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A paciência de santo

por Fernando Zocca, em 31.05.10

 

 
 
                               Faz parte da diversidade a existência e manifestação daqueles “espíritos de porco”, que a tudo criticam, mesmo que não haja motivo para isso.
 
                   Qual seria a intenção do observador que, ao notar flores ladeadas por outras maiores, afirma haver o “encolhimento” das primeiras?
 
                   Se colocarmos as flores “encolhidas” ao lado de outras menores, não estariam aquelas maiores?
 
                   É claro que os problemas pessoais de quem se manifesta influem nas suas expressões. Então a ausência de contatos físicos, talvez até em decorrência das baixas temperaturas, motivem  projeções do tipo “fulana pareceu encolhida”.
 
                   Cremos que seja essa uma forma equivocada de mandar recados. Mas por que a existência dessa mentalidade destacadora do desvantajoso, ou pontos negativos?
 
                   Talvez faltasse a ativação de uma dinâmica capaz de transformar todos os desprazeres, em estimulação positiva para as demais pessoas. Ou seja, faltou aprender que tendo eu recebido tantos dissabores, precise metamorfosear tudo isso, fazendo o bem ao invés de passar adiante as maldades recebidas.
 
                   Esse é o comportamento ideal. Mas não é o real, não é o que existe. E entre os civilizados seria meta razoável a ser atingida. O aprimoramento das nossas atitudes, a cada dia, reciclando os desaforos recebidos, transformando-os em bênçãos, é objetivo indispensável aos prósperos de uma sociedade.
  
                   Isso não é fácil, depende da compreensão, da boa vontade e principalmente do contato diário com a fonte de toda a sabedoria do universo.
 
                  Mas cá entre nós: como tem periguete chata na superfície dessa terra, hein?
 

 

 

 

Levando a sogra à passeio. 

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publicado às 19:52

A Fuinha bigoduda

por Fernando Zocca, em 30.05.10

Zelão Mané, um sujeito macérrimo, tinha os cabelos negros e seu rosto era afilado. Abaixo do nariz um bigode tosco e ralo lembrava o das fuinhas.

 

 Nas últimas eleições Zelão Mané se enroscara com Jarbas (o caquético-testudo), e ambos revolvendo formas de manterem-se nas mamatas do poder, acharam a fórmula: uniriam as crenças, antes antagônicas, em torno do projeto de destruição dum sujeito previamente demonizado por ambos.

 

Só pra situar meu nobilíssimo leitor, o tipo da quizumba era igual à existente entre o Carlos Lacerda e Getúlio Vargas, em 54.

 

A fuinha viera dum local ermo, lá do estado de Minas, completamente abandonado pelas autoridades locais. Ao Chegar em Tupinambicas das Linhas, resolveu freqüentar aulas onde aprendeu as primeiras noções da língua que falava.

 

Seus 12 filhos nasceram na cidade. Quando ele percebeu que trabalhar como empregado, não seria brinquedo, pois não tinha qualificação nenhuma, ponderou nas chances de se tornar vereador.

 

Ora, Tupinambicas das Linhas, sempre conhecida como a cidade concentradora da maior quantidade de loucos, jamais vista em qualquer outra parte do mundo, não se opôs ao projeto do pretendente.

 

Afinal, não existia gesto maior, e nem mais completo, de prova da hospitalidade, do que o de oferta dum cargo bom e vitalício.

 

Zelão Mané elegeu-se então uma, duas, três, quatro e cinco vezes, como o mais supimpa e festejado vereador de todos os tempos da cidade histórica.

 

Seus filhos todos, empregados na prefeitura municipal e nas demais repartições autárquicas, cresceram, casaram-se e quando se viram enrolados com os problemas causados pelo excesso de adolescentes improdutivos, dentro das suas casas, procuraram logo o presidente da câmara municipal de Tupinambicas das Linhas.

 

Acontece que os quadros funcionais da prefeitura, da câmara municipal, e do departamento de águas, estavam lotados. Ora, como a pretensão do Jarbas, de instalar logo a tecelagem Tupinambicas, não poderia concretizar-se, por motivos alheios à sua vontade, resolveram eles, reinaugurar o zoológico municipal.

