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As pipocas do senhor doutor

por Fernando Zocca, em 30.08.09

1. 2008

O sonambúlico doutor Silly Kone, psiquiatra de Tupinambicas das Linhas, sentindo-se zonzo naquela manhã fria de 24 de Junho, examinou a agenda de compromissos do consultório, e por não constar nada de interesse, voltou para a cama.
Ele percebeu-se fora de forma, por isso seus movimentos estavam lentos. Os cabelos desgrenhados e a barba por fazer, em outro local e hora, poderiam indicar deterioração mental, passível de socorro.
Mas Kone não se preocupava muito com o que pudessem pensar dele. Então notando a halitose insuportável, levantou-se novamente e, no banheiro, escovou os dentes.
Ao terminar o ato, bafejou o espelho, fazendo após, na película vaporosa, com o indicador direito, um T.
Aliviado retornou para a cama. O quarto tinha condicionador de ar, e a temperatura agradável, apesar do ruído, fez com que Kone pegasse logo no sono.

2. 1967


O menino de olhos verdes, descalço, vestido com short preto, sem camisa, aproximou-se da turma de crianças, reunidas naquela manhã de sábado, na rua perto da escola, onde naquele horário não havia aulas e, pedindo para participar da pelada, disse chamar-se Sidney Morgano, sendo morador no quarteirão de cima, numa casa dos fundos de uma loja pequena de armarinhos.
Os meninos naquele dia, brincaram, todos juntos, sob o sol escaldante, até o momento em que foram chamados, por suas mães, para o almoço.
Depois da refeição as crianças voltaram para a rua, mas sem a bola, desaparecida após um chute violento do Kone, que a fez sumir sobre os telhados das casas vizinhas, durante uma brincadeira no quintal. Eles passaram o resto do tempo, naquele dia, divertindo-se com o pega-pega.
Num certo momento da correria, Morgano convidou Kone para irem à sua casa, onde beberiam água.
Para entrar os dois meninos, pecorreram um corredor comprido, ornado com 7 vasos de comigo-ninguém-pode, encostados na parede do lado direito de quem saia, ingressando na sala onde, além da mesa circular, uma estante com livros de odontologia, havia também um pickup grande, daqueles que combinavam rádio e toca-discos.
Passaram pela sala e na cozinha saciaram a sede. Na volta Kone quis saber como funcionava aquela máquina. Morgano mostrou o aparelho, abrindo-o e explicando que tocava long-plays que giravam 33,33 vezes por minuto.
Kone lembrou-se logo de um primo, que por ser rádiotécnico, tinha também alguns dequeles na sua oficina. Mas para mostrar como era o mecanismo do engenho, Morgano ligou-o fazendo tocar From Me To You, dos Beatles.

3. 1970

Então Sidney desceu do banco do carona da pickup, que ficara parada com o motor ligado, defronte a casa do Kone, e batendo com força na porta da residência, chamou o amigo para uma viagem.
Silly não esperava por aquilo, mas entusiasmado, porém curioso pelo que motivava aquele convite inusitado, aceitou o passeio.
Silly Kone subiu na carroceria da pickup que era dirigido por um amigo do Sidney, e foi então desprotegido do mesmo jeito que ia, quando um tio açougueiro o convidava para ver o sítio, onde tinha plantações de melancia e abacaxi.
Depois de algumas horas de viagem desconfortável, em que vascolejaram muito, chegaram ao local não identificado por Kone.
No sítio foram logo recebidos por duas mulheres, que áquela hora da manhã, já preparavam o almoço. Enquanto esperavam, os três rapazes, arreando dois cavalos propuseram-se a laçar um boi no pasto.
Chovia naquela hora, e Kone montava um dos cavalos; o outro montado por Morgano, fazia sobrar a pé o dono do sítio, que se desesperou ao ver um dos bois, a serem laçados, fugir encosta abaixo.
O dono do sítio, com um gesto brusco, fez Kone apear da montaria, ocupando o seu lugar. Pegando o laço que estava na sela, perto da sua perna direita, ele saiu em disparada no encalço do boi fujão.
O animal foi laçado, trazido para cima, e preso na mangueira perto da casa.
Algum tempo depois as mulheres os chamaram para o almoço. A mesa posta, além do arroz e feijão, tinha muitas carnes; havia bifes de carne de porco, de vaca e frango frito. Todas muito mal passadas.
A conversa entre as quatro pessoas, durante a refeição, pareceu estranha e muito esquisita ao Kone, porém não o impediu de satisfazer-se com tanta iguaria.
Após o almoço, Kone acendendo um cigarro, sentou-se numa poltrona instalada perto da porta da sala, enquanto todos os demais integrantes do grupo, reunidos na cozinha, papeavam alegres.
Depois das 17 horas, os três rapazes se preparavam para voltar. Colocaram muitas coisas na carroceria da pickup, cobrindo-as com um encerado. Kone, com algum esforço, subiu na caçamba pisando no pneu direito trazeiro e sentando-se sobre a lona úmida.
Ele se arranjava para o desconforto da volta, quando depois de todos embarcados, uma das mulheres saiu da casa oferecendo pipoca aos viajantes.
Nenhum dos dois rapazes aceitou, só Kone pegou aquele pacote, entregue pela mulher, que lhe sorria amável.

