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Ao entardecer da terça-feira, Van de Oliveira Grogue caminhava lentamente pela caçada esburacada, do seu quarteirão, com destino ao bar do Maçarico.
Durante o trajeto, ele olhava com o máximo de atenção para o calçamento, evitando pisar nos montículos de cocô, torcer os pés nos buracos, ou dar topadas violentas nos obstáculos. Van ansiava pela chegada.
Entrando no boteco ele percebeu que os frequentadores usuais ainda não estavam presentes. Mas havia um sujeito magro, alto, de cabelos já brancos que, com o braço esquerdo apoiado sobre o balcão, bebia cerveja,
Grogue viu, quando o tal levou o copo aos lábios, que o matuto tinha a unha do polegar direito bastante crescida. Era lixada de modo a deixá-la semelhante a uma lâmina perfuro-cortante.
Quando notou a presença do Van, Maçarico postou, sobre o balcão, uma garrafa de cerveja geladíssima, abrindo-a em seguida.
Os homens trocaram olhares e se cumprimentaram de forma usual, timidamente, com a voz baixa. Depois dos primeiros trinta segundos, Van procurando tornar o ambiente mais descontraído e cordial iniciou a conversação:
- Mas, veja que o clima está bem gostoso, né? Não está tão quente e nem muito frio.
- Tá uma porcaria. Esse ar deixa qualquer um doente. Minha mãe já pegou três resfriados só neste mês. – respondeu o forasteiro usando certo ímpeto na voz.
- Ah, mas resfriado é fácil de tratar. Tem tanto remédio bom agora, tantas vitaminas; isso não é preocupação.
- Mas também com esses preços. E depois tem mais, viu? Já pensou se você compra remédio falsificado? Você está morto.
Não querendo entrar em detalhes e nem fazer do local um lugar de contendas, Van buscou trocar de assunto, então mandou:
- E o esporte clube 7,5 de Novembro? Ganhou outra partida no domingo passado. Você viu Maçarico?
- Esse time está jogando mal pra caramba. Se não fosse o juiz ele teria perdido de novo. – avançou o forasteiro.
- Mas o goleiro jogou bem pra caramba! É ou não é pessoal? – lançou Grogue ingerindo um gole da bebida.
- Goleiro bom era o Ramirinho. Aquele sim não pegava nem frango e nem peru. Você lembra Maçarico? – indagou o desconhecido, sentindo-se bem à vontade, como se fosse da casa, há muito tempo.
Grogue e Maçarico trocaram olhares de dúvida. Então o dono do estabelecimento tentou:
- O time está bem entrosado agora. Se der tudo certo pode fazer bonito no ano que vem, durante o campeonato estadual.
- Ah, mas com essa diretoria? Só tem ladrão! Se não fossem esses ratos o time tinha até sede própria e tudo. – garantiu o magricelo encarquilhado.
- É meu amigo, mas a zaga bate um bolão. Você não pode discordar. – tentou Grogue.
- O quê? Aquele número dois? Como é mesmo o nome dele? – zombou o matuto ajeitando os chinelos de borracha nos pés.
- Mas ele rouba as bolas, muito bem. – garantiu Maçarico percebendo o olhar de aprovação do Van Grogue.
- Só bolas? O cara é o maior ladrão de varal da cidade. Já foi até condenado pela justiça. Zagueiro bom tinha no meu tempo de moço.
Tendo bebido toda a cerveja e tirando do bolso uma nota amassada de R$10, o homem jogou-a sobre o balcão, esperando o troco.
- Pô! Mas já vai? – inquiriu Grogue. - Com esse clima ruim, não dá nem pra tomar uma birra gelada sossegado, não é verdade?
- Ruim? Que Ruim? Agora o tempo está ótimo. Mas eu me vou porque ainda tenho de trabalhar. Tchau, um grande abraço pra vocês.
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