 

No princípio haveria poucos animais, porém como o objetivo principal, não era esse, mas sim o da criação de cargos, com muito jeitinho, reconstruíram aquele próprio público.

 

Foi assim então que ajeitaram o destino de toda aquela safra nobre dos legítimos descendentes do mais vigoroso, hábil, prolífero e maquiavélico vereador come-quieto, jamais vista nas terras Tupinambiquences.

 

A fuinha bigoduda, um dia porém, cansada com tanta solicitação, achou que deveria tirar umas férias lá pros lados do nordeste.

 

Junto com dois outros vereadores, sacou 10 mil reais, (dez mil pra cada um), dos cofres da câmara municipal e partiram numa caravana alegre, em direção às praias paradisíacas.

 

Durante o trajeto o vereador pensava em implantar um plano que objetivava enfraquecer os adversários: Em Tupinambicas das Linhas os critérios de apuração do consumo d água, não seriam os numerais dos medidores, mas sim o comportamento dos consumidores. Se suas opiniões políticas divergissem da dos governantes, pagariam mais, devido às anotações superestimadas, feitas por correligionários, e aplicadas como punição.

 

Esse projeto de sangria deveria ser estendido, num futuro próximo, aos departamentos de energia elétrica e aos de serviços telefônicos.

 
Quando o grupo chegou, perceberam que a imprensa toda tinha noticiado o fato. Houve burburinho e vozes clamavam pela punição dos edis.

 

À pergunta do repórter, a um matuto, sobre o que fazer com tanta gente daninha, roubando as instituições públicas daquele jeito, ele respondeu: "Ah, tem que tacá na oréia desses cara aí, ó!"

 

 

O piracicabano revoltado e a câmara de vereadores

 

Boston Medical Group - Referência mundial no tratamento de Ejaculação precoce

 

Homem morre com cancro do útero

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publicado às 00:40

Sofrendo no Parque Infantil

por Fernando Zocca, em 27.05.10

 

 

                            Delsinho, o cabeleireiro piriguete, morava há muito tempo com a irmã mais velha. Apesar de dividirem o mesmo teto, eles quase não se viam. Não obstante a amizade que os unia, uma das manias do mocinho, de cabelos encaracolados, vexava a mana barriguda.

 

                        Delsinho, o lindinho, habituara-se a vestir as roupas da falecida mãe. Essa mania teve início logo depois do falecimento da boa velhinha. Diante do guarda-roupa da mamãe, ele teria empacado num acesso de dúvidas: doar ou não doar as vestimentas da finada?

 

                        O mocinho delicado trabalhara, quando muito jovem, na Companhia Tupinambiquence de Força e Luz. E fora lá naquele ambiente, rodeado por mesas, máquinas de escrever, calculadoras e papéis que o menino conheceu o Fofão.

 

                        Fofão trabalhava na oficina mecânica do Nero careca, onde lavava as peças com gasolina. Por ser aprendiz, do experiente mecânico Nero, começara no ofício bem de baixo: lavando as peças dos motores desmontados.

 

                        No afã de telefonar para a oficina do Nero, buscando saber se esse ou aquele veículo, da Companhia Tupinambiquence, estava pronto ou não, foi que as almas de Fofão e Delsinho se encontraram.

 

                        Numa tarde, depois de ouvir duzentas vezes, do seu chefe as ordens para que telefonasse à oficina, a fim de saber se uma caminhonete ficara pronta, Delsinho atendido por Fofão, sentiu-se enamorado pela voz que ouvia ao telefone.

 

                        Então tomado por um enlevo assaz arrebatador, Delsinho resolveu ir pessoalmente à oficina do Nero, onde estava o dono da mais bela voz, que jamais ouvira em toda a sua vida.

 

                        E foi assim que aquele caso entre Delsinho e Fofão teve início. Durante os primeiros meses do relacionamento algumas atitudes, a fim de harmonizar as preferências, eram cobradas por ambos.

 

                      Fofão mantinha um bigode fino margeando o lábio superior. Mesmo com as reclamações do companheiro, durante os passeios de carro, nas tardes de domingo, o dono do bigode recusava-se a raspá-lo.