4. 2008

Silly Kone acordou as três da tarde. Não tinha tanta vontade para voltar ao consultório. Apesar de tudo sentia-se ainda muito cansado. Precisava de férias. Se possível perto do mar, numa praia ensolarada e aprazível onde pudesse desfrutar de bons momentos até então escassos na sua vida.
Mas, apesar dos desejos ardorosos de mudar um pouco de ares, logo o telefone tocou trazendo-o ao dia-a-dia. Era uma cliente que morava na vizinhança, desejando marcar uma consulta para a filha adolescente, de quem suspeitavam estar acometida pela esquizofrenia hebefrênica.
O doutor Silly Kone tinha mesmo que trabalhar.



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publicado às 23:07

CORTIÇOS BAHIA

por Fernando Zocca, em 29.08.09

 

Alves entornou nervosamente a xícara e deglutiu sôfrego o café. Sua instabilidade emocional era visível quando, da tristeza imobilizante passava rápido à euforia incontida.
 
Ele contava, naquela manhã, ao companheiro Robert, ali no boteco da esquina, que seu pai devia mais de 15 milhões de reais ao INSS.
 
Alves também expressou sua desconfiança na infidelidade paterna. Ele cria estar o velho visitando uma jovem muito bonita residente num flat central, lá em Belo Horizonte.
 
As fontes diziam ao Alves que o pai, e alguns vereadores da cidade, tinham o hábito de presentear a modelo com dinheiro, jóias, e roupas valiosas.

Alves pode ouvir o pai dizer, uma ocasião, ao comentar com um amigo, sobre a mulher estonteante, que megaindustriais de S. Paulo, banqueiros cariocas e membros do governo mineiro, faziam revezamento, na disputa pelos carinhos da moça bonita, em algumas horas de prazer.
 
Alves acreditava que o desastre financeiro, envolvente da usina de açúcar, se devia a essa faceta libidinosa do pai pecador.
 
A luxúria do bode velho dilapidava a riqueza da família recebida dos ancestrais, os verdadeiros senhores de engenho, escravocratas históricos.
 
Um complicador a mais pra vida do Alves e seus irmãos, era a pretensão do velhote em apoiar a candidatura da “Borboleta Gorda” nas eleições municipais de Tupinambicas das Linhas.
 
A fim de conseguirem fundos para a campanha que se avizinhava, o pai pecante e mais alguns usineiros em reunião de diretoria, determinaram o aumento dos preços do álcool, açúcar e imaginem... Até da pinga.
 
Alves arrepiava-se só de cogitar em ver seu pai taxado de meliante.
 
O café queimava-lhe os lábios. Ao último gole pode lembrar-se duma artimanha, do industrial velho, para angariar fundos: ele acolhera um indigente na sede da usina, recuperando, em pouco tempo, o cidadão.
 
Fez com que ele conseguisse documentos novos e, por meio de uma professora, ensinou os segredos da escrita e leitura.
 
Quando o mísero estava apto a freqüentar ambientes, pra ele sofisticados, tipo agências bancárias e corretoras, providenciou-lhe uma apólice de seguros. O beneficiado, é claro, não podia ser outro se não o próprio doutor J. H. Mayonnaise Alves.
 
É desnecessário afirmar que ao fim do período de carência da apólice, o segurado sofreu um revés gravíssimo deixando a fortuna imensa ao usineiro.
 
Alves disse ao Robert ser o grupo de seu pai, muito poderoso e conseguir, por meio da seita maligna do pavão louco, destruir sites na internet, levar à falência jornais, rádios e revistas. E tal qual aos cânceres, num organismo, degringolar os sistemas antagonistas do seu time.
 
As eleições em Tupinambicas das Linhas eram ainda, naquele momento, uma incógnita. Mas um fato era certo: não existia diferença entre a cidade e a curva do rio. Em ambas, meu amigo, minha amiga e senhoras dona de casa, só paravam dejetos.


Contatos para materialização deste trabalho em HQ, livro ou filme, podem ser feitos com o autor pelo e-mail fa.zocca@bol.com.br.
 
