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A garoupa e o escorpião

por Fernando Zocca, em 30.03.20

 

 

cem reais.jpg

 

Um lindo exemplar de peixe, aliás, uma formosa garoupa, movia-se lentamente beirando a margem esquerda do rio, naquele belo anoitecer de sexta-feira.

Ela vinha pensando na filha que, contrariando todos os seus ensinamentos, resolvera morar, sem as formalidades do noivado e casamento, com aquele cascudo irresponsável que vivia folgadamente com os beiços abertos, guelras ativas e as nadadeiras inquietas, dentro duma imensa caverna de rocha da cachoeira da cidade.

- Eu falei para aquela menina tomar cuidado com tal namorado. Primeiro porque ela era ainda muito nova pra manter um relacionamento afetivo e segundo que eu não estava com idade legal pra ser vovó - dizia em voz baixa, soltando bolhas de ar na água, a garoupa passeadora.

- Eu sabia que você estaria aqui nesta hora por isso não pude deixar de vir - falou o escorpião idoso quando ela, nadando suavemente, aproximou-se despercebida.

 - Ai que susto, escorpião! - respondeu a garoupinha - Não era para você estar na reunião a essa hora?

- Sim a essa hora era pra eu estar presidindo o encontro dos filantropos. Mas para mim, por enquanto, está muito difícil permanecer. Eles dizem, insistem, que foi por eu ter indicado você pra presidir o conselho particular do cardume, que as finanças do caixa arruinaram-se todas - afirmou com segurança o escorpião.

- Ah, vá! Imagina se 100 ou 200, iscas, depois das colheitas fartas, fariam falta pra aquele aquário enorme. Fiz até um bazar de roupas usadas pra promover a entidade.

- É, mas o pessoal desconfiou de você e como não podia deixar de ser, veio me cobrar.

- Ah, para com isso escorpião! Nao há provas que eu meti as nadadeiras naquelas iscas.

-Sim, mas o zunzunzum é forte.

- Escorpião pode parar. Se você continuar com esse assunto nado até a outra margem e te deixo sozinho.

- Esta bem. Vamos mudar de assunto. E o gato? Dizem que ele te come, é verdade?

- O gato vereador? Imagina só gente! O gato me comendo! Essa é boa.

- O comentário geral lá no aquário é de que você perdeu parte do seu rabo nos rolos com ele. É verdade?

- Claro que não - indignou-se a garoupa formosa - Por causa da minha posição de liderança - presidência do cardume no aquário - ele se aproximou de mim. Mas ele só me lambia. Comer, ele não comia não.

- Olha, peixe, estou disposto a esquecer todo aquele assunto das iscas desviadas. Posso até defender você nas reuniões. Se for legalzinha comigo, entende? Posso dizer que as iscas eram pros pobres e que você, também sendo pobre, não fez nada mais do que adiantar sua parte. Que tal?

- Escorpião, você só pode estar ficando louco. Sua cabeça deve estar cheia de fumaça de óleo diesel.

- Exatamente. Estou louco de amor por você, minha peixuda!

- Mas você é casado criatura venenosa! Onde já se viu isso?

- Minha mulher não quer saber mais de mim. Vem minha beiçudinha escamosa; vem que o papai quer te beijar.

- Mas você garante o suprimento de iscas e de tudo o que eu e minha peixota precisarmos?

- Naturalmente, minha garoupa querida. Vem com o vovô, vem!

Enquanto pensava "esse escorpião velho, pai de um monte de escorpiõezinhos, que parecia ter a respeitabilidade de um professor ou diretor de escola aquarial estadual, não passa de um cafajeste comum" - apareceu de repente ao lado de ambos, falando fino, igual a uma fêmea, um imenso e tamanduá rabudo.

- O que é isso tamanduá? Como é que você chega assim, de repente?

- Desculpa gente. Eu não queria “cortar o barato” de vocês. Mas é que eu estou procurando formigas. Sou candidato a reeleição e vim pedir votos. Onde estão as formigas?

O escorpião e a garoupa entreolharam-se.

- Lá vem você de novo com essa história de eleição? Não tem vergonha na cara não, ô tamanduá? – indignou-se a garoupa.

Sem dar qualquer atenção ao pedinte costumeiro o casal iniciou movimento afastando-se.

- E se começarem a falar da gente? – perguntou a peixe sentindo esperança e medo.

- Ah, daí a gente publica um monte de fotos suas ao lado de um pescador qualquer pra baratinar. Morou?

Com a pinça e a nadadeira entrelaçadas a garoupa e o escorpião saíram em direção ao aconchego da toca, defronte ao velho rancho de pescarias.

 

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publicado às 17:08

Fazendo Pirraça

por Fernando Zocca, em 14.05.11

Foto: bagre bandeira

 

 

                                              O cabeça de bagre ordinário é bem chegado numa pirraça. Basta ele descobrir o que você mais detesta pra logo providenciar o reforço no acinte.


                    Esse tipo de baiacu do brejo é geralmente limitado no vocabulário, e é por isso que a excrecência vale-se das estereotipias.


                    O sentimento de inferioridade que o controla, leva-o a referir-se ao outro de forma depreciativa. É bem comum notar nele o desejo de que aquele “modelo” que lhe provoca a sensação de pequenez fique logo louco.


                    É a compensação para a nulidade que o compõe. “Como vou dizer pra essa minha turma que eu sou um bosta, que não sei nada, que nunca tenho razão”?


                    Só mesmo o enlouquecimento, o cometimento de crimes e a total degradação moral do “exemplo” que o minimiza, podem mantê-lo com o moral elevado e o controle da quadrilha.


                    Essa mentalidade de baiacu não é rara. Veja como anda o ensino público; perceba o que aprendem as crianças nas escolas municipais e estaduais.


                    O fracasso na transmissão do conhecimento é o lodo onde vivem esses bagres, baiacus, aproveitadores e fazedores da desgraça.


                    Pode um analfabeto tirar carteira de habilitação? Tenha o meu amigo e prezado leitor a certeza de que é possível ao analfabeto possuir a carteira de habilitação.


                    E olha que, além disso, não é incomum esse tipo de escamoso dirigir alcoolizado. Pirraça é fogo.


 

Vídeo:

Cuidado com o tubarão.

É um peixe assassino.


 

A.L. R.doT. 310.

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publicado às 17:59


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