 

                        - Esse bigodinho ridículo me faz lembrar o diretor do Parque Infantil, lá na Rua Botadentes, onde minha tia me levava pra brincar com os moleques – dizia Delsinho acomodado no banco do carona, daquele Simca Chambord amarelo e branco, legítima propriedade do Fofão, numa tarde de domingo do outono de 1962.

 

                        - Ah, não esquenta Delsinho. Já não chega essa mania de andar pra cima e prá baixo com esse roupão branco ridículo? – respondia Fofão em defesa dos seus pêlos supralabiais.

 

                        - Olha, mas aquele homem era mesmo muito chato. Ele vinha logo com uma prancheta na mão esquerda, uma caneta furreca na direita e um apito pendurado no pescoço.  Quando chegava no meio da molecada gritava com todo mundo dividindo o bolo de gente em duas turmas. Uma leva ia pra um lado do campo e a outra pr´outro. E sabe o que ele fazia? Ele ficava no meio, entre os dois bandos segurando uma bola de capotão acima da cabeça das hordas. E quando ele soltava aquela bola, meu amigo, não adiantava assoprar o apito. Que saísse da frente que era chute pra todo lado.

 

                        - Você exagera, ô Delsinho. Para com isso. – reclamava Fofão, engatando uma terceira marcha.

 

                        - Nada! O tal saia pulando feito uma gazela e subia nos primeiros degraus da arquibancada que circundava o campo. Lá de cima, a salvo, ele apitava e apitava aquela coisa horrorosa. Teve uma hora que eu não agüentei. Pedi pra sair. Eu não sabia qual era o meu time. Era tudo misturado. Não tinha uniforme. Quando eu pegava a bola, alguém pedia pra eu passar. Eu passava e o cara era do time contrário. Puta reclamação! Eu não suportei e pedi pra sair. Fiquei sentado vendo a zoação. Deus me livre!

 

                        - Ah, para Delsinho! – Olha estamos passando em frente ao prédio da prefeitura.

 

                        - E depois que tava todo mundo suado, cansado, com o corpo cheio de terra o cara mandava todos ficarem numa fila enorme. Eles davam ou pão com banana ou pão com leite moça. Mas não era genial?

 

                        - Que vida hein Delsinho?

 

                        - Ah, olha, nem sei. Um dia até pensei em morar na Holanda. Lá tem tamancos, diques e pintores famosos.

 

   

 Não aguento mais esperar por alguém...

 

Repetição de indébito: simples ou em dobro?

 

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publicado às 21:28

Irritando Luisa Fernanda

por Fernando Zocca, em 26.05.10

 

 

                      Luisa Fernanda experienciava momentos difíceis naquele já distante princípio de janeiro. Diziam as más línguas que o banco em que ela trabalhava demitiria muita gente e que ela, considerada funcionária inábil, seria uma das que estavam na lista das demissões.

 

                        O estado emocional disfórico predominante na Luisa Fernanda contaminava os que viviam ao seu redor e por isso mesmo, naquela manhã de segunda-feira, Célio Justinho, ao notar os resmungos da parceira, achou melhor não dar-lhe um bom dia com aquele entusiasmo característico de quem tivera uma boa noite de sono.

 

                        Justinho lembrou-se que Luisa Fernanda tentava descontar no filho do barbeiro vizinho, os dissabores sofridos com a figura maligna. Realmente na noite passada a mulher, com identidade falsa, passara algumas horas na Internet dialogando com o menino.

 

                        Célio Justinho achava que Luisa Fernanda procurava atormentar o garoto para que ele brigasse dentro de casa, punindo dessa forma, o barbeiro malvado.

 

                        - Não vai comprar o pão e o leite hoje? - perguntou bastante tensa Luisa Fernanda ao Célio que, depois de escovar os dentes, ligara a TV.

 

                        Por ser o Célio dependente da Luísa Fernanda, fazia ele tudo o que ela mandava. E mal pudera acomodar-se para ver os telejornais matutinos, quando sentira os maus humores da mulher que o faziam mexer-se.

 

                        - Vai vagabundo, faça alguma coisa! Você pensa que minha vida lá no banco é fácil? Retardado mental! Faz dois mil anos que tenta tocar o hino do Corinthians e não consegue! Nem pra isso você presta!