 
 
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publicado às 15:04

Estendendo a canga

por Fernando Zocca, em 28.08.09

 

- Então é assim, você sintetiza o comissionamento recebido e depois propõe a distribuição a quem de direito. Não podemos acreditar que haja desvirtuamento daqueles princípios propostos. Existem pessoas que crêem nisso. Eles acham que haveria um desvio compensatório. Eu ligarei mais tarde pra confirmar. Mas mesmo assim acho que nada saberemos sobre a verdade. Não há provas nem jeito de flagrar o crime.
            Jorge, com lentidão, encaixou o fone no antiquado aparelho telefônico que estava sobre a mesa do escritório. O vermelho já um tanto desbotado não servia de argumento convincente que o levasse a trocar a peça. “Não sei por que você se liga tanto nessas velharias. Existem tecnologias novas no mercado e você não se interessa” – ele  recordou-se do que dissera Consuelo. A mulher vivia ao seu lado há quarenta anos.
            O homem caminhou até a cozinha quando então ouviu a voz da criança vinda do apartamento vizinho. Ela balbuciava algumas palavras dirigidas à mãe. Uma sensação esquisita apertou o peito de Jorge. “Que ela tivesse cuidado e ofertasse proteção aos filhos. Afinal, havia mães que não imaginavam a possibilidade de estarem seus pequenos, sujeitos ao ódio, que alguns adultos frustrados, não conseguiam descontar nos desafetos”.
            Depois de espremer um limão na água, que tirara da geladeira, ele voltou-se para a sala. Os móveis antigos, mas bem conservados, eram de um tempo em que as cristaleiras significavam destaque entre o pessoal da vizinhança.
            Segurando ainda o copo de limonada ele se aproximou da réplica do quadro o Grito do Ipiranga de Pedro Américo, que ornava a parede. Apesar do desbotado da figura, ela ainda mantinha os traços que lembravam aquele momento histórico.
            Vestido com seu robe-de-chambre azul pavão felpudo, ele se movimentou pela sala podendo observar a mesa estilo colonial, ainda bem conservada. Uma onda de nostalgia tomou-lhe a consciência e ele viu-se ainda criança quando o pai, no meio daqueles rascunhos, desenhos e projetos, tentava ordenar as plantas do iate que tencionava construir.
            Réguas, compassos, esquadros e lapiseiras eram as ferramentas que ele manipulava com maestria. Jorge lembrou-se de que quando o pai notava sua presença, ao lado da prancheta, dizia-lhe palavras de carinho.
            - A espera. A espera pode ser agoniante, mas inevitável.
            O homem caminhou pela sala e notou o sofá que, ao lado da janela aberta, acumulava alguma poeira vinda de fora. Com um gesto delicado ele a fechou. Era perigoso mantê-la aberta nesses tempos em que os pássaros ainda voejavam sem muita direção.
            - Já imaginou – disse ele em voz baixa – se um urubu atordoado entra por essa janela adentro despedaçando as coisas? Misericórdia!
            Num vaso pequeno Consuelo conservava a muda de acerola que desejava ver  desenvolvida no pomar da chácara. Além dessa planta havia também um arbusto de limão. A ida àquele local, quase nunca visitado, excitava-o e, sua impaciência era comunicada pelo jeito com que caminhava pisando firme no soalho, desviando-se dos móveis.
            - Olha o vizinho de baixo! Pisa leve, se não já viu né? – esgoelara Consuelo que manipulava, na lavanderia, a velha máquina de lavar roupas.
            - Mas será o Benedito? Não vejo a hora de ir para o sítio. Careço de agir com mais liberdade, sem tanto receio de ver gente que se mostra magoada por coisas insignificantes. – Jorge notava que seu rosto enrubescia.
            - Pra você escrever censura com “s” não tem problema. Mas pra essa gente cheia de “nove horas” o caso é sério. – ponderou Consuelo.
            - Tudo bem, mas não precisava fazer essa onda toda, esse estardalhaço. Por que essa “tolerância zero”? – O tom de voz de Jorge dava a impressão que ele explodiria.
            - Deixa de ser maçante, homem de Deus! Para de se preocupar à toa. Vai caminhar um pouco, respirar ar puro. Ô nego chato, seu! -  Consuelo falava ao mesmo tempo em que batia, com vigor, a calça jeans no escorredor do tanque.
            Jorge ouviu o que esperava. Ele tirou rapidamente o roupão, vestiu a bermuda preta que combinou com a camiseta vermelha e, calçando os chinelos de tiras preto e branco, saiu mais uma vez para caminhar. Ele tinha certeza que encontraria a natureza bela, do jeito que sempre fora.
 
Fernando Zocca.
 
 
 
 
 
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publicado às 02:55

Garanhão continua preso

por Fernando Zocca, em 27.08.09

O médico vovô garanhão, proprietário da maior clínica de reprodução assistida do Brasil, Roger Abdelmassih 65, acusado por 56 pacientes de as molestar sexualmente durante os procedimentos que objetivavam a fertilização, teve sua inscrição no Conselho Regional de Medicina de São Paulo suspenso e continua preso.

