minha astúcia."
"Passei a escrever poesia quando estava supergamado e não tinha coragem para declarar meu amor."
"Os dias sucederam-se e eu ficava cada vez mais velho. Comecei a fumar. Pensei que fosse emagrecer com o tal hábito. Mas que nada. A adiposidade em meu corpo aumentou de tal forma que eu já não conseguia mais ver o biribiguá. Mas também pelo tamanho com que ele se apresentava, seria melhor que eu não me lembrasse da sua existência. Era humilhante."
"Reuni minhas poesias em alguns livrinhos xerocopiados e passei a oferecer às pessoas. Houve certa aceitação. Pelo menos em tais contatos sociais não haveria tantos rebaixamentos. Eles (os contatos sociais) se davam sob assuntos intelectuais e não por desempenhos físicos. Até aí tudo bem. Não encontrei nenhum concorrente que me pudesse fazer sombra."
"Reinei só durante alguns anos em nossa comunidade, sendo conhecido como Ernesto Mail Catão, o poeta pimpão."
"Mas você sabe como é: precisamos fazer algo de útil e remunerado durante essa nossa passagem pela terra. Se não, como sobreviveremos, não é verdade?"
"Ingressei então, pelo poder e graça dos grandes padrinhos, e por que não dizer, por minha capacidade intrínseca também, no serviço público municipal."
"Meu salário era ruim. Era tão minguado que me impedia de ver, e não via mesmo, outra alternativa para reforçar o orçamento, do que a da aceitação de bolas."
"A corrupção a que me submetia, quero deixar bem claro, não era prejudicial ao empregador a ponto de o fazer instalar uma CPI e me defenestrar do cargo. Tudo era muito leve e sutil. Espirituosamente sutil."
"Os anos passaram e agora, curto o diabetes, responsável pela minha disfunção erétil."
"Estou careca, gordo e com o bimbo mole. Mas escrevo minhas poesias. Gosto ainda de contar mentiras e, às ocultas, assoprar os defeitos alheios. Apesar dos laranjas e larápios viverem a dizer que não enxergo a trave no olho próprio."
"Nada mal para quem era um gordinho com nádegas flácidas e sem futuro. Não é verdade?"
Pitirim Zorror terminou a leitura e tossindo levemente disse:
- É bastante significativo. Tem conteúdo. O doutor vai entender que você era inferior e que por isso, para compensar, fazia essa poetagem toda. Seu caso assemelha-se aos demais integrantes dessas seitas malignas. Para ser aceito nelas é preciso estar separado do cônjuge, ser tabagista, obeso, alcoólatra, analfabeto, adolescente ou idiota. As maldades que praticam são compensações pela inferioridade material. Ajudam manter a autoestima.
Enquanto falava Pitirim não percebeu a aproximação de um novo interno. Era um sujeito alto, pelancudo, usava bigodes brancos e sujos; seus óculos estavam embaçados. Ele caminhava arrastando a perna direita. Calçava pantufas verdes e sua blusa era azul. O adoentado batia palmas e cantarolava: "É na palma da bota/ É na sola da mão..."
Ernesto e Pitirim se entreolharam e sem dizer palavra, saíram correndo a caminho do quarto. Lá no canto, no fundo do armário prata, estavam escondidas as garrafas de filha-de-senhor-de-engenho, néctares muletas que os fariam aguentar as chatices daquilo tudo.
Texto publicado originalmente em 14/10/2005 no site usinadeletras.
Os Evangelhos afirmam que são bem aventurados, dentre outros, os pobres de espírito, pois deles será o reino dos céus.
Quero entender aqui, como pobres de espírito, os analfabetos, que já no tempo de Jesus, medravam aos milhares.
Imagine as ondas sucessivas de indignação, vindas das vísceras populares, ante os ensinamentos daquela criança, que no meio dos experimentados da lei, falava sobre os antigos profetas.
- Mas como é que pode isso, quem deu autoridade, de onde vem esse conhecimento, dessas coisas? – perguntavam os embasbacados senhores dos templos, daquele tempo.
Jesus queria ser profeta, sacerdote e rei, mas não contava com o apoio dos sacerdotes e nem dos políticos. E foi dessas áreas que vieram as tramas que o levaram à crucificação.
Ainda hoje os pobres de espírito podem ter o reino dos céus. Mas se esse reino depender da lei dos homens, alguns analfabetos não poderão entrar.
É o caso do palhaço Tiririca. Eleito com mais de um milhão e trezentos mil votos, identificáveis consigo, esse personagem da história brasileira, pode não usufruir das benesses do cargo, se a lei for seguida a risca.
Veja você o que está na balança: de um lado as intenções de mais de um milhão de pessoas. Do outro as determinações feitas por políticos também alçados aos cargos eletivos, pela vontade popular.
Na minha opinião o próprio interessado deveria resolver esse conflito entre o coração e a razão, entre as normas morais e legais dizendo, numa defesa por escrito, que é bem alfabetizado, tem interesse em ocupar o cargo e como poderia, com seus dotes circenses, auxiliar o progresso da nação brasileira.
Acho extremamente boçal essa atitude de intocabilidade que se tem diante de uma pessoa, ou grupo, que infringe diuturnamente as regras da boa educação e do viver em paz.
A comunidade justifica a omissão em praticar a correção dos maus costumes, apontando a total deficiência mental dos infratores.
Ora, dessa forma estaria a sociedade toda dizendo: “Não ligue pra isso. Eles são assim porque não batem bem da bola”. A deficiência mental seria então o passaporte para a impunidade.
Uma das conclusões a que induz esse tipo de alheamento comunitário, é a de que as pessoas têm, na verdade, medo de se envolver com os ignorantes praticantes da violência.
Ainda mais pelo fato de terem os tais meliantes, parentes funcionários públicos, simpatizantes nas igrejas e no legislativo municipal.
Ora, de acordo com esse tipo de mentalidade equivocada, observável na comunidade, um bêbado pode agredir tranquilamente a qualquer outro cidadão e ver-se livre das consequências dos seus atos, com a justificativa de que é um bêbado.
Não esposo a ideia de que as pessoas de boa índole devam ficar reféns dos maus carateres, por serem eles pobres portadores da idiotia ou do alcoolismo.
Chegamos a um estágio de evolução que não se permite mais a falta de educação, as grosserias e a estupidez impunes, justificadas por defeitos genéticos ou doenças mentais.
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