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Van Grogue saiu do bar do Maçarico naquela noite de terça-feira e, caminhando pelas ruas de Tupinambicas das Linhas, ele pensava em achar um local que lhe pudesse servir algo amenizante da fome estranha que sentia.
Ao entrar na pizzaria O Pescador ele consultou o bolso disfarçadamente dizendo logo em seguida:
- Uma de alice.
O pizzaiolo, todo enfarinhado que rodava, no dedo, a massa fina circular sobre a cabeça, apontou com o queixo a mesa em que Grogue deveria sentar-se.
Van acomodou-se. Tentando controlar a sensação de mal-estar que lhe causava aquela situação nova, ele buscou olhar para cima, para os lados e para baixo, enquanto tamborilava na mesa.
Ao dirigir o olhar para um dos cantos da pizzaria, ele viu um rato graúdo que, saindo rapidamente do banheiro, esgueirou-se pelo rodapé, enfiando-se debaixo do tablado, sobre o qual trabalhava o pizzaiolo.
A rapidez com que o bicho passou não impediu que Grogue se lembrasse daquela pelagem suja, do rabo comprido nu e dos guinchos que o tal emitia.
Um conflito terrível instalou-se no pobre Grogue: a fome ou o nojo, a atração ou a repulsão, prevaleceriam no seu espírito, naquele momento decisivo?
Van sentiu uma dor forte no ombro direito. Ao massagear a região ele pensava se valeria a pena ou não degustar, naquele instante, a pizza de alice.
A lembrança da ratazana suja e dos males que ela poderia causar, não só aos clientes, mas a toda pizzaria, provocou-lhe a sensação de medo e asco. Um sofrimento indescritível apoderou-se dele. Grogue padecia, e muito.
Talvez fosse melhor deixar, para outra oportunidade, a apreciação do acepipe.
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