 

                        O encarceramento do especialista em reprodução humana deu-se por determinação judicial que aceitou a denúncia do Ministério Público de São  Paulo. Mais de cinqüenta pacientes queixaram-se do comportamento do médico, que se aproveitava dos estados de inconsciência causado pelas drogas, para satisfazer sua bestialidade.
 
                        A polícia foi informada que o doutor agia criminosamente desde a década de setenta quando teria iniciado sua carreira na medicina. Durante a prisão, ocorrida na segunda-feira da semana passada, o denunciado entrou correndo para dentro do consultório, escondendo-se no banheiro.
 
                        Denunciado por estupro, atentado violento ao pudor e manipulação genética ilegal, o médico cobrava  R$350 por consulta. Os tratamentos de fertilização para gravidez chegavam a milhares de reais e o médico não dava recibos das altas importâncias que recebia. Tal fato induz à conclusão de que o doutor garanhão também cometia crimes de ordem fiscal.
 
                        Os advogados do denunciado requereram habeas corpus aos tribunais competentes, mas todos negaram os pedidos por se tratar de crimes graves e de grande repercussão social.
 
 
 
 
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publicado às 13:40

Cefaléia

por Fernando Zocca, em 25.08.09

 

A tensão muscular da região posterior do meu pescoço mais o nervosismo me levaram a pensar que deveria fazer, naquela noite, um programa legal, bem feito e memorável. Por isso passei no posto e mandei lavar o carro. Que o fizessem com o maior esmero e capricho.
 
Passei em casa e lá dormitava minha mãe. Meu pai, se vocês não sabem, digo-lhes rapidamente, que fugiu com a empregada gostosona, logo depois que nasci. Mas, tomei uma chuveirada rápida e nem ao menos jantei.
Mandei para o sovaco o desodorante que no dia anterior comprara no boteco esquinal.
 
Saí à caça. Permaneci na esquina da avenida movimentada durante o tempo suficiente para que a visse. Ela ainda era imberbe. Moçoila mesmo. Era uma adolescente. Não tinha traços de patricinha, mas também não era operária.Como poderia classificar seu tipo? Não lhes poderia responder. Não agora. Mas percebi quando ela apareceu e estacionou o seu ciclomotor defronte a casa de frutas.
 
Eu a acompanhei com os olhos. Estava decidido. Seria ela mesma. Desci do meu carro e entrei no ambiente cheiroso.
 
Ela escolhia maçãs quando a abordei. Iniciamos um diálogo e um halo de simpatia nos envolveu. Havia sorriso no seu rosto e alegria no seu falar.
 
Trocamos informações básicas de forma quase que imperceptível.
 
Minha sorte foi tamanha que a convenci a deixar sua Monareta estacionada ali defronte o comércio e seguir-me no meu bólido pelas avenidas tortuosas daquela urbe sem graça.
 
Depois das vinte e duas horas, ela mostrou-se impaciente. Pediu-me para que a levasse de volta eis que seus pais a aguardavam.
 
Mas eu ainda não fizera nada que me aliviasse daquela tensão responsável por minha cefaléia. Cria que se não tivesse no mínimo dois orgasmos naquela noite não me sentiria bem. Por isso, contra sua vontade entrei bruscamente no motel que ficava afastado.
 
Sob seu protesto empurrei-a para o quarto e sapecando-lhe uns beijos joguei-a sobre a cama. Ao cair deitada gritou pedindo socorro. Pulei por cima de seu corpo e ao tentar tirar sua roupa rasgaram-se.
 
Estava excitadíssimo e com sofreguidão tentei penetrá-la. Não deu. Não sei por que motivo, mas de um instante a outro, me vi brocha. O seu rubor e seu ódio ante meu comportamento logo se transformaram em hilária gargalhada.
 
Quando ela percebeu que me constrangia com seu riso defensivo, mais e mais ria. O sangue me subiu à cabeça. Fiquei cego e dei-lhe a primeira porrada. Ela caiu ao solo carpetado e ficou quieta arfando. Chutei-lhe as costas.Bati sua  cabeça no chão e ela perdeu os sentidos. A libido se avolumou no meu sangue e pude penetrá-la no ânus. Houve um rompimento e jorrou sangue. Depois de meia hora tentei outra penetração vaginal. Novamente falhei.
 
 
Bati mais na sua cabeça até o momento em que notei a sua respiração: estava parada. Tentei escutar o seu coração, mas um nervosismo forte tomou conta de meu ser. Não conseguia controlar meus movimentos. Meu raciocínio não era do jeito que sempre tinha sido.
 