 

                        Já passava das oito da manhã quando Célio entrou no bar do Maçarico. Num canto Virgulão, o homem que vendera de uma só vez, duzentas e sessenta e quatro máquinas de escrever pra Prefeitura de Tupinambicas da Linhas e que gostava de tocar cavaquinho pra periquito engaiolado ouvir, bebericava da sua segunda garrafa de cerveja.

 

                        Célio Justinho ao pegar os pães, embalando-os viu que também entrava no recinto o Van Grogue. Foi então que Virgulão disparou:

 

                        - Van Grogue carrapato de capivara tuberculosa; pó de bosta de urubu catinguento; coprofágico inaugural da maior cidade do estado de São Tupinambos. É verdade que você é adepto da coprofagia?

 

                        Van de Oliveira já estava atordoado e não pudera evitar o abalo maior que lhe produziu a detonação daquelas palavras.

                        Van Grogue aprumou-se, tirou um cigarro do maço e, com gesto exagerado, com a mão direita pediu o seu produto preferido. Então ele se voltou para Virgulão e se defendeu:

 

                        - Isso tudo não passa de brutalidade dessa gente incompetente. São pessoas paranóides; elas têm delírios de referência; são incapazes de fazer qualquer coisa. Essa turma só sabe falar mal de quem faz. Eles não conseguem produzir nada e por isso inventam essas grosserias pra desqualificar quem provoca a inveja neles. As indelicadezas são ditas pra desmerecer a quem sabe fazer.

 

                        Virgulão riu e convidou Grogue para sentar-se ao seu lado.

 

                        Célio Justinho pagando o pão e o leite que pegara, saiu apressado. Ele tinha que chegar rápido em casa, antes que esquecesse o que ouvira. Ele precisava contar logo pra Luisa Fernanda que Van Grogue era mesmo um besouro coprófago.

 

 

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25/05 dia do vizinho: siga os segredos da boa convivência

 

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publicado às 14:53

O Bonnie and Clyde tupinambiquence

por Fernando Zocca, em 25.05.10

 

                     Donizete Pimenta era um líder por natureza. Ele não era fácil; consideravam-no bastante cruel, danoso. O bandoleiro convenceu todos à sua volta de que deveriam destruir o Van Grogue. E por ser aquela gente muito simples, não lhes restou alternativa a não ser a de obedecer ao chefe.

 

                        Pimenta era amasiado com Cristina, uma ex-prostituta que, numa tarde, após um programa num motel, ao perceber ser possível construir um relacionamento duradouro, substituiu as atividades de marafona, pelas de catadora de papelão, nas ruas da cidade.

 

                        Depois de a ter tirado da vida devassa que levava, Donizete propôs-se a dar à Cristina uma ocupação lícita num boteco. A direção estaria a cargo da concubina.

 

                        Mas por ser imatura, desconhecer o alfabeto, ter o vício do tabagismo e alcoolismo arraigados, Cristina não se deu bem no trato com os homens, que chegavam todas as tardes, para beber e jogar conversa fora.

 

                        Além disso, a ex-catadora de lixo precisava conciliar as receitas e despesas do boteco. Da féria diária tinha de sair os valores para cobrir as despesas com a bebida, o cigarro e as demais imprevistas, que surgissem durante o dia.

 

                        As dificuldades para somar 2 + 2, toda vez que precisava negociar a mercadoria do boteco, constrangiam a mocinha de cabelos longos e pretos, que vendo-se sem graça, logo notou quebrantada sua disposição para o comércio.

 

                        Bom, o que fazer então pra ganhar a vida, se o bar que tinham não lhes dava o sustento? Foi Donizete quem teve a ideia de processar o pai das duas crianças da Cristina. Com as pensões alimentícias manteriam-se no imóvel que fora de seus pais. Eles não pagariam aluguel.

 

                        Mas foi  ai que apareceu Van de Oliveira Grogue para ocupar uma casa vizinha a do Donizete. A antipatia foi imediata.

 

                      Começaram então as provocações.  Cristina mandava suas filhas, logo pelas manhãs, jogar defronte a casa do Grogue,  partes do lixo que furtara dele  nos dias anteriores.

 

                        E por acharem-se moradores antigos do bairro, Donizete e Cristina convenceram-se de fazer com que aquele vizinho esquisito se mudasse logo dali. Uma das estratégias do casal  era provocar muito barulho durante as refeições.

