Elza caminhava distraída pelas ruas centrais da cidade, naquela manhã de terça-feira, carregando duas sacolas. Ela acabara de comprar alguns medicamentos na farmácia e, pudera passar numa loja, onde adquiriu um sutiã amarelo.
Ela tinha os cabelos louros presos atrás e, aqueles óculos de sol davam-lhe sempre mais destaque ao rosto bonito. Quando atravessou a rua, que a separava do seu carro, ela viu de longe, aquela figura que se destacava na multidão.
Elza reconheceu logo: era Charles o companheiro que a fizera feliz, durante um período da vida em que ela, ainda adolescente muito rebelde e inconformada, estivera bastante confusa.
Com um aceno, que chamou a atenção do moço, Elza fez com que ele caminhasse para si. Eles se encontraram no meio da rua, envoltos numa intensa e incontida euforia.
- Nossa, há quanto tempo. – disse ela beijando-lhe o rosto.
- Verdade! – respondeu ele, convidando-a, com um leve puxão no braço, a irem para a calçada.
- Você está muito bem. Por onde tem andado? – Elza tirara os óculos escuros para vê-lo melhor.
- Estou em São Paulo. Tenho um outro contrato que firmei agora mesmo. E você? – perguntou ele.
- Naquela de sempre. Estou trabalhando muito. Ando super estressada. Mas mantenho o controle. – um clima de nostalgia desceu sobre a jovem. Ela então começou a falar reportando-se aos acontecimentos passados, comuns a ambos. Num dado momento ela disse:
- Você se lembra quando nos encontramos naquela noite e o pessoal todo, que estava conosco, foi se dispersando? Nós ficamos a sós. Eu estava muito sentida com o que vinha me acontecendo e você foi tão carinhoso. Lembra?
- É você estava bastante revoltada, triste, meio deprimida até, e quando ficamos juntos, eu... acendi aquele “baseado” e parece que, naquele momento, nos deu um clima, sei lá. Relaxamos; você já tranqüila se aninhou nos meus braços e... foi bom para nós dois. Não é verdade?
- Eu nunca mais vou esquecer. Foi a minha primeira vez, com amor. Você com seu carinho e palavras amáveis, me recolocou no rumo certo. Eu estava a ponto de cair mesmo na gandaia; chutar o balde, mandar tudo pro inferno. Mas e daí? Está casado agora?
- Estou sim. E você não vai acreditar: vem chegando o meu terceiro filho.
- Verdade? – a surpresa expressa por Elza era sincera. – Você sabe, sou tua fã eternamente. Você vive para sempre no meu coração.
- Você é um amor Elza. Mas me deixa ir rapidinho que se não, levo outra bronca daquelas. E olha que é por escrito. Não dá pra brincar.
Eles se despediram e a moça, ao entrar no carro, lamentou ter a vida, daquele que foi seu grande ídolo, descambado para alguns acontecimentos muito cruéis e bastante perigosos.
Fernando Zocca.