Carreguei seu corpo mole, frio e pálido colocando-o no porta-malas do carro velho.
 
 
Saí procurando disfarçar meu nervosismo. Passei pela portaria sem que ninguém desconfiasse.
 
Olhei o relógio e estávamos já no dia posterior ao da abordagem. Era madrugada.
 
Numa rua deserta, mais precisamente na sarjeta deixei seu corpo seminu e estuprado.
 
Aguardo a justiça divina, pois que a dos homens não me atingiu. Aleguei na delegacia e para o juiz que ela era viciada e que estávamos numa sessão de consumo conspícuo e plenamente consciente das drogas que havíamos adredemente adquirido.
 
Teria Deus comiseração de minh' alma?
 
F.A.S.C.
 
 
 
 
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publicado às 14:44

A competência dos velhos deitados

por Fernando Zocca, em 24.08.09

 

          Dizem que em Tupinambicas das Linhas concentra-se a maior quantidade de loucos jamais vista em toda a história da humanidade. Os estudiosos garantem que seria  decorrência do consumo da água do rio Tupinambos que corta a cidade.
 
            A explicação mais aceita é de que no local onde as águas são coletadas, para o uso da população, elas chegariam com uma condensação de poluentes tão intensa, que influiria na saúde mental dos habitantes da urbe.
 
            O escritor Fernando Zocca conta no livro MODERAÇÃO parte das tramas e dramas que se passaram na cidade mais conhecida do Estado de São Tupinambos.
 
            Você conhecerá as artimanhas dos políticos do local. Jarbas, o prefeito corrupto que manipulava resultados nas licitações, amealhando fortunas que sua família jamais sonhou ter. Tendes Trame o deputado venal, que nas armações com ambulâncias, adquiriu centenas de imóveis na cidade e também o Fuinho Bigodudo, Zé Lagartto e outros vereadores que, desviando recursos públicos fizeram pés-de-meia fenomenais. Diziam as más línguas que alguns velhos vereadores eram tão tunantes que despachavam deitados.
 
            Além dessas figuras recorrentes na política tupinambiquence você saberá quem é a vovó Bim Latem, a chefe do gabinete do Jarbas e a criadora da verdadeira Seita Maligna do Pavão Louco.
 
            Os frequentadores das reuniões noturnas da Seita Maligna teriam como característica marcante agredir moral, sexual e fisicamente crianças indefesas, filhas de desafetos considerados inatingíveis.
 
            Os agressores loucos conseguiam abrigo e proteção nas entranhas das sedes onde os membros da Seita Maligna se reuniam.
 
            Você conhecerá também Célia Justinho, Luísa Fernanda a gerente do Brafresco, Gabrielzinho boca de porco e muitos outros que fazem o progresso desse trecho do universo.
 
 
 
MODERAÇÃO
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publicado às 02:50

Voando com MariMoon

por Fernando Zocca, em 23.08.09

 

                         Quem vê MariMoon na MTV não pode deixar de se apaixonar. Ela aparece resplandecente no Scrap MTV, espargindo a leveza e a alegria que lhe são peculiares.
 
                        MariMoon é mesmo uma simpatia de pessoa e a sua atuação na TV comunica isso. Ela tem o que dizer. Exibe com maestria as boas novas da música pop, as novidades na Internet e tudo o mais que interessa ao seu público numeroso.
 
                        Ouso dizer que a menina faz parte dessa nova geração desenvolta de comunicadores que ocupa, atualmente, as telas especializadas da TV brasileira. É preciso ter o que mostrar. O ritmo em que ela apresenta suas matérias faz bem interessante o programa.
 
                        Não gosto da “´rasgação´ de seda”. Pode soar falso, demonstrar o que na verdade deixa de ser, o que não é. Mas MariMoon merece o carinho do público que a assiste.
 
                        Quem a vê, nas entrevistas que apresenta, constata a desenvoltura com que ela se comporta, para levar àqueles que a acompanham, as novidades interessantes. MariMoon é Show mano!
 
                        Além do badalado Scrap MTV você pode visitar também o blog da moça e, naquela seção destinada às fotos, poderá curtir os figurinos e acessórios inusitados.
 
                        Poderíamos afirmar que a apresentadora teria, a princípio, algo de rebelde, contestador, inconformado com as determinações impostas pelo grupo parental de onde veio.
 
                        Mas quem ousaria afirmar que essa característica não seria semelhante a todos os jovens da mesma faixa etária e classe social, neste princípio de século XXI, neste trecho da América Latina?
 
                        Então, num passeio pelo blog da MariMoon www.marimoon.com.br você também poderá ver uma reportagem bacana sobre os bastidores da gravação do Scrap MTV.
 