 

                        Assim toda vez que Grogue sentava-se para almoçar ou jantar, logo um cachorro iniciava os latidos que duravam o tempo exato das refeições.

 

                    Sucediam-se os trotes pelo telefone. Pelo correio não paravam de chegar folders e outras chateações. Quando saiam à tarde para beber nos botecos do bairro o casal Bonnie and Clyde tupinambiquence não deixava de espalhar boatos sobre o novo morador indesejado.

 

                        As provocações sucederam-se até o momento em que a dupla de meliantes, arregimentando outros delinquentes, cercou a casa do Grogue e tentou agredí-lo.

 

                        A pancadaria foi memorável. Mas como toda arruaça logo cessou. Nem as autoridades do município de atreviam a intervir em tão tenebroso caso.

 

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publicado às 22:29

O Chuchu Zen

por Fernando Zocca, em 24.05.10

 

 

                           Você já viu alguma união tranquila entre ricos e pobres? Não dá certo, não combina. É o mesmo que colocar, lado a lado, panelas de barro e de ferro. Quem você acha que parte primeiro?

 

                   A pessoa rica não teria tantos escrúpulos embaraçadores, formadores da personalidade, da grande maioria da população. O rico serve ao dinheiro, ao bezerro de ouro, e crê piamente que a solução de todos os problemas esteja no metal.

 

                   Semelhante ao colecionador que amealha borboletas, livros ou garrafas de pinga, o rico colecionaria dinheiro, moeda. Mas pior do que o rico é o pobre que se considera milionário. Ai a coisa complica. Há gente que não vacilaria em matar a própria mãe para se apoderar das riquezas.

 

                   Quase todos os políticos chegam ao restrito rol dos afortunados, burlando as regras impostas pela sociedade. Então você pode observar o que tinha um indivíduo eleito prefeito, antes de assentar-se no cargo, e o que ele tem, depois de algum tempo.

 

                   Há pessoas que no passado precisavam sacrificar-se dando aulas particulares para manter as despesas dos estudos na universidade pública. E hoje, depois de eleitas seguidas vezes, aos cargos de prefeito e deputado, não sabem onde e como utilizar tanta grana.

 

                   O enriquecimento ilícito não é mérito dos criminosos, mas sim demérito dos defensores responsáveis pela manutenção da ordem, da legalidade e das instituições.

 

                   As  pessoas que têm muito mais do que o necessário para viver desenvolvem uma espécie de asco, nojo, repugnância mesmo, dos miseráveis.

 

                   E você nota isso nas prioridades escolhidas pelos ricos. Os endinheirados são mais apegados aos prazeres que lhes dão os produtos da indústria. Numa cidade ao invés de empregar o dinheiro na educação das crianças da periferia, usam-no na colocação de pontes e no asfaltamento de ruas já calçadas.

 

                   A eleição  dos coronéis não mudaria o antigo refrão “O rico fica cada vez mais rico, e o pobre cada vez mais pobre”.  Pode ter certeza.

 

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publicado às 15:36

Os passeios de Stela

por Fernando Zocca, em 21.05.10

 

 

 

                           Stela tem algo de rodriguiano que a identificaria com aquela personagem buscadora do equilíbrio nas aventuras extraconjugais.

 

                   Apesar do fausto material que a cerca, ela não obteria o bem estar se não se dispusesse a dar seus “pulinhos”, não nos ônibus, ou lugares ermos, mas nos hotéis de luxo.

 

                   Esse comportamento de Stela tem muito de vingativo, de punidor. Ao invés de digamos, “discutir a relação” com o marido, terminando de vez  o relacionamento conflituoso, ela se compensaria  nas  incursões amorosas.

 

                   O desejo de manter a família unida a impediria de separar-se. Para ela a coesão familiar, mesmo que não satisfatória, teria mais importância.

 

                   Se impedida ao acesso dessa válvula de escape o que lhe restaria? Uma neurose, agressividade, hostilização, terapias, divórcio?

 

                   O adultério serviria para aquietar momentaneamente a exaltação dos ânimos. Porém com o passar do tempo as consequências se apresentariam de forma talvez até que mais trágicas.

