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O pé da Gogo

por Fernando Zocca, em 01.05.09

Glauco Nergam no sábado à noite na praça central de Tupinambicas das Linhas, sentado num daqueles bancos sujos, desgostoso, dizia ao atento Van Grogue: "Então eu falei para a solteirona: o que mais poderia você fazer, minha amiga, do que maldizer seus vizinhos?"
Van Grogue sabia que quando Nergam começava a falar sem interrupções, o tempo preenchido seria de no mínimo 2 horas. Por isso era aconselhável redirecionar sua linha de raciocínio, trocando rápido de assunto. Então Grogue mandou: "Quem procura acha: Sandra Gogo parente da Amélia benzedeira, cheia de curiosidade, foi xeretar num consultório médico. Presa pelas teias do destino só saiu depois de vinte anos. Acorrentada por antidepressivos, a infeliz contribuiu mensalmente com metade do seu salário, para o enriquecimento desarrazoado do excelentíssimo senhor professor doutor Asclépio. As idéias da seita maligna do pavão-louco serviram para mobilizar muitos ingênuos na fustigação da Sandra Gogo considerada por vizinhos como doente moral."
Glauco percebeu que seu facho arrefeceu. Então ele perguntou: "Sandra, que Sandra... a do lombo?" Grogue respondeu: "Sim.. a do lombo... e que lombo!" Enquanto ambos trocavam idéias, luzes, lembranças, as pessoas passavam apressadas diante deles. Alguns traziam nas mãos exemplares do jornal mais lido na região.
A cidade provinciana não produzia novidade que justificasse a presença de muitos veículos de comunicação social. Por isso o Diário de Tupinambicas das Linhas, comandado pelo poeta Zé Cílio de Morais influía soberano em todos os assuntos. Na política, quem tivesse a sorte na obtenção da simpatia do proprietário, teria meio caminho andado no conseguimento dos objetivos. Na moda, a mesma coisa. Uma verdade era certa: sem o Diário de Tupinambicas das Linhas era impossível difundir idéias, conceitos e vender produtos."
"Numa ocasião alguns adversários políticos do Zé Cílio, não encontrando outra forma de fazer frente ao seu domínio, lançaram no caminho dele a Sandra Gogo. Eles se conheceram no dia 17 de julho, um domingo." Glauco Nergam perguntou cheio de curiosidade: "Por que escolheram justamente a Sandra Gogo?" Van respondeu rápido: "Por causa dos pés dela. Zé Cílio era fetichista. Gostava de pé. "
Van continuou: "Depois do envolvimento emocional de ambos, a mulher do Zé o abandonou. Então, só naquele momento, o Diário de Tupinambicas das Linhas balançou. Quase foi a pique. A história foi registrada como o pé que quase demoliu um império jornalístico, o pé da Gogo.Rarará."
Grogue e Nergam acendiam seus respectivos cigarros, quando viram Narcíseo M. Artelo encostando o Volks branco placas MFA 1990 ao meio fio.
Narcíseo aproximou-se e falou a novidade: "Internaram o Edbar B.I. Túrico de novo." Nergam quis saber mais sobre o assunto: "Mas por que motivo?" Narcíseo respondeu categórico: "Dizem que ele é doente moral. Ele mostrou o bilau pra filha do motorneiro e depois se recusou a casar." Foi então que o Van Grogue arrematou o assunto: "Pô, mas por causa de um cacetinho tão insignificante daqueles, internaram o cara duas vezes? Deve ter havido estupro." Narcíseo, honesto respondeu: "Não houve; ele não pôs nem a cabeça do pintinho. Só mostrou pra ela. E pelo jeito ela não se constrangeu. O que ela queria era casar."
Glauco num tom professoral sentenciou: "A moral do trecho é assim mesmo. Pelo menos poderia ter fincado a vara." Narcíseo falou: "O pai da menina é fera. Ele freqüenta as sessões noturnas da seita maligna do pavão-louco. Deu no que deu, tá vendo? Arrumaram fumo pro cachimbo do cara, pensando que ele fez maldade pra ela. Eu soube que a vereadora D.Tinha Pénellas e o prefeito parente do Jarbas influíram facilitando a internação do Edbar."
Muitos consideravam Tupinambicas das Linhas um lugar onde se praticava injustiças graves. Glauco Nergam encerrando o assunto revelou: "Vejam como é a justiça imperante aqui no trecho: Pitirim Zorror com o desabamento do seu sobrado destruiu tanta gente e não lhe aconteceu nada. Por outro lado um pobre infeliz que por ter mostrado um pintinho de merda sofreu toda essa perseguição descabida. Mas pode uma coisa dessas?"


 

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publicado às 22:19

Cai entulho de 64

por Fernando Zocca, em 01.05.09

 

             O Supremo Tribunal Federal (STF) revogou ontem (30/04) a Lei de Imprensa e todas as demais restritivas do direito de manifestação do pensamento, elaboradas no período do Regime Militar imposto ao Brasil a partir de 64. 
             A decisão da mais alta corte do Poder Judiciário brasileiro significa a vitória da democracia, da sensatez, do equilíbrio, da lógica e da força do Código Penal, para a resolução de possíveis conflitos que emergiriam dos crimes de injúria, calúnia e difamação.
              O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), advogado do partido autor da ação, à saída do Tribunal, numa entrevista ao Jornal Nacional, foi enfático ao confirmar a inexistência agora, de maiores óbices à comunicação na imprensa, tanto na que conhecemos quanto na Internet.
                     “Requeiro que toda essa lei seja banida do mundo das leis, que desapareça a possibilidade de aplicar pena a jornalista sempre que houver causalidade com o direito do povo e que nós possamos ter um país onde o povo possa controlar o Estado e não onde o Estado possa controlar o povo como temos hoje”, pediu o deputado Miro em alegações finais no plenário, no último dia 1º. 
                       Sete dos onze componentes do Supremo votaram a favor da revogação da lei, tendo o ministro Carlos Aires Brito expresso, nas razões da sua decisão: “Os regimes totalitários podem conviver com o voto, jamais com a liberdade de expressão”.
                    O direito de resposta é previsto na Constituição de 1988 e, poderá ser exercido de acordo com as determinações de sentença judicial transitada em julgado.
 
 

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publicado às 02:19

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