                        Para as pessoas mais antigas, mais experientes, o B-52 evocaria aqueles aviões Boeing, bombardeiros enormes, que compuseram a força aérea dos aliados e que demoliram as cidades nazistas na II Guerra Mundial. Mas nessa atual conjuntura o B-52´s é um grupo musical entrevistado pela MariMoon em 2:27min., conforme o vídeo a ser conferido.
 
                      Além desse você pode se deliciar com muitos outros, tais como aqueles em que a entrevistadora conversa com o fotógrafo de moda André Passos e Julia Petit.
 
                        Diríamos que assistir MariMoon pode assemelhar-se a curtir um voo sem turbulências, num céu de brigadeiro, ao lado daquela alma gêmea.
 
                        Quem gosta de TV não fica sem ver a MariMoon.
 
 
 
 
Fernando Zocca.
 
 
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publicado às 03:39

Pai de Carlinhos é morador de rua

por Fernando Zocca, em 20.08.09

 

Maria de Lourdes, mãe do Carlinhos (Mendigo) participante do reality show, “A Fazenda”, reencontrou o ex-marido defronte a um bar, quando visitava a casa em que moravam.
A aposentada Maria de Lourdes que não via o ex-marido há oito anos, reencontrou-o numa das ruas do bairro de Santana, zona Norte de São Paulo, onde morou com os quatro filhos.
Ela visitava a antiga casa da família para gravar a matéria do programa ‘Domingo Espetacular’, da Record. Quando caminhava para o local, Maria de Lourdes passou por um bar perto do qual foi abordada pelo ex-marido,   o pintor Antonio Oliveira de 65 anos.  “Fiquei com pena de vê-lo. Ele é morador de rua”, contou ela no programa ‘Geraldo Brasil’.
 

 

Além de Carlinhos, Maria de Lourdes e Antônio são pais de Maria Aparecida, Edson e Fábio.
Na última “roça” ocorrida ontem (19/08), Carlinhos da Silva foi eliminado com 65% dos votos. Ao cruzar o portão, o humorista foi recepcionado pelos amigos Vinícius Vieira, o Gluglu, e Pedro Leonardo. Carlinhos agradeceu muito e, em especial a Dona Margot, que lhe deu a oportunidade de trabalhar em rádio, afirmando que sem ela talvez estivesse preso, ou morto, por causa da vida difícil que teve nas ruas. 
Com isso permanecem para a disputa da final de “A Fazenda” que pagará R$ 1 milhão, no próximo domingo dia 23, Dani Carlos e Dado Dolabella. As informações são de O DIA ONLINE.
 
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Não dá mesmo, pra não ler.
 
 
 
 
 

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publicado às 16:23

Condomínio irregular

por Fernando Zocca, em 18.08.09

 