 

                   Nas aventuras em que se envolve ela não se compromete: não diz seu nome e nem quer saber o dos parceiros casuais.  Stela vive a vida.

 

 

 

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Enfermeiro mata sete idosos por 50 euros cada

 

Assaltado quando levava saco de dinheiro para o banco

 

 

 

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publicado às 14:00

As Palavras do Donizete

por Fernando Zocca, em 20.05.10

 

                                Donizete Pimenta era um cara muito chato. Ele teimava em fazer seu enteado passar a noite toda acordado para que ouvisse as histórias que tinha pra contar.

 

                               Por ser incapaz de contrariar a vontade do Pimenta chato, o menino fazia as vontades do cara. Na verdade o mocinho queria dormir para acordar esperto, sair às ruas e gozar os prazeres do ar livre e do sol abundante.

 

                               Mas não. Nada disso. Para morar naquela casa, comer daquela comida o menino tinha que submeter-se ao Donizete Pimenta, o sujeito mais implicante que a Vila Dependência já vira.

                               Até mesmo o prefeito da cidade o ilustríssimo senhor professor doutor Jarbas exclamava, quando no gabinete alguém mencionava a agitação promovida pelo tal Pimenta:

 

                               - O quê? Misericórdia, não me fale nesse assunto. Pelo amor de Deus!

 

                               E assim seguia a sina do garoto que já evidenciava sinais de efeminação. É que por ser bastante rude e cruel Donizete só parava de agredir, tanto moral quanto fisicamente o seu enteado, quando este apresentava reações próprias das meninas.

 

                               Então pra não apanhar e ser xingado, o garoto tinha que desmunhecar. E como ele já se tornava um adolescente, a certeza de que sua escolha sexual seria o homossexualismo evidenciava-se a cada dia.

 

                               Na vizinhança ninguém esperava outra coisa. O enteado do Donizete seria o mais novo, belo e lindinho gay produzido em Tupinambicas das Linhas.

 

                               Na noite de domingo para segunda-feira o obsessor contara a mais torturante história sobre os médicos, enfermeiros e banheiros públicos. Quase ninguém sabia, mas Donizete era paradão em banheiros.

   

                               Diziam os vizinhos da esquina que o Pimenta ficava ligado o dia todo escutando os barulhos que chegavam das casas do entorno. Quando alguém puxava uma descarga ou ligava um chuveiro ele se excitava todo.

 

                               O pessoal do centro de reabilitação de Tupinambicas das Linhas não tinha como medicar o Donizete, pois ele mostrava-se refratário aos apelos das autoridades. Com isso a inquietude propagava-se pela cidade, do mesmo jeito que a dor de uma infecção na unha encravada dum dedão, se irradiava pra todas as demais partes do corpo.

 

                               Mal sabia o moço perturbado, que as palavras proferidas por ele, ali naquele quintal sujo, depois de girarem pelo mundo, retornariam com a força sextuplicada para ele mesmo.

 

                               Quem não conhece a história do bater das asas da borboleta?   Se um simples movimento, de um bichinho tão delicado, desencadeia uma miríade de ocorrências para todas as pessoas, imagine os desastres que provocavam as palavras carregadas de ódio, proferidas diuturnamente pelo famoso Donizete Pimenta.

 

                               Ele não era fácil, minha amiga.

 

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publicado às 16:46

O que o PSDB faria aos pobres?

por Fernando Zocca, em 19.05.10

 

 

                         Se houver a repetição, em  âmbito nacional, da movimentação pré-eleitoral, que conduziu Barjas Negri à prefeitura,  Serra levará o caneco presidencial.

 

 

                   As situações municipais e federais assemelham-se. Reforçam ainda essa tendência o fato de ter o PSDB a simpatia do governo norte-americano e seus aliados aqui no Brasil.

 

                   Caracterizam ainda a ideologia dos tucanos, além da obsessão pela produção industrial e o consumo,  mantenedores desse modo de vida danoso ao meio ambiente, um profundo desprezo pelos pobres.

 

                   Hilary Clinton, que era esposa de Bill Clinton, no tempo em que Fernando Henrique Cardoso comandava a nação, atual secretária de estado norte-americana, espertamente conduziu ao descrédito os esforços  de Lula e sua equipe que tentou firmar acordos de não proliferação de armas atômicas com o Irã.