                        Naquele tempo, quando ainda afirmávamos ser felizes, nos encontrávamos com freqüência assim, por acaso, na praia. Era um hábito arraigado nosso que nos proporcionava bem-estares  intensos.
                        Numa quinta-feira pela manhã, durante o inverno que amenizava e percebíamos a primavera que já se avizinhava, nos reunimos ali no local de costume. O sol não estava tão abrasador e  passava das nove da manhã.
                        Diferente do que acontecia amiúde, com alguns velhos amigos, que chegavam juntos, nós ao contrario, chegávamos separados e nos juntávamos ali, envoltos pela maresia prazerosa.
                         Quando pisei na areia notei que havia pouca gente ao redor. Então caminhei até perto da arrebentação onde estendi minha canga. Despi-me da camiseta e do short sentando-me em seguida. Abri a bolsa tirei o protetor solar e espalhei-o pelos braços colo, rosto e pernas.
                        Ao colocar os óculos de sol percebi a Nandinha que chegava. Ela arfava e ao ingressar na areia sentiu certo desconforto. Apesar do sobrepeso Nanda mostrava uma garra tremenda pra driblar todos os obstáculos que lhe impediam o bem viver.
                         Quando parou junto a mim ela disse:
                        - Hum... Já cedo assim, colega? Que chique!
                        Poderíamos afirmar que Nandinha não tivera lá uma infância assim tão tranqüila. Eu sabia parte da sua história e lhes asseguraria  que seus pais passaram por momentos dificílimos durante alguns governos digamos, “linha dura”.
                        - E ai, chegou bem, na paz? – perguntei-lhe indicando o local ao meu lado, onde poderia estender sua canga.
                        Nandinha então se despiu mostrando o corpo forte. Ela com certeza teria reservas calóricas por muito tempo, sem que precisasse ingerir uma laranja que fosse.
                        Minha amiga sentou-se e depois de passar sobre a pele o protetor solar atendeu um telefonema. Eu lhe dissera que não se preocupasse com mais nada que não estivesse sob sua visão naquele momento.
                        Nandinha se lamentou:
                        - Nita eu não te falei que pegou fogo no apartamento da minha vizinha? – ao falar ela olhava-me sobre os óculos escuros que pusera para proteger-se.
                        Respondi-lhe que soube do incêndio ali no centro da cidade. Que tinha sido um corre-corre dos infernos e que os bombeiros demoraram muito pra chegar.
                        - É verdade que os donos do imóvel precisaram ser retirados de rapel? – perguntei.
                        - Nita, que desespero! Aquela fumaça que vinha assim sabe?  Angustiava a gente, que horror. E imagine que naquele momento eu só lembrava do pernil que tinha sobrado da janta. Eu queria correr pra geladeira e pegar o pernil. É na aflição que eu penso em comer, mas pode uma coisa dessas?
                        - Ai amiga, se você estivesse lá No Limite, você se daria bem. – arrisquei brincar com ela.
                        - Por que neném? – ela me olhou com um semblante de censura.
                        - Porque lá a comida é limitada. Enquanto os magricelas passariam por perrengues terríveis você não ficaria muito frágil.
                         - Ai, não sei, amiga. Preciso me livrar dessas calorias que me fazem mal. Não farão falta, entende?
                        Enquanto conversávamos César Ronha, o famoso Cezinha da Rebimboca aproximou-se. Ele cumprimentou-nos com aquele seu sorriso maroto e parando diante de nós, percebeu que Nandinha não se alegrou muito com a sua chegada.
                        - E ai, moçada, tudo bem? – perguntou César estendendo sua canga e sentando-se.
                        Nandinha respondeu com mau humor, demonstrando mais uma vez o seu desagrado. César então continuou:
                        - Vocês souberam que fui eleito síndico do meu prédio?
                        - A gente sabia que você morava lá há muito tempo. – respondeu Nandinha.
                        - Pois é. Agora estão me acusando de ter contratado cinco faxineiras, dois eletricistas, e oito vigias que teriam parentesco comigo. Mas essa turma não tem mesmo mais o que fazer. Imagine só: inventaram que eu não contei pra ninguém que tinha admitido esse pessoal. Eles reclamam que pelo regimento do condomínio, eu deveria comunicar aos demais moradores as contratações. Mas eu acho isso um absurdo. Nada a ver. E por que os meus parentes não teriam a mesma competência que qualquer outra pessoa?
                        - Mas César, qual é o critério que você usou para admitir os funcionários? Todos não teriam as mesmas chances de serem contratados? - perguntei-lhe.
                         - Nada a ver. Sempre foi assim. O outro síndico também fazia do mesmo jeito. E antes dele também, sempre fizeram dessa forma. Estão procurando chifres na cabeça de cavalo, pêlos em ovo, entende? Tá o maior bafafá. Fizeram até um jornal no qual escrevem tudo o que querem. Imagine! Eu com minha história, com o meu tempo de síndico mereço isso? Mas tá certo uma coisa dessas? Ora, vê se pode: já tem até gaiato me zoando dizendo que pedirá ao prefeito uma lei de imprensa. Isto é, no mínimo, o fim da linha.
                         - Sabe de uma coisa? Eu acho que você deve renunciar. Pare com essa gandaia. Os moradores têm tantas taxas pra pagar, impostos e mil e uma coisinhas mais. Eles estão indignados com essa sua política. – Nanda foi incisiva.
                        Ronha não gostou do que ouviu e por isso, sem dizer mais nada, e não querendo criar outra inimizade, levantou-se indo embora. Nanda então continuou:
                        - Nita essa cara teve muitos problemas na infância. Você acredita que quando tinha uns seis anos ele entrou sem ser convidado, numa casa vizinha, onde três mulheres faziam, no fogão à lenha, uma goiabada num tacho de cobre? Quando as mulheres viram que era o filho do professor, resolveram aproveitar a sua presença. Pediram pra ele pegar algumas toras de lenha  e depois o mandaram mexer, com a colher de pau, o doce que estava quase pronto. Elas saíram do lugar deixando o menino trabalhando sozinho. Quando voltaram perceberam que o serviço estava terminado. Disseram a ele que a mãe o chamava. E o camarada foi embora sem experimentar o doce que ajudara a fazer. Isso deve ter deixado seqüelas na moringa do cara, não é possível!
                        - Como é que você sabe disso? – perguntei com interesse.
                        - A prima dele me contou. E tem mais: quando ele era mais crescido, foi de bicicleta, junto com outro iniciante de marginal, a um sítio na periferia e lá, com uma espingarda de pressão, acabaram com uma raposa que vivia no oco de uma árvore. Deram tiro de chumbinho no olho da pobrezinha, vê se pode amiga!
                        - Esse sujeito é terrível. – afirmei.
                        - E tem outra: quando ele estava já bem crescido e namorava uma lacraia do trecho, ao ouvir da moça que ele não passava de um louco fracote, deu-lhe uma dentada no pescoço que a coitada se arrepia até hoje só de lembrar.
                        - Nossa, mas esse é ruim mesmo. – concluí.
                        - É terrível.
                        E ficamos assim a conversar até o momento em que, vendo o breu da noite que se achegava, resolvemos ir embora pra casa, onde eu na minha, comeria a pizza com guaraná que me aguardavam e, Nandinha na sua, tomaria a sopinha da dieta que fazia.
 
 
 Carolina Lima.
 
 
 
Vende-se o apartamento 93 do 9º andar  no Edifício Araguaia. Contém sala em L, três quartos (uma suíte), quarto para empregada, lavanderia ampla e cozinha.  Tratar pelo fone 19 3371 5937. Piracicaba SP. Brasil.
 
 
 
 
 
 
           
   

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publicado às 18:14

Os xerifes do quarteirão

por Fernando Zocca, em 16.08.09

 

           Quando um quarteirão está sob as influências malignas daquelas pessoas que se sentem os xerifes do lugar, podemos presenciar alguns frutos das suas ações: calçadas sujas, árvores podadas ou mortas, muros queimados, pixados e provocações inúmeras.
 
            Percebe-se também, nos vizinhos de boa índole, a incidência de doenças tais como a depressão, o câncer e as cardíacas.
 
            Os chamados xerifes do quarteirão, não chegam a distinguir os comportamentos dos seus contíguos. Ou seja a implicância com alguém ocorre não por ser ele (esse alguém) muito mau ou prejudicial à coletividade.
 
             A implicância nasce por diferenças de costumes. Por exemplo: se os xerifes do lugar que têm o hábito de beber, fumar e consumir drogas reunidos defronte suas casas, não forem imitados por algum desavisado que chegou ao trecho, instala-se contra ele uma verdadeira campanha expurgatória.
 
            Os xerifes podem até ter parentes frequentadores das igrejas e por isso mesmo, se não houver atenção, a boataria defenestrante pode recrudescer. Geralmente os xerifes cruéis de um lugar não crêem em Deus.
 
            Os malignos podem até freqüentar os cultos e celebrações, mas nota-se que logo reiniciam suas arengas hostis contra quem não conseguem nutrir simpatia. É uma questão de química. Os semelhantes se atraem. Ou melhor: os pássaros de penas iguais andam juntos.
 
            Portanto para que não haja tanta discórdia você deveria participar das rodas de bebedores, fumar sua maconhazinha de vez em quando e, tragar mostrando satisfação no seu rosto, a fumaça cinza daquele cigarro paraguaio que podem lhe oferecer.
 
            Então só assim, digamos “vibrando na mesma freqüência” haveria mais aceitação e menos embates entre as preferências.
 
            É conhecidíssima a noção de que “pau que nasce torto, morre torto”, ou em outros termos, que os maldosos seguem com suas maldades até o final. De que adianta você banhar o porco, preocupando-se com a sua higiene? Ele não retornaria logo para a lama?
 
            Quem poderia impedir os cães de voltarem para os seus próprios vômitos? É assim com o bêbado, com o usuário de drogas.
 
            Você pode não se preocupar em tirá-lo da imundície na qual se encontra. Mas com muita certeza, ele se preocupará em trazer você para o lado promíscuo em que se acha.
 
            Para você entender alguém, saber realmente quem ele é, basta ver o que ele faz ou diz. Pode uma árvore ruim dar bons frutos? Se o quarteirão vive sujo, as pessoas ao redor estão doentes, a conclusão sobre as influências dos xerifes no trecho podem não ser das melhores.
 
            Em alguns quarteirões a maioria da violência que se pratica é a verbal. São raras as hostilizações físicas tais como espancamentos cometidos por famílias inteiras e até apedrejamento. Quando isso ocorre você pode concluir que os agressores agem assim por não dispor de qualquer outro argumento que possa defender as posições condenáveis.
 
            Uma cidade só será próspera e feliz quando os xerifes cruéis dos quarteirões tiverem suas ações malignas, praticadas nas trevas, conhecidas pela sociedade toda. É bom relembrar que os políticos insensatos que protegem os agressores morais terão a mesma sorte que eles.
 
            Se Deus é amor, podemos concluir que os xerifes prezadores do assédio moral não conseguiram ainda chegar até Ele e, que as influências no quarteirão são mesmo feitas pelos tais adoradores das trevas.
 
 
Fernando Zocca.
 
 
 
            Vende-se um terreno de 12m x 25m no loteamento Santa Rosa. Área de 300m2.  Tratar pelo fone 19 3371 5937.  Piracicaba, São Paulo, Brasil.   

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publicado às 13:44

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