 

                   Se a derrota da seleção brasileira de futebol servir para enfraquecer a moral dos ocupantes do governo central, certamente que isso ocorrerá. Por outro lado, havendo a vitória, pode o meu leitor ter a mais absoluta certeza que os créditos caberão aos bicudos, seus bancos e redes de TV.

 

                   O pessoal do PSDB não gosta de gente;  há entranhado no meio deles um profundo preconceito contra os miseráveis. Os bicudos amam o conforto e o luxo  que lhes proporcionam os produtos elaborados pela indústria.

 

                   Em Piracicaba o atendimento nos postos de saúde deixa muito a desejar. São ineficientes. O mesmo ocorre com o ensino. Ao governo PSDB aqui instalado, interessa o recapeamento de ruas, a colocação de pontes e outras atividades que não teriam outro motivo que não a facilitação de fraudes nos processos licitatórios.

 

                   Imagine que Evo Morales, Raul Castro, Hugo Chaves Mahmoud Ahmadinejad e Luis Inácio interessariam aos teóricos da política norte-americana. Nunca;  pois não se submeteriam. Há incompatibilidade de gênios.

 

                   Luis Inácio quer fazer hoje o que Jânio Quadros e Jango tentaram na década de 60. E assim como sucedeu com eles (o primeiro levado à renúncia e o segundo cassado),  o atual governo petista não terá sucesso.

 

                   Ontem a democracia norte-americana usava a força dos exércitos, hoje opera com o poder dos bancos e redes de TV.

 

 

 

Aula de física na escola pública.

Vídeo de uma aula de física da escola pública  Sud Mennucci em Piracicaba, gravado por um aluno.

 

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publicado às 13:42

O Embarque

por Fernando Zocca, em 18.05.10

 

                           - Gente, eu vi! Ela estava prestes a embarcar pra Londres, mas deu um problema com o passaporte e a coisa enguiçou. A mulher do outro lado do balcão insistia pedindo coisas fúteis. Eu percebi que minha amiga ficava nervosa com aquela burocracia toda; mas ela não dizia palavra alguma que ofendesse a funcionária.

 

                   - E daí? Conta, conta mais! – implorava a ouvinte atenta nas palavras do Bafão.

 

                   - Bom – continuou ele – Você sabe que nossa amiga é um amor de pessoa. Ela é incapaz de pisar numa barata, esmagar qualquer mosca ou estapear um pernilongo. Entretanto eu notei que ela, de repente fixou o olhar assim, num ponto vago do espaço, sua respiração tornou-se ofegante e ela, pacientemente, mais uma vez, buscou na bolsa a papelada que a funcionária do aeroporto pedia.

 

                   - Ela foi barrada? Não a deixaram embarcar? – o tom de voz da freguesa do Bafão era de ansiedade. Ela acabara de comprar o leite e o pão no boteco mais frequentado do bairro.

 

                   Bafão alisava o balcão com um guardanapo e percebendo o interesse da consumidora continuou:

 

                   - Quase! Quase que não a deixam pegar o avião. O tumulto estava muito forte. Tinha gente que ia prá lá, gente que vinha prá cá, um vozerio, era o inferno. E havia um camarada que varria, sem cessar, o chão do lugar, assim, bem perto dos pés dela.

 

                   - Estranho! – concluiu a mulher que segurava os sacos plásticos continentes de um litro de leite e seis filões. – Mas e daí? – prosseguiu a vizinha – ela pegou o avião, conseguiu embarcar?

 

                   - Bem, eu não posso dizer que ela não embarcou.  Sei que já faz um tempo que não a vejo. Mas na verdade não vi o embarque. As pessoas comentam, dizem que sim, que ela embarcou. Mas não sei se foi numa boa.

  

                   - Olha seu Bafão se ninguém comentou nada pode até ser que o embarque dela tenha sido pacífico. – concluiu a freguesa dirigindo-se para a saída. – Ah, olha – continuou ela – bota essas coisas na minha conta. O senhor sabe, meu salário vem só no fim do mês.

 

                   - Ah, tudo bem, não se preocupe com isso. – Bafão sabia que sua complacência, um dia, o poria em alguma dificuldade.

 

 

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